O nome da doença deriva do “takotsubo”, um utensílio de barro utilizado na pesca artesanal pelos japoneses e a sua semelhança com as alterações descritas do músculo cardíaco na fase aguda da doença.

A patologia também é designada por miocardiopatia de stress ou síndrome do coração partido devido à associação que tem sido feita com o stress emocional ou físico que lhe é inerente.

Causa desconhecida

A causa exata é desconhecida, mas os potenciais fatores desencadeantes incluem a libertação súbita de catecolaminas e hiperatividade do sistema adrenérgico na sequência de um choque emocional ou físico muito intenso.

Estão descritas na literatura médica múltiplos fatores possíveis de desencadear a doença: notícia de uma morte inesperada; a notícia do diagnóstico de uma doença grave; após violência doméstica; perda súbita e inesperada de grande quantidade de dinheiro; ganho ou perda na jogos de azar; discussão intensa com alguém; festa surpresa; notícia da perda do emprego; acidente de viação; após trauma cirúrgico; quadro infecciosos grave; acidente vascular cerebral.

A deficiência de estrogénios tem sido referida como possível fator implicado na patogénese deste distúrbio devido à prevalência elevada desta doença nas mulheres na fase pós menopausa. Cerca de 90% dos casos ocorrem no sexo feminino e a média de idade dos pacientes é de 60 anos, embora o espectro clínico possa abranger todas as idades incluindo idade pediátrica (vários case report publicados).

Sintomas

A forma clínica de apresentação desta doença é similar à de um evento coronário, ou seja, na prática clínica os doentes são internados com o rótulo de síndrome coronário agudo (angina instável; enfarte agudo do miocárdio). A grande maioria tem como sintomas de apresentação a dor precordeal com irradiação mandibular ou membro superior esquerdo acompanhado por sudorese e náuseas. Esta sintomatologia é acompanhada por alterações do eletrocardiograma e alterações das análises sanguíneas - subida dos biomarcadores de destruição do músculo cardíaco (contudo numa magnitude inferior quando comparado com o enfarte do miocárdio).

O dado clínico mais importante e de certa forma diferenciador desta doença é a reversibilidade das alterações do músculo cardíaco que ocorrem na fase inicial da doença e que após algumas horas, ou dias, recuperam na íntegra toda a plenitude da sua função. Outro fator determinante para o diagnóstico desta entidade clínica é a ausência de obstruções coronárias significativas quando os doentes são estratificados de forma invasiva e submetidos a uma angiografia coronária.

Prognóstico

Embora a prognóstico desta doença seja controverso, parece que a mortalidade pode ocorrer numa fase inicial da doença sobretudo à custa da falência do músculo cardíaco (choque cardiogénico) e à ocorrência de arritmias malignas particularmente quando ocorrem em ambiente não hospitalar.

Não existe um tratamento específico para esta doença. Na grande maioria o tratamento é de suporte. O tratamento desta doença assenta na utilização de fármacos que bloqueiam os receptores B onde atuam a adrenalina e noradrenalina características da doença (beta bloqueantes) pela convicção do possível benefício do bloqueio desta ativação deletéria.

Outros fármacos usados são os mesmos utilizados no tratamento da insuficiência cardíaca, com destaque para os diuréticos e os inibidores da ECA. A taxa de mortalidade da síndrome do coração partido parece ser baixa e inferior a 5%. Na maioria dos casos, a síndrome do coração partido é um evento único na vida do doente, com pouca probabilidade de recorrência.

Um artigo de Pedro Bico, médico cardiologista na Clínica Europa.