Não há como fugir dela. Estamos sempre a vê-la, ainda que não tenhamos noção disso. A luz azul está presente nos ecrãs dos telemóveis, dos tablets, dos computadores, das televisões e até nos visores de alguns dos eletrodomésticos e dos equipamentos que utilizamos no dia a dia. Em 2018, de acordo com a empresa de estudos de mercado Nielsen, passávamos, em média, 11 horas por dia a interagir com este tipo de dispositivos, a maioria das vezes sem descansar convenientemente os olhos.
Desde o início da pandemia viral de COVID-19 que isolou o mundo, segundo um estudo internacional divulgado pela publicação científica Indian Journal of Ophthalmology, 94% dos inquiridos assume que o tempo que hoje passa em frente a um desses ecrãs ainda é maior. Uma sondagem realizada pela empresa OpinionWay não vai tão longe mas, ainda assim, garante que os europeus passam, em média, 395 minutos, quase sete horas, com os olhos literalmente colados ao ecrã.
Uma exposição excessiva que, a curto, médio e longo prazo, acabará por ter consequências nocivas para o sentido que nos permite admirar o mundo que nos rodeia. Mas o que é, afinal, a luz azul? São dois os tipos de luz que o olho humano absorve. A luz visível, da qual acabamos por ter uma maior noção, é composta por comprimentos de onda que variam entre os 380 e os 780 nanómetros. A luz invisível, por seu lado, integra parte do espetro luminoso no intervalo da radiação ultravioleta e da radiação de infravermelhos. Neste grupo está também a radiação azul. Com um comprimento de onda que oscila entre os 380 e os 500 nanómetros, é, muitas vezes, apelidada de luz visível de alta energia, sendo conhecida internacionalmente pela sigla HEV.
A luz azul não é, no entanto, toda igual. A que é composta por comprimentos de onda com uma radiação azul violeta entre os 380 e os 440 nanómetros é considerada potencialmente nociva para a visão, sendo apontada como uma das possíveis causas de fotorretinite, um incidente provocado por esta luz incidental de alta energia. A exposição excessiva também estará na origem do agravamento de patologias como a degeneração macular da idade (DMI) e a retinose pigmentar.
Benefícios e contraindicações
Em excesso, faz mal, pelo que os oftalmologistas recomendam o uso moderado dos equipamentos eletrónicos que a emitem, mas, com conta, peso e medida, a luz azul tem (alguns) benefícios já comprovados pela investigação científica. O contacto moderado com este tipo de luminosidade faz com que o organismo liberte serotonina, também conhecida como a hormona da felicidade. A HEV também potencia o aumento de cortisol, uma hormona que nos torna mais ativos.
A exposição prolongada à luz azul pode, contudo, causar lesões graves no olho humano. Para além de poder estar na origem de inflamações da córnea, provoca lesões no cristalino do olho e na retina. A pele humana também é afetada, como alertam inúmeros dermatologistas um pouco por todo o mundo. Além de se tornar mais baça, também perde firmeza, envelhecendo prematuramente. Atentas ao fenómeno, as marcas de dermocosmética têm vindo a apostar em filtros protetores.
O impacto nas crianças
Mais frágeis do que os dos adultos, os olhos das crianças também são afetados. Um estudo levado a cabo pelo instituto francês Inserm, Institut National de la Santé Et de la Recherche Médicale, em 2014, um dos primeiros a analisar o impacto da luz azul na visão humana, concluiu que algumas das ondas emitidas pelos aparelhos são tóxicas para os olhos. No caso das crianças com menos de 10 anos, que ainda não têm o cristalino completamente desenvolvido, esse impacto é maior.
Em casos de uso excessivo, podem surgir lesões fotoquímicas na retina e no corpo lenticular localizado na parte anterior do humor vítreo do olho. Os oftalmologistas recomendam um uso muito moderado de telemóveis, tablets, computadores e até de televisões, que em excesso, também afetam o descanso noturno dos mais novos. Alguns países europeus, como a França, ponderam proibir a comercialização de brinquedos com ecrãs que emitam luz azul para crianças com menos de 10 anos já em 2022.
Comentários