O cancro do pulmão continua a ser a principal causa de morte por cancro em Portugal e no mundo, sendo responsável por milhares de vidas perdidas todos os anos. Por este motivo, e aproveitando a data de 1 de agosto que assinala o Dia Mundial do Cancro do Pulmão, é fundamental refletirmos sobre o que já foi conquistado e sobre os passos que precisamos de dar para transformar o futuro desta doença.
O futuro do cancro do pulmão está a ser construído com avanços terapêuticos que oferecem novas oportunidades a muitos doentes, mas a redução da incidência e da mortalidade depende, em larga escala, de um compromisso com a prevenção, a literacia em saúde e a implementação de um rastreio estruturado e eficaz.

O tabagismo continua a ser o principal fator de risco para o cancro do pulmão, sendo responsável por cerca de 85% dos casos diagnosticados. A prevenção começa, por isso, pela cessação tabágica e pela prevenção da iniciação ao tabaco, principalmente entre os jovens. Esta não é apenas uma responsabilidade individual, mas uma missão coletiva, que exige políticas públicas robustas, educação formal e campanhas de sensibilização social que cheguem a todas as faixas etárias e contextos.
É necessário garantir a integração de conteúdos obrigatórios nas escolas sobre os riscos do tabaco, realizar ações educativas junto das famílias e comunidades, criar zonas livres de fumo e aplicar regulamentações que limitem o acesso ao tabaco.
Mas não só o tabaco contribui para a elevada incidência de cancro do pulmão. A poluição do ar e a exposição a substâncias tóxicas nos ambientes de trabalho e residenciais são também fatores de risco relevantes. Por isso, são necessárias políticas que promovam estilos de vida saudáveis e melhorem a qualidade de vida e do ar nas nossas cidades, contribuindo para reduzir a incidência de doenças respiratórias e do cancro do pulmão.

Um dos grandes desafios no combate ao cancro do pulmão é o diagnóstico tardio: cerca de 70-75% dos casos são detetados em fases avançadas ou metastáticas, quando as opções de tratamento curativo são mais limitadas. Por ser uma doença muitas vezes silenciosa nas fases iniciais, torna-se essencial adotar estratégias de rastreio em grupos de risco para detetar o cancro em estádios precoces.
O rastreio com tomografia computorizada de baixa dose (LDCT) em pessoas de risco (fumadores ou ex-fumadores entre os 50 e 75 anos, com uma carga tabágica significativa) demonstrou em ensaios clínicos, como o NLST nos EUA e o NELSON na Europa, uma redução de 20-25% na mortalidade por cancro do pulmão. Este rastreio permite identificar lesões em estádios iniciais, quando a probabilidade de cura é mais elevada, oferecendo uma oportunidade real de salvar vidas.
A implementação de um programa de rastreio em Portugal é uma necessidade urgente e estratégica, que deve ser acompanhada de campanhas de sensibilização e de um reforço da coordenação entre os Cuidados de Saúde Primários e os serviços de Pneumologia e Oncologia, agilizando o encaminhamento e reduzindo os tempos de espera.

A literacia em saúde é um dos pilares da prevenção e do diagnóstico precoce do cancro do pulmão. Saber identificar os sinais de alerta, como a tosse persistente, dor no peito, perda de peso inexplicada ou falta de ar, pode fazer a diferença entre um diagnóstico precoce ou tardio.
Para isso, é necessário investir em campanhas de sensibilização contínuas, com mensagens claras, acessíveis e adaptadas aos diferentes públicos, para que a informação chegue de forma eficaz a todas as comunidades. Capacitar os profissionais de saúde, em especial nos Cuidados de Saúde Primários, para o reconhecimento precoce de sinais e para o correto encaminhamento dos casos suspeitos é também fundamental para melhorar o tempo de diagnóstico e tratamento.
Além disso, é importante desmistificar ideias erradas que ainda persistem na sociedade, como a ideia de que o cancro do pulmão é sempre uma sentença de morte ou que apenas os fumadores podem desenvolver a doença. A verdade é que os avanços na investigação e no tratamento têm melhorado significativamente as perspetivas de muitos doentes, e cerca de 10-15% dos casos ocorrem em não fumadores, devido a outros fatores de risco, como a poluição e fatores genéticos.

Nos últimos anos, os avanços no tratamento do cancro do pulmão têm oferecido novas esperanças a muitos doentes. A medicina personalizada e as terapias-alvo, que atuam sobre mutações específicas presentes nos tumores (como as mutações no gene EGFR ou as fusões do gene ALK), permitem tratamentos mais eficazes e com menos efeitos adversos.
A imunoterapia, que estimula o sistema imunitário a reconhecer e combater as células cancerígenas, tem permitido prolongar a vida e melhorar a qualidade de vida de doentes com cancro do pulmão, mesmo em estádios avançados, transformando a forma como a doença é tratada.
Além disso, o acesso a ensaios clínicos e a medicamentos inovadores em fases precoces é cada vez mais uma realidade, permitindo que os doentes tenham acesso a terapias de última geração antes da sua aprovação generalizada. No entanto, para que estes avanços se traduzam em benefícios concretos, é necessário continuar a agilizar os processos de aprovação de novos medicamentos e garantir o seu acesso rápido e equitativo a todos os doentes.

No Dia Mundial do Cancro do Pulmão, é essencial reforçar que a luta contra esta doença não é apenas uma questão de tratamentos, mas de prevenção, rastreio, literacia e acesso a inovação. É um compromisso que começa na proteção das gerações mais jovens contra o tabaco, passa pela criação de ambientes saudáveis nas nossas cidades e pela implementação de programas de rastreio eficazes, e se completa no acesso a terapias que oferecem esperança.
Cada pessoa, cada profissional de saúde, cada decisor político e cada comunidade têm um papel a desempenhar neste compromisso. Só assim poderemos reduzir a incidência e a mortalidade associadas ao cancro do pulmão e construir um futuro onde esta doença deixe de ser uma sentença e passe a ser uma condição controlável e, cada vez mais, curável.