Numa reunião na Assembleia-Geral das Nações Unidas com o objetivo de adotar medidas face às inundações sem precedentes no Paquistão, António Guterres indicou que o país “está à beira de um desastre de saúde pública” e que o povo paquistanês está a ser vítima de injustiça climática.
“O Paquistão é responsável por menos de 1% das emissões globais de gases de efeito estufa, mas está a pagar um preço sobredimensionado pelas mudanças climáticas provocadas pelo homem. Há um mês, viajei para lá e vi um nível de devastação climática além do imaginável: as águas da enchente cobriam uma massa de terra três vezes superior à área total do meu próprio país, Portugal”, relatou.
O líder das Nações Unidas explicou que, embora as chuvas possam ter cessado e os níveis das águas estejam a começar a baixar, muitas áreas no sul do Paquistão continuam inundadas.
“E à medida que o inverno se aproxima no Paquistão, nuvens ainda mais escuras aparecem. A situação vai de mal a pior. O Paquistão está à beira de um desastre de saúde pública. O risco de um surto de cólera, malária e dengue ameaça ceifar muito mais vidas do que as inundações. Quase 1.500 instalações de saúde foram devastadas, dificultando muito a capacidade de detetar e responder a surtos”, frisou.
Cerca de 33 milhões de vidas foram afetadas, 6,4 milhões de pessoas precisam urgentemente de assistência humanitária e mais de dois milhões de casas foram danificadas ou destruídas pelas inundações, situação que colocou milhões de famílias sem abrigo num momento em que o inverno se aproxima, segundo dados da ONU.
Ao mesmo tempo, a escala de destruição de plantações e do gado está a criar uma crise alimentar e a colocar em risco as próximas sementeiras.
“A fome severa está a aumentar. A desnutrição entre crianças e mulheres grávidas lactantes está a aumentar. O número de crianças fora da escola está a crescer. (…) Mais de 15 milhões de pessoas podem ser empurradas para a pobreza”, alertou o ex-primeiro-ministro português.
Guterres afirmou então que “enormes necessidades requerem enorme apoio”, anunciando que está a trabalhar com o Governo do Paquistão para convocar uma Conferência de Doadores, visando reunir apoio concreto para os esforços de reconstrução.
“Exorto os países doadores, instituições financeiras internacionais e organizações internacionais relevantes, juntamente com o setor privado e a sociedade civil, a apoiar plenamente esses esforços”, apelou.
Nesse sentido, Guterres indicou que o Plano de Resposta às Inundações do Paquistão da ONU foi revisto, sendo que o apelo por fundos passou dos 656 milhões de dólares iniciais (671,5 milhões de euros) para 816 milhões de dólares, para responder às necessidades mais urgentes até maio próximo.
“A questão central continua a ser a crise climática. (…) Hoje é o Paquistão. Amanhã, pode ser o seu país e as suas comunidades. O caos climático está a bater na porta de todos, agora”, alertou Guterres, dirigindo-se aos 193 Estados-membros da ONU.
Também o presidente da Assembleia-Geral da ONU, Csaba Korosi, apelou por mais ajuda para o povo paquistanês, afirmando que este é um “teste decisivo de solidariedade na sequência de uma imensa catástrofe que atingiu um dos Estados-Membros” da ONU.
“Esta é uma tragédia de proporções épicas. Sem intervenções imediatas, as suas consequências irão levar-nos a um caminho de emergência permanente”, disse o diplomata húngaro.
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