A Organização Mundial de Saúde declarou, no passado dia 14 de agosto, que o novo surto de Mpox representa uma emergência internacional de saúde pública. A segunda vez em dois anos que esta declaração acontece. É necessário mobilizar recursos de forma a dar resposta a este problema que tem o potencial, tal como o tipo II do vírus, de se tornar global.
O esforço para controlar este surto é de todos. Quando um problema de saúde é global, a solução só pode ser igualmente global. O anúncio de doações de vacinas por parte de países europeus é positivo, mas a quantidade prometida é insuficiente para controlar, quanto mais resolver, esta emergência.
A história tem mostrado as duras consequências da inação, da desigualdade no acesso a vacinas e testes, ou da caridade performativa. Durante o HIV, Ébola ou mais recentemente, durante a pandemia Covid-19, a ajuda e solidariedade dos países mais ricos chegou tarde, e de forma insuficiente para as reais necessidades.
O açambarcamento e o nacionalismo de vacinas prejudicam todos. Esta prática apenas concede oportunidades de transmissão e evolução aos agentes microbiológicos, piora os indicadores de saúde das populações atingidas, e cria um clima de desconfiança pouco propicio à cooperação internacional.
A diplomacia da saúde, baseada em solidariedade, é uma poderosa ferramenta que cria laços de cooperação entre estados. Problemas como as alterações climáticas, conflitos e guerras, ou insegurança alimentar, só podem ser resolvidos à escala mundial. A saúde pode ser um primeiro passo para aproximar e criar relações de confiança entre vários países.
A OMS estima que África necessita de dez milhões de vacinas contra a Mpox para controlar este surto. As doações anunciadas até ao momento perfazem cerca de 4 milhões, a grande maioria das quais, proveniente do Japão. Podemos fazer bem melhor!
É necessário não só doar, como criar as condições necessárias para que vacinas e testes possam ser produzidos localmente. A União Africana e o CDC Africano juntaram-se e elegeram como um dos seus principais objetivos dotar o continente de capacidade de produção correspondente a 60% das necessidades. Atingir esta marca é importante não só para as pessoas que residem no continente. Representará menos pressão nas restantes cadeias de abastecimento e, bem mais importante, um continente mais saudável e próspero.
Não devemos cometer os mesmos erros de sempre. A saúde global precisa de investimento de todos, pois os frutos são igualmente recolhidos por todos. Temos a obrigação de trabalhar com mais solidariedade e menos competição, para tornar o nosso planeta mais saudável.
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