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A Espondilartrite Axial é para toda a vida?
A Espondilartrite axial (EspAx) é uma doença reumática inflamatória crónica que habitualmente persiste durante toda a vida. Apesar do tratamento adequado poder fazer com que a doença permaneça em remissão, o reaparecimento de sintomas poderá ser uma realidade mesmo após muitos anos de doença controlada.
Que tipos de Espondilartrite Axial existem e como se distinguem quanto ao seu nível de gravidade?
A EspAx classifica-se de acordo com a presença de sacroiliíte na radiografia da bacia. Caso esta alteração exista estamos perante uma EspAx radiográfica (ou espondilite anquilosante) e no caso contrário estamos perante uma EspAx não radiográfica. A primeira tende a ser uma forma de doença mais evoluída, pressupondo já a existência de algum dano estrutural irreversível.
Apesar da espondilite anquilosante (EA) ser o paradigma das EspAx, existem outras doenças que pertencem à família das Espondilartrites:
- artrite psoriática;
- artrite reativa;
- espondilite associada a doença inflamatória intestinal;
- espondilite indiferenciada.
Os tratamentos são diferentes?
O tratamento do atingimento da coluna é bastante semelhante entre todas elas. No entanto, o envolvimento concomitante de outros órgãos como a pele, intestino, olho, entre outros, pode levar ao uso de tratamentos diferenciados dentro das classes farmacológicas disponíveis. Nem todos os fármacos eficazes a tratar o atingimento da coluna têm a mesma eficácia para tratar o envolvimento extra-articular que poderá existir em certos doentes.
A doença pode desenvolver-se por surtos em que períodos de agravamento intercalam períodos de baixa intensidade das queixas
Quais são os principais sintomas da Espondilite Anquilosante?
A lombalgia crónica presente logo de manhã, ainda antes de existir qualquer esforço físico, que desperta o doente durante a noite e que não melhora com o repouso é o sintoma principal. Pode também acompanhar-se de rigidez matinal prolongada e sintomas periféricos (como artrite, entesite e dactilite) e ainda de outras patologias (como a doença inflamatória intestinal, uveíte e psoríase). Com o avançar da doença poderá passar-se a notar perda da mobilidade da coluna e das articulações.
É possível viver sem dor e ter Espondilite Anquilosante ?
Sim. Por um lado porque existem terapêuticas farmacológicas muito eficazes para o tratamento dos casos resistentes aos tratamentos mais convencionais. Por outro lado, a doença pode desenvolver-se por surtos em que períodos de agravamento intercalam períodos de baixa intensidade das queixas.
É possível introduzir estratégias no dia-a-dia do doente para diminuir o impacto da doença?
O tratamento não farmacológico deve ser transversal a todos os doentes. A recomendação para hábitos de vida saudável, nomeadamente a evicção tabágica, alimentação equilibrada e a prática regular de exercício são de extrema relevância. Deve ser dada preferência aos exercícios que reforcem a musculatura da coluna e que promovam uma maior mobilidade articular.
Em que estado chegam ao consultório os doentes com Espondilite Anquilosante ainda não diagnosticada?
A dor e a consequente incapacidade laboral para as atividades de vida diária é marcada mesmo em fases muito precoces da doença. São doentes que apresentam níveis significativos de fadiga e distúrbios do sono. A disrupção causada pela doença a nível pessoal e profissional nestes doentes, normalmente em idade jovem, tem consequências também a nível psicológico. Nos casos mais evoluídos há também perda de mobilidade da coluna e das articulações que foram afetadas.
Considera que deveria haver maior sensibilização para esta doença?
Considero que a maior sensibilização para esta doença na classe médica e na população em geral é de extrema importância. São frequentes as situações em que os doentes com EspAx são referenciados a consultas de outras especialidades por não ter havido um correto reconhecimento dos sinais de alarme para esta doença. Este facto contribui para que esses doentes cheguem apenas mais tarde à consulta de Reumatologia. A divulgação dos sinais e sintomas característicos desta entidade pode permitir uma referenciação mais atempada e um diagnóstico mais precoce destes doentes.
Hoje em dia as deformações severas causadas pela doença são cada vez menos frequentes, e a aquisição de uma vida com atividade próxima do normal é cada vez mais a norma
A população com Espondilite Anquilosante é alvo de algum tipo de discriminação por falta de conhecimento público acerca da doença?
Antes da existência de terapêuticas adequadas, a EA associava-se frequentemente a deformações físicas, incapacidade laboral e incapacidade para executar atividades da vida diária. A anquilose é o culminar de um processo de destruição articular irreversível que se conota com uma carga negativa importante em termos pessoais e sociais. Felizmente, hoje em dia, as deformações severas causadas pela doença são cada vez menos frequentes, e a aquisição de uma vida com atividade próxima do normal é cada vez mais a norma. Por isso, é importante que a população seja esclarecida quanto às novas perspetivas em termos de prognóstico nestes doentes.
Enquanto médico e especialista na área, há ainda caminho a fazer do ponto de vista do desenvolvimento de novos tratamentos mais efetivos nesta doença?
Sem dúvida. Apesar de serem cada vez mais as novas moléculas disponíveis, existem ainda doentes em que o controlo da doença é desafiante, quer pela eficácia parcial dos tratamentos nesses casos (e necessidade de ajustes frequentes das terapêuticas), quer pela possível necessidade de descontinuação de algumas delas por efeitos adversos.
Que mensagem de esperança gostaria de deixar às pessoas com Espondilite Anquilosante?
Gostaria que todos soubessem que podem confiar no seu Reumatologista e acreditar que o caminho traçado nessa consulta irá conduzir a uma melhoria significativa da sua qualidade de vida. Pode ser um caminho longo, para o qual é necessário que o doente seja também paciente. Por vezes, os fármacos demoram algum tempo para atuar e é possível que só se encontre a terapêutica certa ao fim de algumas tentativas. No entanto, no decorrer do seguimento do doente é possível melhorar significativamente a sua qualidade de vida, e permitir a reaquisição dos seus hábitos de vida.
Esta é uma entrevista com o médico Pedro Carvalho, especialista em Reumatologia no Centro Hospitalar Universitário do Algarve (CHUA) e no Hospital Particular do Algarve (HPA).
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