Todos os dias, desde Burgos, produzem-se mais de um milhão de produtos do grupo L’Oréal. Em 2023, foram produzidas 323 milhões de unidades, um recorde que faz com que esta continue a ser uma das cinco fábricas internacionais mais importantes do grupo francês.
Aquela que é a estrutura responsável pela produção de todos os produtos no mundo da Kérastase exporta para 52 países e conta com mais de 600 colaboradores. Distingue-se ainda das demais da multinacional pelo papel pioneiro na implementação de práticas sustentáveis: foi a primeira a introduzir o sistema waterloop, a atingir a neutralidade em emissões de carbono e a usar exclusivamente energia renovável.
Tudo isto faz com que a expectativa e peso de responsabilidade desta fábrica sejam elevados, afinal, recorde-se, a gigante da cosmética encontra-se em transformação já há quase duas décadas. Em 2019, e depois de ter começado, em 2005, a reduzir as emissões de CO2 das suas fábricas e centros de distribuição, tornou 35 dos seus locais de operação neutros em carbono. Em 2020, muito devido às alterações climáticas e ao aquecimento global, decidiu intensificar os seus esforços através do programa de sustentabilidade "L’Oréal for the Future", que estabelece metas e objetivos mensuráveis de redução de impacto ambiental que serão implementados progressivamente até ao ano de 2030.
Compromisso com a igualidade e com a representatividade
Com experiência na área de engenharia, sector automóvel e do vidro, Inés Fernández decide, em 2018, abraçar este projeto na área da beleza. "Se vim trabalhar para esta fábrica [Burgos] é porque vi que estavam presentes os valores que acompanham a minha personalidade e a educação que procuro incutir nos meus filhos", começa por explicar a diretora ao SAPO Lifestyle.
"Entrei para esta fábrica quando estava grávida de oito meses", recorda, acrescentando que o facto demonstra o compromisso da empresa com a igualdade. Consciente de que são poucas as novas oportunidades de emprego para mulheres grávidas, explica que a marca "promove mesmo a igualdade" de forma a conseguir construir equipas mais diversificadas capazes de dar resposta aos diferentes tipos de consumidores.
Para si, a fábrica da L’Oréal em Burgos é "um sítio interessante para se trabalhar", visto que se trata de uma indústria "muito dinâmica" onde é possível fazer muitas transformações de forma a assegurar um futuro mais sustentável.
Ao assumir o cargo de diretora da estrutura em 2022, Inés Fernández tornou-se igualmente numa das mulheres mais influentes de Espanha.
Foco na sustentabilidade
Na companhia da diretora, tivemos a oportunidade de entrar nesta fábrica pioneira e acompanhar o processo de produção mas antes, e por motivos de segurança e higiene, tivemos de retirar os nossos acessórios, colocar uma bata e calçado apropriado, cobrir o cabelo com uma toca, colocar óculos e desinfetar as mãos.
Numa altura em que a marca aposta cada vez mais em matérias orgânicas, o "cuidado deve ser maior, visto que há um maior risco de contaminação", explica-nos.
Numa primeira fase, vemos máquinas a transportar as matérias-primas de forma automática. Não existe intervenção humana de modo a garantir a qualidade e quantidade exata dos ingredientes. Aliás, ao longo de todo os estágios, verificamos que existe um forte cuidado para minimizar o contacto humano com os produtos à medida que são processados e misturados, para garantir a sua qualidade. Ainda assim, as máquinas não substituem o Homem que precisa de acompanhar e controlar todas as etapas para garantir a qualidade dos produtos finais.
"Ao chegar a este lugar onde parece que já está tudo feito, porque somos 100% energia renovável desde 2015 e waterloop desde 2017, pensei 'tenho que continuar a ser pioneira nesta área'.", desabafa.
Ainda que a transformação sustentável já estivesse a acontecer na L’Oréal de Burgos, Inés Fernández sabe que ainda é possível fazer e mudar mais. "Acho que temos um longo caminho para percorrer porque, como digo, sozinhos não podemos transformar."
Para a diretora, que garante trabalhar com equipas comprometidas a 100% com esta transformação, os resíduos serão o próximo "cavalo de batalha".
Conforme nos explica, a fábrica está a apostar na economia circular. Se por um lado procura evitar o desperdício ao reduzir o consumo de plástico, por outro, tem eixos de trabalho para reciclar e reaproveitar os resíduos gerados. "Iniciámos um projeto há anos, por exemplo, com resíduos de plástico. Enviamos para um parceiro em Madrid que nos faz paletes de plástico porque precisamos".
"Somos uma referência no setor", afirma. "Desde que assumi o cargo [direção], quero contagiar as outras indústrias. Fazemos muitas conferências com as fábricas vizinhas para que o nosso ecossistema ajude a transformar os outros".
“Acreditamos nas pessoas que ousam, sugerem e erram”
Em conversa com o SAPO Lifestyle, Inés Fernández partilha que não gosta de hierarquias e que prefere estar perto das equipas e da operação. É por isso que o seu escritório se encontra no meio da fábrica, ao contrário do escritório da anterior direção que ficava isolado.
"Quando cheguei disse que não queria isso, que queria ficar com as equipas aqui no meio. Gosto de estar perto das equipas, de ouvir o que está a acontecer e também de lhes dar responsabilidades, capacitá-las, na realidade. Acreditamos muito em pessoas que ousam propor e que erram", partilha. "É importante que os valores sejam transmitidos a todos na empresa."
Embora mais de metade dos colaboradores na fábrica de Burgos sejam do género masculino, 55% dos cargos de decisão são ocupados por mulheres.
"Existem muitas poucas mulheres em carreiras STEM (Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática)", indica. "Creio que são 25-26%, se não me engano", acrescenta. "Penso que faltam referências e modelos para que as meninas saibam o que é, o que podem fazer e o que está por trás das carreiras STEM".
Devido a esta realidade, a fábrica de Burgos colabora desde 2017 com a STEM TALENT GIRL, que tem como objetivo inspirar, educar e capacitar a próxima geração de mulheres nesta área.
"Eu gostava de ter tido um modelo na minha altura", desabafa. "Acredito que ter referências e modelos do que se pode fazer e estudar nas carreiras STEM é importante."
"É importante existirem equipas diversificadas", constata. "Não podemos ser só mulheres. A riqueza reside na diversidade, porque, no fim, os nossos consumidores são diversos. Então temos que perceber o mercado, os nossos consumidores, e, para isso, precisamos de equipas variadas."
O SAPO Lifestyle viajou até Burgos a convite da L'Oréal
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