O consumo de tabaco induz dependência física e psíquica na maioria dos consumidores, afeta todo o organismo humano e é a primeira causa de morbilidade e mortalidade evitáveis, os fumadores apresentam piores indicadores de saúde, do que os não fumadores e uma esperança de vida menor, em média dez anos.
Estima-se que cerca metade dos fumadores regulares morre em resultado do consumo de tabaco, 1 em cada 4 entre os 25 e os 59 anos de idade.
Quanto mais cedo cessa de fumar, maiores serão os benefícios e a consequente recuperação em anos de vida. O ato de acender um cigarro está relacionado com situações do dia a dia como comer ou beber café. A ausência de nicotina provoca ansiedade, irritabilidade, nervosismo, cefaleias, insónias, dificuldade de concentração e desejo imperioso de fumar.
A maioria dos fumadores gostariam de deixar de fumar e tentam a cessação tabágica entre seis e nove vezes durante a sua vida, o que corresponde a cerca de 80%. Sem ajuda, os que estão sem fumar ao fim de um ano não ultrapassam os 7% e com ajuda médica este valor passa para 25% a 35%. Os fatores fundamentais para a cessação tabágica são três: motivação do fumador, aconselhamento e utilização de fármacos.
Para deixar a dependência contamos com a motivação e a mudança de hábitos do fumador, pedimos-lhe que marque uma data para parar de fumar, partilhando a decisão com a família e amigos e que prepare esse dia. Pedimos ainda que mude alguns comportamentos, fazer exercício, dieta mais saudável, menos sal e gordura, menos álcool e mais água. As taxas de sucesso a longo prazo são mais elevadas com farmacoterapia e apoio psicológico. O recurso a terapêutica farmacológica duplica as possibilidades de sucesso.
A intervenção de apoio intensivo deve ser oferecida aos fumadores que encaram seriamente a possibilidade de deixar de fumar nos próximos 30 dias, aos que fumam o primeiro cigarro até 30 minutos depois de acordar, aos que fumam mais de 20 cigarros por dia, aos fumadores com recaídas ou que apresentam síndroma de privação intenso. Igualmente devem ser encaminhados para as consultas de cessação tabágica os fumadores com patologias relacionadas com o tabaco como a DPOC, cancro e doença cardiovascular, fumadores com outros comportamentos aditivos e fumadoras grávidas.
O êxito na cessação tabágica é maior nos homens, nas pessoas com nível de escolaridade mais elevada e nos que conseguiram parar em tentativas anteriores prolongadas.
São fatores de pior prognóstico a elevada dependência ao tabaco, fumadores deprimidos ou que integrem famílias de grandes fumadores.
A farmacoterapia para a dependência da nicotina tem como objetivos diminuir os sintomas de privação, permitindo aprender a viver sem fumar e fornecer os efeitos que o fumador retirava do tabaco: concentração, temperamento menos irritável, controlo do peso, etc.
Os fármacos de primeira linha são os substitutos da nicotina, como a vareniclina, um composto não nicotínico que reduz os sintomas de desejo intenso de fumar e de abstinência ao mesmo tempo que reduz a recompensa dos efeitos do consumo de tabaco. O estudo EAGLE publicado em 2016 e envolvendo mais de 8000 fumadores, mostrou dados muito interessantes: a vareniclina revelou-se mais eficaz que o placebo. Não houve aumento significativo de efeitos secundários atribuíveis à vareniclina relativamente aos substitutos da nicotina e ao placebo.
A recaída faz parte do processo terapêutico de cessação tabágica e é frequente, deve ser prevenida, identificando situações de alto risco, treinando a abordagem para lidar com as mesmas.
Recomenda-se ainda que o combate ao consumo de tabaco deve começar nas escolas, nas nossas crianças evitando o início do consumo e é tarefa de todos os profissionais de saúde abordar o consumo de tabaco nos nossos utentes e, nos fumadores, propor estratégias que permitam parar o consumo.
Um artigo do médico Rui Alves, especialista em Medicina Geral e Familiar.
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