Um conjunto de pesquisas realizadas por investigadores dinamarqueses, conhecidas como Danish Twins Study, revelou que apenas 10% do que está relacionado com a longevidade tem a ver com a genética. Os restantes 90% são ditados pelos hábitos de vida, sendo que, práticas positivas e saudáveis contribuem para a longevidade. Essa equação de vida foi encontrada por Francesc Miralles.

A jornalista na área da psicologia colaborou com Héctor García, especialista em cultura popular japonesa, em Ogimi, uma povoação em Okinawa, no sul do Japão, com o maior índice de longevidade do planeta. Por cada 100.000 habitantes, existem 24 centenários, «um valor muito superior à média nacional». Os seus habitantes exercitam o ikigai, uma filosofia que celebra a vida.

«A razão por que todas as manhãs nos levantamos da cama», como os próprios o explicam. Dessa investigação surgiu o livro «Ikigai - Viva bem até aos cem», publicado em Portugal pela editora Albatroz. A Prevenir leu-o e selecionou os princípios que funcionam como ferramentas de saúde, felicidade e, portanto, de longevidade, seja no Japão ou... aqui!

A razão de ser do ikigai

Acreditar é essencial. Um ponto de partida para uma vida melhor. «Os japoneses acreditam que todas as pessoas têm um ikigai, aquilo que um filósofo francês traduziria por raison d’être. Algumas conseguem encontrá-lo e têm consciência dele. Outras, apesar de o carregarem interiormente, continuam à procura», defendem os dois autores da obra.

«O ikigai está escondido dentro de nós e requer uma exploração paciente para conseguirmos chegar ao local mais profundo do nosso ser e encontrá-lo», escrevem os autores. O ikigai resulta da união de quatro áreas centrais, que estão interrelacionadas:

- Paixão

É resultado daquilo que se ama e daquilo em que se é bom.

- Missão

É resultado daquilo que se ama e daquilo que o mundo precisa.

- Vocação

É resultado daquilo que o mundo precisa e daquilo por que podem pagar-nos.

-Profissão

É resultado daquilo que podem pagar-nos e daquilo em que se é bom.

Moai ou o ato de criar laços com os outros

É um «grupo informal de pessoas com interesses comuns que se ajudam mutuamente, onde o serviço à comunidade se transforma num dos seus ikigais. Os seus membros contribuem com uma quantia mensal fixa, de acordo com as possibilidades, o que lhes permite participar em reuniões ou desfrutar de um passatempo em comum», defebdem Francesc Miralles e Héctor García.

Veja na página seguinte: O que temos a ganhar com o ikigai

O que temos a ganhar com o ikigai

Os benefícios são por demais evidentes. «Pertencer a um moai ajuda a manter a estabilidade emocional e financeira, pois, além do convívio, se alguém estiver a passar por dificuldades económicas, é ajudado através das poupanças do grupo», dizem. Além disso, «o sentimento de pertença e de ajuda mútua proporciona uma sensação de segurança e contribui para o aumento da esperança de vida».

Flow ou o focar a mente

O psicólogo húngaro Mihaly Csikszentmihalyi estudou o estado do ser humano quando se encontra totalmente imerso e a essa pureza de foco chamou-lhe estado de fluidez, definindo-o como o «prazer, alegria, criatividade e o processo no qual estamos totalmente imersos na vida». Para viver o ikigai é fundamental desenvolver a capacidade de entrarmos nessa fluidez.

Isso implica rejeitar tarefas que proporcionem prazer imediato, como comer em excesso ou consumir substâncias  que alterem a nossa consciência. Uma das estratégias que ajudam a entrar no estado de fluidez é concentrar-se numa só tarefa. Os autores explicam como pôr esse objetivo em prática:

- Não olhe para qualquer tipo de ecrã durante a primeira e a última hora do dia.

- Um dia por semana não use dispositivos electrónicos.

- Leia e responda a emails, uma a duas vezes por dia.

- Execute uma tarefa, no mínimo, durante um ciclo de 25 minutos e descanse cinco minutos entre cada ciclo. Para ter a certeza de que cumpre, use um temporizador.

Wabi-sabi e ichi-go ichi-e e a (im)perfeição do agora

São outras correntes modelares do estilo de vida por aquelas paragens distantes. «Enquanto o wabi-sabi ensina a apreciar a beleza perecível, inconstante e imperfeita como uma oportunidade de crescimento, o ichi-go ichi-e leva a uma concentração no presente e a apreciar cada momento único da vida», afirmam Francesc Miralles e Héctor García.

Segundo os autores, «os japoneses acreditam que apenas aquilo que é imperfeito, efémero e incompleto possui verdadeira beleza, já que se assemelha à natureza» e que temos de desfrutar desse momento único que é o presente «sem preocupações relacionadas com o passado ou com o futuro», como fazem questão de sublinhar.

Lembre-se ainda, alertam Francesc Miralles e Héctor García, que cada momento é irrepetível. Desfrute «a cada encontro, seja com amigos, familiares ou desconhecidos», acrescentam ainda os especialistas. Também pode apostar numa decoração ao melhor estilo wabi-sabi. Veja esta galeria de imagens para se inspirar.

Veja na página seguinte: Radio taido e chi cung como exercícios anti-idade

Radio taido e chi cung como exercícios anti-idade

Além de beneficiarem o coração, cérebro e ossos, estes tipos de exercício, «praticados em grupo, pela manhã, fortalecem e regeneram a energia vital e consolidam o espírito de cooperação e união. Podem fazer-se em cinco ou dez minutos e focalizam-se em alongamentos e na mobilidade das articulações», esclarecem os dois autores desta obra internacional.

Além de beneficiarem o coração, o cérebro e os ossos, estes tipos de exercício, «praticados em grupo, pela manhã, fortalecem e regeneram a energia vital e consolidam o espírito de cooperação e união. Podem fazer-se em cinco ou dez minutos e focalizam-se em alongamentos e na mobilidade das articulações», referem ainda Francesc Miralles e Héctor García.

«Um dos exercícios mais conhecidos de radio taiso consiste em levantar os braços acima da cabeça e em baixá-los de seguida, fazendo um movimento circular», sublinham ainda. «O chi kung partilha essa suavidade e a sua dinâmica é a representação harmonizada dos cinco elementos, terra, água, madeira, metal e fogo», descrevem também.

Texto: Carlos Eugénio Augusto