A apraxia ideomotora caracteriza-se pela dificuldade em executar os movimentos necessários para manipular objetos assim como pela dificuldade em pensar sobre quais os movimentos associados à manipulação do objeto, apesar de não existirem dificuldades visuais ou músculo-esqueléticas.

O estudo, já publicado na revista científica Cortex, foi realizado com dois pacientes, uma mulher e um homem, ambos com 59 anos de idade, que demonstram diferentes dificuldades sobre a manipulação de objetos, que até então nunca havia sido reportado pela comunidade científica. Os pacientes foram desafiados a demonstrar como se usam vários objetos através da gesticulação e identificar quais se manipulam de forma semelhante, explica a Universidade de Coimbra em comunicado.

Segundo Daniela Valério, primeira autora do artigo científico, "a paciente LS consegue simular que escreve num computador, mas não nos sabe dizer se este movimento é mais parecido com tocar piano ou com usar uma chave de fendas. Por outro lado, o paciente FP identifica facilmente esta semelhança e consegue descrever os movimentos necessários para usar os objetos, mas é incapaz de gesticular os movimentos".

Estas diferenças, explica a investigadora da UC, "devem-se a lesões em áreas diferentes do cérebro, causadas nestes pacientes pelo início de uma demência e por uma síndrome de vasoconstrição cerebral reversível», sublinhando que «foi a primeira vez que se verificou uma dissociação entre pensar sobre a manipulação de objetos e executar esses movimentos, o que nos demonstra que provavelmente estas habilidades estão representadas em redes neuronais distintas".

Por seu lado, Jorge Almeida, investigador coordenador e diretor do Proaction Lab, da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra (FPCEUC), salienta que "a impossibilidade de usar qualquer objeto no nosso quotidiano é uma dificuldade difícil de imaginar. Quanto mais soubermos sobre como o cérebro organiza informação, mais perto estaremos de providenciar tratamentos para condições tão incapacitantes como a apraxia ideomotora".

Os resultados obtidos no estudo, conclui Daniela Valério, mostram que "as tarefas de pantomima e pensar sobre a ação estão dependentes de diferentes mecanismos cerebrais. Por isso, quando se avalia pacientes apráxicos ou quando se estuda a manipulação de objetos, usar uma ou outra tarefa não é redundante, como se pensava até então. Assim, esta descoberta poderá impactar a interpretação de muitos estudos".

O artigo científico, intitulado “Knowing how to do it or doing it? A double dissociation between tool-gesture production and tool-gesture knowledge”, está disponível: aqui.