Este é um tratamento primordial para o avanço da Neurocirurgia, uma vez que permite, por exemplo, o tratamento de tumores cerebrais que não poderiam ser tratados com recurso à cirurgia convencional ou a outras técnicas neurocirúrgicas. Como tal, é crucial apostar nestas novas técnicas que se vão desenvolvendo à custa dos avanços tecnológicos na esteira da inteligência artificial e da rede 5G.

A pandemia devido à covid-19 apenas veio intensificar e provar a necessidade e importância do investimento público na saúde. No entanto, este deve ser feito de uma forma racional e estrutural. É crucial aproveitar os médicos altamente qualificados que temos em Portugal, estimulando-os, incentivando-os, treinando-os e oferecendo-lhes boas condições de trabalho. Para isso, é necessária a existência de centros de referência para juntar experiência e tecnologia, cruciais para munir os jovens médicos com todas as competências necessarias para a aplicação destas novas técnicas, de forma a proporcionar um grande avanço na Neurocirurgia.

A Neurocirurgia tem passado por uma evolução muito significativa, principalmente através do desenvolvimento e aperfeiçoamento de diversos equipamentos e tecnologias. Atualmente, existem já instalados nos blocos de Neurocirurgia tecnologia de imagem 3D integrada com sistemas de neuronavegação, tecnologia de imagem intraoperatório, aspiradores ultrassónicos e vários outros equipamentos. Recorrendo a estes, é possível relizar cirurgias complexas na coluna e no cérebro com muito maior segurança e rapidez.

Exemplo disto é a terapia térmica intersticial por laser (LITT), uma técnica minimamente invasiva que permite o tratamento de lesões que não poderiam ser abordadas de outra forma e de doentes que não seriam candidatos a cirurgia convencional. Além disto, permite reduzir significativamente os riscos cirúrgicos e os tempos de recuperação.

Esta técnica tem vindo a ganhar um crescente papel de destaque em diversas áreas da Neurocirurgia, com evidência crescente da sua eficácia, sendo cada vez mais utilizada no tratamento de patologias que incluem tumores cerebrais malignos e epilepsia refratária.

A LITT consiste na termoablação de tecidos por laser. Através de um aparelho de neuronavegação, uma espécie de GPS do cérebro, que nos vai guiar, é possível introduzir através de um micro-orifício de cerca de 2 mm um cateter de fibra ótica até à lesão cerebral. Depois disto, a destruição da lesão é feita através do uso de energia térmica a temperaturas entre os 50 e os 80 graus, de forma a provocar a desnaturação das proteínas celulares e levando à morte celular, ou seja, à destruição do tumor.

Uma vez que a segurança da utilização desta técnica depende também do facto de se conseguir medir a temperatura, esta é realizada dentro de uma ressonância, sendo utilizado um software próprio que permite obter um mapa térmico em tempo real daquela zona no cérebro. Isto permite assim visualizar a destruição que está a ser provocada no tumor.

Uma das áreas nas quais o LITT mais tem evoluído é no tratamento de tumores cerebrais, uma vez que permite abordar lesões em localizações profundas com maior segurança, como por exemplo os gliomas de alto grau (glioma é o tipo de tumor cerebral maligno mais comum). Além desta área, a técnica tem demonstrado um grande crescimento no tratamento da epilepsia refratária, uma vez que permite a destruição de lesões focais em zonas eloquentes e de uma forma pouco invasiva. Além disto, é já possível realizar cirurgias ablativas complexas de tratamento da esclerose mesial temporal e de outras epilepsias refratárias.

Os resultados atingidos revelam assim a enorme eficácia desta técnica e estão a motivar um investimento cada vez maior para o avanço desta.

Um artigo de Alfredo Calheiros, diretor do Serviço de Neurocirurgia do Centro Hospitalar Universitário do Porto (CHUP).