A deterioração do SNS e o encerramento de serviços de urgência de obstetrícia por todo o país nos últimos dias são, para PCP e BE, um problema crónico no país e as medidas para o resolver não passam de placebos.
Numa declaração política, no plenário da Assembleia da República, o comunista João Dias defendeu que, face à “tamanha carência” de especialistas em ginecologia e obstetrícia, a solução encontrada pelo executivo foi a “contratação de médicos externos, contratados a empresas de prestação de serviços”.
“Ou então recorrem insistentemente a horas extraordinárias, ou à sobrecarga de trabalho dos profissionais de saúde”, acrescentou o deputado do PCP.
João Dias apontou o dedo ao PS por ser “cúmplice da estratégia reacionária de direita” de “destruir” o Serviço Nacional de Saúde e “entregar nas mãos dos privados” aquilo a que chamou o “negócio da doença”.
O liberal Carlos Guimarães Pinto pediu a palavra para acusar os comunistas de serem “mais responsáveis pelo atual estado do SNS” do que qualquer partido da direita, por causa do apoio parlamentar que deram a um Governo minoritário do PS durante seis anos.
Na mesma linha, Filipe Melo, do Chega, disse que PCP “amparou e levou ao colo” os primeiros dois governos de António Costa através da chamada “geringonça”: “Deixe-me que lhe diga que a vossa ladainha começa a ficar gasta”.
O deputado da extrema-direita perguntou qual a justificação do PCP dava para ter defendido o fim da Parceria Público-Privada (PPP) no Hospital de Braga, que “esteve no top três dos hospitais europeus” enquanto funcionava naquele regime, mas agora enfrenta dificuldades em manter o serviço de urgência de obstetrícia a funcionar.
Numa resposta breve, João Dias dirigiu-se ao deputado do Chega dizendo apenas que “as PPP não servem” e que na altura em que o Hospital de Braga estava no “top três” encaminhava doentes para o Hospital de São João, no Porto.
Sem destoar das restantes bancadas à direita do hemiciclo, o social-democrata Guilherme Almeida disse que a degradação do SNS “é mais uma das marcas da governação falhada” do PS na qual “o PCP está incluído”, acusando mesmo o partido comunista de ser “cúmplice” dos problemas no SNS que se adensaram. O deputado do PSD questionou se o PCP não acha que as suas propostas para fixar profissionais de saúde no SNS “levariam à saída dos melhores profissionais para o privado”.
Noutra declaração política, o líder parlamentar bloquista, Pedro Filipe Soares, referiu-se ao “plano de contingência” anunciado na segunda-feira pela ministra da Saúde, Marta Temido, para solucionar o encerramento das urgências como mais um exemplo de “medidas pontuais para problemas estruturais”.
“O que o Governo tem para anunciar é mais uma mão cheia de nada (…). É um Governo em modo de contingência, não previu, corre atrás dos prejuízos. Este é um Governo em que a contingência se tornou num modo de vida”, argumentou o deputado do BE.
O deputado da IL Rui Rocha concordou que PS e o Governo "vão de plano de contingência em plano de contingência até à emergência final”, mas acusou Pedro Filipe Soares de “falta de memória” por não ter referido que “o BE é responsável pelo que aconteceu” no SNS.
Na mesma linha, a social-democrata Helga Correia sustentou que “é importante esclarecer” que o Bloco “apoiou durante seis anos o PS” através da “geringonça” e que é coautor de tudo o que “deixou o SNS doente”.
Já o socialista Paulo Marques optou por sublinhar que o PS “tem realizado um caminho de reforço” do Serviço Nacional de Saúde desde 2015 e que não se pode “dizer, em momento algum, que não houve reforço”, exemplificando com o aumento do número de profissionais de saúde que houve nos últimos anos.
Pedro Filipe Soares replicou então que as palavras do deputado socialista “merecem uma reflexão”.
“Temos mais profissionais de saúde? Temos, em parte por causa das propostas do BE. Temos mais investimento no SNS? Temos, em parte por causa das propostas do BE. Então porque é que com mais profissionais, com mais investimento, temos pior SNS agora? Foi porque o PS recusou haver mais capacidade de contratação”, completou o deputado.
O líder da bancada bloquista falou para o liberal Rui Rocha e disse-lhe para agradecer “ali ao PS” por estar a concretizar aquilo que na ótica do BE é a política de saúde preconizada pela IL: “Nunca como hoje o SNS pagou tanto aos privados. Nunca hoje esteve como quer ali a IL”.
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