Todos os anos, por volta desta altura, ouvimos falar no Vírus Sincicial Respiratório (VSR). O que é e porque parece ser um problema recorrente?

As infeções respiratórias víricas (IRV) são muito comuns e atingem a maior parte das pessoas uma ou mais vezes por ano. São mais frequentes no outono e no inverno, época em que são a principal causa de procura de cuidados de saúde, internamento hospitalar ou absentismo laboral e escolar. Tal como a gripe - provocada pelo vírus influenza - a infeção pelo VSR é responsável por uma ‘epidemia sazonal’, que pode durar até 5 meses.

Ainda assim, a maioria das pessoas saudáveis com IRV não recorre a cuidados de saúde - por não apresentar gravidade que justifique e pelo reconhecimento de gripes ou constipações. A identificação do vírus exprime-se de forma diferente em cada doente, sobretudo nos adultos.

Quem está em risco?

O risco é relativo e difícil de estimar, tal como a recente pandemia evidenciou. Toda a população pode ser infetada pelo VSR, sobretudo aqueles que trabalham em ambientes fechados e/ou contactam com grandes grupos de pessoas. Consideram-se populações de risco para a infeção por VSR os grupos em que esta infeção tem maior potencial de gravidade, nomeadamente, os extremos de idade e as pessoas com o sistema imunitário enfraquecido por doenças ou tratamentos, como a quimioterapia ou os imunossupressores.

Ouvimos falar sobre a infeção pelos vírus SARS-CoV-2 e Influenza em idade adulta, mas o VSR é sempre associado à idade pediátrica. Porquê?

O VSR é a principal causa de infeção respiratória e internamento em idade pediátrica. Até aos 2 anos de idade, pode causar bronquiolite, uma infeção grave do sistema respiratório inferior, potencialmente fatal.

Na maioria dos adultos, esta infeção não tem repercussões tão graves. Além disso, só recentemente é que se generalizou a prática de pesquisa do vírus responsável por infeções respiratórias em adultos. Tanto pelo maior reconhecimento do valor dessa identificação (sobretudo após as doenças víricas epidémicas da última década, em particular a Gripe A e a Covid-19), quanto pela redução dos custos e dos requisitos laboratoriais associados.

Que impacto é que este vírus pode ter na população acima dos 60 anos ou imunodeprimidos?

Um sistema imunitário saudável assegura-nos uma resposta pronta e eficaz contra a maioria das infeções. O envelhecimento associa-se ao enfraquecimento do sistema imunitário - um processo conhecido por imunossenescência. Tal como os imunodeprimidos, as pessoas com mais de 60 anos têm menor capacidade de debelar a infeção, estando por isso em risco de contrair formas graves das infeções, como é o caso do VSR. Além disso, os mais idosos apresentam frequentemente doenças crónicas que, muitas vezes, agravam (ou descompensam) em face de uma infeção.

Quais são os principais sintomas aos quais se deve estar atento e quanto tempo duram?

Frequentemente, ocorre congestão nasal, dor de garganta e tosse. A febre, a fadiga e as dores no corpo são menos frequentes do que na gripe, mas podem ocorrer. Estes sintomas resolvem-se, habitualmente, em menos de uma semana, nas formas mais ligeiras.

Nas formas mais graves surge também, com frequência, falta de ar ou pieira (‘gatinhos no peito’). Nestes casos, a resolução clínica pode demorar várias semanas.

Trata-se de um vírus extremamente contagioso. Como é que se propaga? 

À semelhança do SARS-CoV-2, o VSR propaga-se por via aérea. Tossir e espirrar favorecem a propagação dos vírus respiratórios, mas esta propagação pode também ocorrer através de atos simples como respirar ou falar. Além disso, o VSR pode depositar-se em qualquer superfície - incluindo as mãos - e transmitir-se para um novo hospedeiro pelo simples toque.

Como se diagnostica? 

A técnica necessária é semelhante à utilizada nos cuidados de saúde e no domicílio, durante a pandemia da Covid-19. Efetua-se uma zaragatoa nasofaríngea, para colheita de uma amostra onde será pesquisada a ‘impressão digital’ genético do vírus. Ao contrário do que aconteceu com o SARS-CoV-2 durante a pandemia, a pesquisa do VSR não é ainda uma prática generalizada nos serviços de saúde, sobretudo fora do contexto hospitalar.

Quais são as formas de doença provocadas pelo VSR?

Nas formas não complicadas, isto é, quando o vírus envolve apenas as vias respiratórias superiores, pode ser difícil a distinção da gripe ou de um resfriado (ou constipação).

Nas formas graves ou complicadas, ocorre disseminação do vírus para o sistema respiratório inferior (brônquios e pulmões) e/ou descompensação de doenças cardíacas ou respiratórias crónicas.

Como prevenir o VSR? Quais são as principais recomendações que a população deve ter em conta?

Em cada local e momento, devem observar-se as recomendações da Direção Geral de Saúde. A contenção dos surtos epidémicos depende de comportamentos individuais e coletivos. Individualmente, sempre que tivermos sintomas compatíveis com uma infeção respiratória devemos usar máscara cirúrgica e limitar os contactos pessoais aos indispensáveis. Coletivamente, devem manter-se alguns dos cuidados recomendados durante a pandemia de Covid-19, pois são medidas eficazes de prevenção de transmissão de qualquer vírus respiratório. Por exemplo, arejar e higienizar locais fechados - sobretudo creches e unidades de saúde - ou evitar grandes concentrações de pessoas, sobretudo nas épocas de maior incidência destas infeções.

Além disso, importa vacinar os grupos em risco de infeção grave. A vacinação contra o VSR está disponível em Portugal, e a sua generalização poderá também contribuir para a redução da circulação do vírus e, consequentemente, do risco de infeção.

Num contexto em que num intervalo de apenas quatro semanas morreram mais 2830 pessoas além do que seria esperado em Portugal, como se deve proceder perante a presença de sintomas de doença respiratória e o que fazer em cada caso?

Deve de imediato assumir-se atitudes de proteção dos outros. Por exemplo, evitar contactos sociais não essenciais e utilizar máscara sempre que esses sejam inevitáveis. O cumprimento social, com beijo ou aperto de mão, aumenta o risco de transmissão.

A maioria das doenças respiratórias agudas são causadas por infeções víricas. Na maioria dos casos, a gravidade não justifica a procura de cuidados médicos, e a situação resolve-se sem necessidade de tratamento específico. Assim, deve recomendar-se sobretudo uma vigilância atenta (pelo próprio ou pelas pessoas que lhe mais próximas), que permita atuar de forma expedita em caso de uma evolução menos ‘benigna’, sugestiva de complicação.