A utilização inadequada e recorrente a antibióticos pode ter efeitos muito negativos no nosso organismo a curto e a longo prazo, em particular na microbiota (flora) intestinal. O alerta é da Sociedade Portuguesa de Gastrenterologia (SPG) no âmbito de uma campanha de sensibilização sobre o impacto dos antibióticos na microbiota intestinal e na saúde digestiva em geral, que pode acompanhar na página saudedigestiva.pt.
A microbiota humana corresponde a todos os microrganismos que colonizam o nosso organismo e com o quais convivemos diariamente: sobretudo bactérias, mas também vírus, fungos, leveduras e protozoários. A sua composição difere de acordo com as superfícies colonizadas, ou seja, existe a microbiota cutânea, a vaginal, a urinária, a respiratória, a da cavidade oral e a microbiota intestinal, anteriormente denominada como flora intestinal. No intestino vivem connosco 100 triliões de bactérias.
De acordo com a médica Ana Célia Caetano, presidente do Núcleo de Neurogastrenterologia e Motilidade Digestiva da SPG, os antibióticos permitem o tratamento de múltiplas infeções bacterianas e graças a eles são salvas milhões de pessoas anualmente. Contudo, salienta que “é preciso alertar as pessoas para uma utilização criteriosa, ou seja, para os casos em que exista infeção bacteriana demonstrada ou, pelo menos, assumida e que necessita de ser combatida”. Isto porque, explica, “os antibióticos matam tanto as bactérias nocivas para o organismo, como as que contribuem para a nossa imunidade e bem-estar".
A presidente do Núcleo de Neurogastrenterologia e Motilidade Digestiva da SPG recomenda ainda, nos casos em que é necessária a prescrição de antibióticos para combater uma infeção bacteriana, que estes sejam tomados de preferência acompanhados da toma de probióticos, para minorar o impacto nocivo sobre a nossa microbiota intestinal e, desta forma, proteger a nossa saúde digestiva e a saúde em geral.
Está demonstrado que “o desequilíbrio da microbiota intestinal induzido pela toma frequente e repetida de antibióticos pode desencadear inúmeras doenças do aparelho digestivo e não só", sublinha Ana Célia Caetano. Dá como exemplo a asma, a obesidade, a Doença de Crohn e a Síndrome do Intestino Irritável, que atingem milhões de pessoas e onde a evidência científica demonstra que existe uma forte relação entre elas e a disbiose. Este desequilíbrio na comunidade de microrganismos que habitam o nosso intestino pode propiciar também o surgimento da depressão, doenças autoimunes, diabetes e alguns cancros, como o cancro do cólon e reto.
“Os probióticos são microrganismos vivos que conferem benefícios para a saúde de quem os toma. Um desses benefícios é a prevenção e tratamento da disbiose (desequilíbrio) causada por antibióticos e a consequente minimização das complicações associadas a esta", acrescenta.
Uma microbiota saudável produz vitaminas (vitamina K e ácido fólico), mantém a integridade da nossa parede intestinal, defende-nos contra microrganismos invasores que causam doença, além de fermentar os alimentos que ingerimos com produção de ácidos gordos de cadeia curta, que são fundamentais para as nossas células intestinais.
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