HealthNews (HN)- Os sintomas do cancro do ovário são muito inespecíficos. Quais os sinais para os quais as mulheres devem estar atentas?
Mónica Nave (MN)- Antes de avançar com os sintomas, penso que é importante falar sobre a doença. O cancro do ovário não é muito frequente. O risco de uma mulher vir a desenvolver este tipo de doença é cerca de 1%. Ainda assim, é responsável por uma elevada taxa de mortalidade. Isso, sim, deve-se, por um lado, ao facto de não existir uma forma eficaz de fazer o rastreio da doença. Por outro lado, quando os sintomas aparecem é porque a doença já está muito avançada.
Relativamente aos sintomas, estes passam por: dor abdominal, aumento do volume da barriga, desconforto na região pélvica, alterações do trânsito intestinal, enfartamento e perda de peso.
HN- E no caso dos médicos, quais os sinais que devem alertar a suspeita do diagnóstico?
MN- Se uma mulher, que já tem alguma idade, apresenta queixas arrastadas como as que mencionei é importante que o médico suspeite da doença. Mas é importante frisar que a duração das queixas é determinante… Não vou investigar uma mulher que diz que está há uma semana com uma dor abdominal, mas se eu tiver uma mulher que há três semanas ou um mês apresenta estas queixas, nesse caso tenho a obrigação de investigar para poder obter um diagnóstico e avançar com o tratamento.
HN- Quais são as faixas etárias mais afetadas?
MN- Habitualmente em mulheres na pós-menopausa, com 60 e 70 anos. De qualquer modo, esta doença pode afetar mulheres mais jovens.
HN- Quais os principais fatores de risco da doença?
MN- É uma doença que aumenta com a idade, mas também podemos ter diagnósticos em mulheres muito jovens, sobretudo, quando são portadoras de mutação genética hereditária. Portanto, é preciso que os médicos assistentes sejam informados sobre casos na família de cancro do ovário ou cancro da mama. Estas mulheres devem de procurar um estudo genético.
HN- Quais são os principais desafios que estas mulheres enfrentam?
MN- Infelizmente é não conseguirmos identificar precocemente a doença. Não termos nenhum exame de rastreio que se tenha mostrado eficaz nesta doença é o principal desafio.
Por outro lado, nas mulheres que são diagnosticadas em idade avançada o prognóstico de sobrevivência ainda é muito mau. Apesar de ter existido muita evolução a nível das terapêuticas, um grande número de doentes ainda não tem tratamentos suficientemente eficazes para melhorar o prognóstico.
HN- Que medidas considera que deveriam ser implementadas?
MN- Temos de continuar a investigação científica, quer do ponto de vista de biologia molecular, quer do ponto de vista de investigação clínica. Só vamos conseguir melhorar os tratamento se aumentarmos o nosso conhecimento sobre o cancro do ovário.
HN- Em Portugal foram diagnosticados 682 novos casos de cancro do ovário em 2022, qual a leitura que faz destes dados?
MN- Vejo com muita preocupação porque a maior parte das mulheres são diagnosticadas em estadio avançado. Os dados mostram que temos um longo trabalho pela frente.
HN- Hoje celebra-se do Dia Mundial do Cancro do Ovário, qual a mensagem que gostaria de deixar?
MN- É uma mensagem de esperança. Os profissionais de saúde e os investigadores estão a caminhar no mesmo sentido. De qualquer forma, não posso deixar de mencionar que é muito importante que se reporte aos médicos assistentes as histórias familiares de doença oncológica, nomeadamente cancro da mama e cancro do ovário.
Entrevista de Vaishaly Camões
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