Mais propício à sobrevivência e propagação dos vírus através do ar, o tempo frio é favorável ao aparecimento de algumas doenças, incluindo surtos de patologias inesperadas, como sucedeu com a gripe pandémica (H1N1) 2009, inicialmente apelidada de gripe A. Além de uma alimentação saudável e da prática de exercício físico (os melhores aliados do sistema imunitário), estar informado sobre a origem, os sintomas, o diagnóstico e o tratamento de cada patologia pode ser o primeiro passo para se defender dos microrganismos responsáveis.
Estas são as doenças que devem merecer a sua preocupação nesta altura:
- Gripe sazonal
Tem origem num vírus que ataca o sistema respiratório e se transmite de pessoa para pessoa através de gotículas libertadas quando se fala, espirra ou tosse, ou do contacto com superfícies ou objetos contaminados. A lista de grupos de risco é abrangente. Um sistema imunitário frágil torna o organismo vulnerável a doenças, o que explica, no entender do infeciologista José Neves, que sejam «os idosos, as crianças, os doentes crónicos e as grávidas os mais afetados pela gripe».
Os sintomas mais cimuns são febre, dores de cabeça e de garganta, tosse seca, calafrios, ardor nos olhos, espirros e congestão nasal, além do cansaço e dores musculares. Estima-se que todos os anos, entre novembro e março, entre 700 mil a 1 milhão de portugueses sejam obrigados a ficar em casa devido a sintomas como estes.
No que se refere ao diagnóstico e ao tratamento deste problema, «neste momento, a vacina contra a gripe sazonal é a melhor forma de prevenção. Na maioria dos casos, o tratamento é meramente sintomático sem recurso aos antivirais», indica o especialista.
- Constipação
É provocada por vários vírus que causam uma infeção ligeira do trato respiratório superior, distinta da gripe. «Os microrganismos responsáveis propagam-se facilmente através das gotículas de saliva ou expetoração, libertadas pelo doente ao respirar, espirrar ou tossir. As mãos são um dos principais meios de propagação», refere o infeciologista. Não existe um grupo de risco definido, uma vez que a doença pode atingir qualquer pessoa.
No que se refere a sintomas, sem o quadro sintomático da gripe, a constipação afecta «o nariz, a garganta, os seios perinasais e os brônquios», diz José Neves. Esta situação viral «dá um quadro que não implica as repercussões sistémicas da gripe, nem a febre, as cefaleias ou as mialgias», acrescenta o especialista.
Como esclarece este médico, «o diagnóstico é clínico». «É uma doença benigna, por isso, não se recorre aos antivirais. Apenas se deve reforçar a hidratação e tomar um antipirético e descongestionante nasal ou anti-histamínico (para a obstrução nasal e rinorreia)», esclarece ainda.
- Sinusite
Infecção dos seios perinasais que pode ter causa viral, bacteriana ou alérgica. «Além das pessoas com tendência para alergias, pode aparecer em situações de infeção viral ou bacteriana dos seios perinasais», explica o especialista. Nos casos mais graves, a sinusite provoca dor na região dos seios da face, obstrução nasal, secreção purulenta e febre. Na sinusite crónica, a drenagem do muco é deficitária e a mucosa fica espessa e fibrosa.
Para avaliar o problema podem ser feitos exames radiológicos ou exames vídeo-endoscópicos. «A terapêutica inicial é, na maioria das vezes, sintomática. Quando o mal-estar geral e a febre se mantêm, prescrevem-se antibióticos. Muitas vezes, a resposta é lenta e o tratamento varia entre cinco a sete dias», refere.
Veja na página seguinte: O que fazer para evitar otites, bronquites e pneumonia
- Otite
É um problema «viral, mas, muitas vezes, tem origem bacteriana. Uma otite complica o quadro de uma constipação ou de uma infeção viral prévia em que há, principalmente nas crianças, alteração da permeabilidade da trompa de Eustáquio, que estabelece a ligação do nariz ao ouvido. A infecção acumula líquido no ouvido e pode dar origem à otite», explica. O principal grupo de risco são, sobretudo, as crianças e os bebés.
Dor intensa, diminuição da audição, febre, irritabilidade, desconforto, perda de apetite e secreção no ouvido, se houver perfuração do mesmo, são os principais sintomas. As crianças pequenas podem ter vómitos e também diarreia. Após o diagnóstico clínico, prescrevem-se antibióticos e analgésicos.
- Bronquite
Causada por vírus numa fase inicial, a bronquite é uma inflamação da membrana mucosa dos brônquios que também pode, afirma José Neves, resultar «da descompensação em pessoas com doença pulmonar obstrutiva crónica». O grupo de risco inclui, sobretudo, fumadores, pessoas expostas, durante muito tempo, a ambientes ou substâncias poluentes e doentes pulmonares crónicos.
No que se refere a sintomas, os piores são «tosse, falta de ar, expetoração, sibilância, cianose, febre e inchaço nas extremidades do corpo devido a um pior desempenho cardíaco. Se a bronquite crónica estiver associada a uma infeção respiratória, gera cansaço, perda de apetite e catarro mucóide», enumera o especialista.
Embora o diagnóstico incida nos sintomas e no aspeto da expetoração, se estes persistirem «poderá realizar-se uma radiografia do tórax para averiguar se a doença se agravou para pneumonia», diz o médico. «A terapêutica pode ser só sintomática ou, consoante a gravidade da bronquite, chega a incluir a toma de antibióticos e também broncodilatadores», frisa ainda.
- Pneumonia
É uma complicação infecciosa que provoca «inflamação dos septos alveolares». Quanto ao grupo de maior risco, varia. «Depende do tipo pneumonia. No entanto, apenas acontece quando há uma diminuição das defesas do organismo. Uma das complicações da gripe são as pneumonias pós-gripe», aponta o especialista. A pneumonia bacteriana pode ser «típica» ou «atípica». «A primeira caracteriza-se por febre elevada, pontada torácica, tosse com expectoração purulenta e falta de ar.
A segunda provoca febres, mialgias e mal-estar geral, com queixas respiratórias pouco predominantes. Não há dor pleurítica típica da pneumonia bacteriana aguda», esclarece. Como defende o médico, a abordagem depende da gravidade «Normalmente, implica terapêutica antibiótica em média sete a dez dias. A pneumonia adquirida na comunidade muitas vezes requer internamento hospitalar e uma associação de antibióticos para cobrir os agentes etiológicos», refere.
Veja na página seguinte: O problema das meningites
- Meningite
Existem meningites virais, bacterianas e fúngicas que provocam a inflamação das meninges e que podem ser fatais quando não são tratadas a tempo. A par de quem tem o sistema imunitário deficitário, as crianças são o principal grupo de risco. No entanto, revela o especialista, «a vacinação tem diminuído muito o número de pessoas afetadas». Os principais sintomas são «febre, dor de cabeça, vómitos, rigidez da nuca, não conseguindo fletir o pescoço e alteração do estado de consciência», indica.
Para avaliar de que tipo de meningite se trata, é feita uma punção lombar. «É um exame realizado para colheita de líquido cefalorraquidiano que é analisado em laboratório para determinar a presença de microrganismos. As meningites são tratadas na sua maioria em meio hospitalar», exemplifica o médico.
Texto: Fátima Lopes Cardoso com José Neves (infecciologista)
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