“Cresci assim, fiz asneiras, falhei com a família, tanta coisa, derivado ao mau vício”, desabafa em declarações à agência Lusa.

Roberto conta que foi trabalhar para Inglaterra aos 17 anos e as drogas deixaram de fazer parte da rotina: “Criei vida, parece que renasci”, afirma.

Quando decidiu regressar à Madeira, há cerca de sete anos, no dia em que aterrou já o foram buscar com uma dose de Alpha-PHP (mais conhecida como ‘bloom’) - a droga sintética mais consumida na região - para experimentar.

Desde aí que tem consumido diariamente, mas realça que tem reduzido nas quantidades numa estratégia para deixar a droga.

“Eu já dormi na rua por causa disto, fugir daquele meio, juntar-me à malta aqui. É complicado quando tu te desvalorizas, não tens capacidade de analisar as coisas, tu perdes a tua vontade de viver, não te importas de morrer”, diz.

Roberto considera que os toxicodependentes precisam de “alguém que os oiça, que perguntem se está tudo bem” e demonstrem os caminhos de saída do vício, lamentando a crítica e desmotivação por parte da sociedade.

“É um rótulo que os toxicodependentes têm, de que não têm cura. Veem-te assim dessa forma e não te dão hipótese de seres melhor. Tens de viver assim por obrigação. Não é que tu queiras, mas não tens outra escolha”, lamenta.

Neste momento, trabalha na construção civil e acredita que vai sair desse rótulo, mas ressalva que é preciso motivação. “A sociedade tem de te dar a hipótese de que és capaz, mas também quem aqui está tem de mostrar que quer aprender e boa vontade em trabalhar”.

Roberto está a ser acompanhado na Unidade de Tratamento de Toxicodependência, no Funchal, e está “a reduzir imenso” os consumos “até parar”, refere, explicando que “não pode ser de imediato, tem de ser uma desabituação”.

“Não é só fazer uma desintoxicação. Tudo o resto é muito importante, a rotina, a malta, o meio […]. É um reaprender a caminhar. É tipo um bebé, não sabe andar, vai gatinhando”, descreve.

“Eu sou capaz, não há nada nem ninguém que me diga que não sou capaz de fazer que eu vou lá e faço em dobro. Eu sou teimoso”, reforça.

M., que aceitou falar com a Lusa mas não quis ser identificado, consumia heroína e, mais recentemente, transitou para o ‘bloom’, uma droga “bastante viciante” e cujo preço é atrativo (cerca de cinco euros uma dose).

Está ‘limpo’ há cerca de seis meses.

“Tenho conseguido um dia de cada vez, mas não tem sido fácil”, conta, sublinhando que a sua maior força tem sido o apoio da mulher e o facto de saber que será pai em breve.

“Isso é mais um incentivo, mais uma força para não falhar e manter-me assim”, reforça.

Desde que deixou de consumir, M. diz sentir-se mais ansioso e ciente de que tem de ter cuidado com o ambiente onde está, pois os consumos são “um passado bem próximo”.

“Aquele bichinho está sempre lá, todos os dias eu lembro-me. Lembro-me de estar a consumir, lembro-me das cenas que eu fazia”, afirma.

“Nos meus tempos vagos, mantenho-me isolado em casa, não tenho tido muitos convívios sociais. Ainda estou muito fresco para socializar, sair e estar por mim próprio”, reconhece.

M., que chegou a ter de deixar de trabalhar por não ser capaz de conjugar o emprego e os consumos, está agora de volta à rotina do mercado de trabalho.

“Há quatro meses tive uma entrevista de trabalho e até hoje estou nessa empresa. Está a correr tudo bem e tenho conseguido manter o trabalho e a recuperação”, conta.