Numa posição a propósito do despacho publicado esta semana que define as zonas geográficas carenciadas para que se possa atribuir incentivos ou ter formas facilitadas de contratação de especialistas, a SPR lembra que há 16 hospitais sem reumatologia no país e diz não compreender porque foram selecionadas unidades que já têm estas especialidades.

“É (…) um documento que revela a falta de planeamento e de estratégia que tem vindo a ser a norma por parte do Ministério da Saúde desde há muitos anos”, escreve a SPR, num parecer a que a Lusa teve acesso.

No documento, a Sociedade Portuguesa de Reumatologia diz ainda não compreender qual a lógica de selecionar duas unidades (Centro Hospitalar Médio Tejo, E. P. E. e Unidade Local de Saúde Guarda, E. P. E.) “que já têm a especialidade” e de os considerar “muito carenciados”.

“Apenas mau planeamento e decisões sem nenhum critério técnico e apenas por critérios políticos e de influências locais podem explicar tais decisões”, considera a SPR.

A Sociedade diz terem sido selecionadas unidades “que já têm dois especialistas de Reumatologia”, explicando que, no caso da Guarda, “para além de dois especialistas tem três internos da especialidade”.

“Embora devam ser reforçados os efetivos, dada a população que servem, não são prioritários quando em Portugal existem 16 Hospitais que não têm Reumatologia”, afirma a SPR, acrescentando: “Em alguns [hospitais], como os de Santo António, no Porto, o Amadora-Sintra ou o de Vila Franca de Xira, nem precisariam de incentivos para colocar especialistas, apenas abrir as vagas”.

“Como explicar aos 700 mil utentes da região da Amadora, aos 500 mil da região do Porto servida pelo Santo António e que não têm acesso à Reumatologia ou a todo o distrito de Guimarães, Vila Real, Portalegre, Beja e Évora que não são prioritários para terem um reumatologista”, questiona.

Na tomada de posição a que a Lusa teve acesso, a SPR afirma ainda: “Seguramente os Hospitais do Alentejo, Guimarães ou Vila Real teriam muito a ganhar com uma estratégia de incentivos para a colocação de reumatologistas”.

“Apenas mau planeamento e decisões sem nenhum critério técnico e apenas por critérios políticos e de influências locais podem explicar tais decisões”, considera.

A SPR diz ainda que nos últimos anos tem “trabalhado incessantemente” para dar informações corretas das necessidades e prioridades e partilhado com as diversas estruturas do Ministério da Saúde.

“Trabalho perdido em quem não ouve quem sabe e vive encerrado no ‘Portugal dos gabinetes’, muito distante do Portugal real, onde milhões de doentes vivem em sofrimento e com uma hecatombe de dias de trabalho perdido e reformas antecipadas pelas doenças reumáticas”, acrescenta.

A agência Lusa tentou obter uma posição do Ministério da Saúde quanto a estas críticas, mas até ao momento não foi possível.