A Europa tornou-se o epicentro da batalha contra o vírus, com o encerramento de fronteiras e milhões de pessoas retidas em casa. Ao mesmo tempo, aumenta a preocupação com os países em desenvolvimento com sistemas de saúde frágeis. Países em África e Ásia restringiram os deslocamentos, ordenaram quarentenas e fecharam escolas.
Mas uma das práticas individuais mais fundamentais para a proteção da COVID-19, lavar as mãos, é inacessível para boa parte da população mundial.
A Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) calcula que 40% da população mundial, ou seja três mil milhões de pessoas, carece de meios para lavar as mãos em casa por falta de acesso fácil a água potável, por não ter condições de comprar sabão ou simplesmente pela falta de consciência da importância desta prática.
"Inclusive entre os profissionais da área de saúde nem sempre se compreende a importância de lavar as mãos", afirma Sam Godfrey, diretor da Unicef para água e medidas sanitárias no leste e sul da África.
"É quase como uma doença de ricos para a África, que certamente acabará afetando sobretudo os pobres", destaca Godfrey, recordando que os primeiros contágios foram importados de viagens internacionais.
As populações que lotam os subúrbios e os campos de refugiados na região do Sudeste Africano estão especialmente expostas porque podem estar desnutridas ou ter problemas de saúde, além das condições de saneamento insuficientes.
Na África subsaariana, 63% da população de áreas urbanas – 258 milhões de pessoas – não pode lavar as mãos, segundo os dados do Unicef. Na Ásia Central e do Sul, este dado alcança 22%, ou seja, 153 milhões de pessoas.
Mas no subúrbio de Mathare, em Nairóbi, capital do Quénia, os moradores minimizam os riscos.
"Viu alguém no hospital sair deste subúrbio? Esta é uma doença de ricos", declarou à AFP Ishmail Ayegah, que é mecânico de bicicletas.
"Muito preocupados"
"À medida que o vírus avança para os países subdesenvolvidos, preocupamo-nos muito com o impacto que pode ter entre as populações com uma prevalência alta de HIV ou entre as crianças desnutridas", afirmou esta semana o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus.
"Ainda não vimos o que o COVID-19 provocará em algumas regiões da Ásia – Indonésia, Índia – e África", disse à AFP a diretora do Instituto Peter Doherty de Infecções e Imunidade de Melbourne, destacando as "diferenças incríveis" entre os sistemas de saúde.
Enquanto na Europa as autoridades tentam obter mais aparelhos respiratórios para os hospitais, em África teme-se a falta de sabão.
A Unicef está a distribuir sabão a um milhão de pessoas, mas Godfrey disse que a importação representa um desafio em alguns países, devido às restrições de produtos procedentes da China e da Índia.
O sabão continua a ser a melhor maneira de lutar contra os vírus, pois esta "fantástica" substância separa o vírus da pele, afirma Evariste Kouassi-Komlan, diretor regional do Unicef para água, medidas sanitárias e higiene.
No caso do coronavírus, inclusive pode separar o próprio vírus.
O álcool gel também pode ser utilizado contra o coronavírus, mas não funciona contra todos os patógenos.
"O aperto de mãos do ébola virou o do do coronavírus"
Godfrey indicou que a experiência e as lições aprendidas com as epidemias do ébola e cólera podem ser úteis nas regiões africadas atingidas.
Na República Democrática do Congo, por exemplo, o ébola fez com que as pessoas parassem de apertar as mãos e adotassem um cumprimento com os cotovelos.
Os especialistas também esperam que a pandemia leve os governos africanos a reforçar a mensagem de que lavar as mãos e reforçar as medidas de saúde salva vidas.
No Quénia, a hashtag #SanitizersForSlums (desinfetantes para os subúrbios) ganhou destaque no Twitter. Mas nem todos estão convencidos. "Desinfetantes para quê? Não morremos por não utilizá-los, não precisamos", afirma Scholarstica Atieno, um pescador do subúrbio de Mathare.
Em Portugal, o número de mortos subiu hoje para três, com 785 casos confirmados, segundo a Direção-geral da Saúde.
A Assembleia da República aprovou ontem o decreto de declaração do estado de emergência que lhe foi submetido pelo Presidente da República com o objetivo de combater a pandemia de Covid-19, após a proposta ter recebido pareceres favoráveis do Conselho de Estado e do Governo.
Portugal está em estado de alerta desde sexta-feira, e o Governo colocou os meios de proteção civil e as forças e serviços de segurança em prontidão.
Entre as medidas para conter a pandemia, o Governo suspendeu as atividades letivas presenciais em todas as escolas desde segunda-feira e impôs restrições em estabelecimentos comerciais e transportes, entre outras.
O Governo também anunciou o controlo de fronteiras terrestres com Espanha, passando a existir nove pontos de passagem e exclusivamente destinados para transporte de mercadorias e trabalhadores que tenham de se deslocar por razões profissionais.
O Governo declarou na terça-feira o estado de calamidade pública para o concelho de Ovar.
Acompanhe aqui, ao minuto, todas as informações sobre o novo coronavírus em Portugal e no mundo.
Comentários