O cancro do pulmão continua a ser uma das principais causas de morte por cancro em todo o mundo, mas o panorama está a mudar. Graças aos avanços na medicina, na tecnologia e na consciencialização pública, há esperança para o diagnóstico precoce e tratamentos mais eficazes. Estes são alguns dos temas sobre cancro do pulmão que todos devem conhecer.

1. Deteção Precoce Salva Vidas

O cancro do pulmão desenvolve-se, muitas vezes, de forma silenciosa e pode não dar sintomas, principalmente quando se encontra num estadio localizado. Por este motivo, não é infrequente o cancro do pulmão ser identificado inesperadamente em exames de rotina. Os sintomas costumam surgir apenas em fases avançadas da doença e podem incluir tosse persistente, com expectoração ou sangue, dor torácica persistente, agravamento de cansaço, perda de apetite e de peso sem causa aparente. Quando estes sinais e sintomas aparecem devem ser investigados de forma a procurar a sua causa.

O diagnóstico precoce do cancro do pulmão em fase localizada tem uma sobrevivência entre os 70 a 90% aos 5 anos, cerca de 8 vezes superior à sobrevivência em estadios avançados da doença. No entanto, cerca de 75% das pessoas com cancro do pulmão são diagnosticadas quando este já está em fase avançada e com metastização. Para contrariar esta tendência, estudos demonstraram que a implementação de programas de rastreio em pessoas com maior risco de desenvolverem cancro do pulmão, como fumadores ou ex-fumadores com idades entre os 50 e os 80 anos permitem detetar a doença mais cedo e pode reduzir a mortalidade em até 20% nos grupos de maior risco. A União Europeia apoia a implementação de programas de rastreio com Tomografia computorizada (TC) de baixa dose. Em Portugal ainda não há um programa de rastreio obrigatório para o cancro do pulmão, mas várias associações portuguesas uniram-se na “Aliança para o cancro do Pulmão” defendendo a sua implementação a nível nacional.

O que pode fazer:

Se tem um historial de tabagismo, ou se tem sinais e sintomas recorra ao seu médico para uma avaliação. Apoie a implementação dos programas de rastreio a nível nacional.

2. Terapêuticas Inovadoras: Uma Revolução no Tratamento

O cancro do pulmão deixou de ser tratado como uma doença única. Atualmente sabe-se que mutações genéticas específicas como EGFR, ALK, entre outras, estão associadas ao crescimento tumoral e podem ser tratadas com terapêuticas alvo altamente eficazes.
Outro exemplo é a imunoterapia que tem transformado o tratamento do cancro nos últimos anos. Estes medicamentos ajudam o sistema imunitário a reconhecer e combater as células tumorais.

Estes fármacos fazem hoje parte do tratamento padrão e têm prolongado significativamente a sobrevivência em muitos doentes. Inicialmente utilizados em casos de doença avançada, são cada vez mais utilizados também em formas mais localizadas de doença, muitas vezes associados a cirurgia, quimioterapia e/ou radioterapia.

Porque é importante:

Nem todos os doentes são elegíveis para estes novos fármacos. É necessário realizar testes ao tumor para avaliar a indicação e para orientar a escolha terapêutica.

3. Tabaco, Vaping e Perceções Erradas

O tabagismo continua a ser o principal fator de risco para o cancro do pulmão, responsável por cerca de 85% dos casos. Apesar da redução no número de fumadores de cigarros tradicionais, os cigarros eletrónicos (vaping) tornaram-se cada vez mais populares, sobretudo entre os jovens.

Mensagem-chave:

Embora o vaping possa parecer menos prejudicial, não é inofensivo. Os seus efeitos a longo prazo ainda estão a ser estudados, e alguns produtos já foram associados a lesões pulmonares. A melhor prevenção é deixar de fumar!

4. Cancro do Pulmão em Não Fumadores

Até 20% dos casos de cancro do pulmão ocorrem em pessoas que nunca fumaram. Nestes casos, os fatores de risco incluem poluição do ar, exposição ocupacional (como ao amianto), fumo passivo, gás radão e mutações genéticas.

O que deve reter:

Todos devem estar atentos aos sintomas de alerta e procurar avaliação médica precoce, mesmo sem historial tabágico.

O cancro do pulmão está a mudar: desde a forma como o detetamos até ao modo como o tratamos. A consciencialização da população, o diagnóstico precoce e o acesso a terapêuticas modernas são fundamentais para reduzir o impacto desta doença.

Um artigo da médica Sara Alfarroba, pneumologista do ULS São José em Lisboa.