É um novo fenómeno que está a aparecer em contexto empresarial e que tem aumentado nos últimos anos, em consequência da crise económica e financeira que tem imposto a redução de equipas e feito crescer a rivalidade entre profissionais.
É uma espécie de bullying, termo utilizado para descrever actos de violência física ou psicológica entre crianças, mas na idade adulta.
A maioria das vezes é mesmo praticado, no local de trabalho, por colegas ou até pelas próprias chefias. Insere-se no âmbito das perturbações obssessivo-compulsivas e afeta entre dois a cinco por cento dos trabalhadores.
Uma consequência da crise
Ana Cristina Almeida, psicóloga, já acompanhou alguns casos clínicos de vítimas de mobbing e aponta que o fenómeno pode surgir por vários motivos. «Por interesse da entidade empregadora em pressionar o trabalhador para sair da empresa, uma situação bastante frequente, neste momento, devido à crise económica que estamos a viver e/ou por dificuldades de autoestima da parte dos agressores que usam a técnica de diminuir o outro para se sentirem valorizados ou, ainda, por problemas de gestão de agressividade, da parte do agressor ou da parte da vítima que é excessivamente submissa.
Os sinais evidentes
Há sinais que denunciam facilmente uma situação de mobbing. A perceção de que um dos elementos de um determinado grupo ou equipa fica isolado e não participativo, a observação frequente de piadas que são feitas à custa de um elemento (e sempre o mesmo) e a diminuição da qualidade e/ou produtividade desse mesmo elemento e a observação de conflitos inter-grupo.
Muitas vezes, a vítima, principalmente no início, tenta revoltar-se e entra em conflito com os colegas. Outra das causas prende-se ainda com a observação de atitudes de ostracismo em relação a um elemento do grupo e de fenómenos de maledicência e/ou difamação relacionados com essa mesma pessoa.
Vítima versus agressor
A vítima sente-se pressionada, sem razão aparente, sente que o grupo lhe esconde coisas (por exemplo, calam-se quando se aproxima, fazem de conta que não o ouvem, saem para almoçar sem lhe dizerem nada, quando anteriormente era habitual fazê-lo), é alvo de piadas e críticas frequentemente e sente que não respeitam as suas dificuldades e opiniões.
O agressor dá consigo a sentir necessidade de humilhar alguém para ficar melhor consigo mesmo ou, simplesmente, divertir-se. Está constantemente a fazer piadas sobre (ou com) determinado colega e dá consigo entusiasmado com a ideia de poder amesquinhar e achincalhar o colega e/ou a estimular e espicaçar os colegas contra aquele colega em particular.
O papel das chefias
Identificar o problema atempadamente é fundamental para controlar a situação eficazmente e prevenir as suas consequências. «Quando o mobbing é horizontal, ou seja, quando ocorre entre pares, as chefias devem estar particularmente atentas para a manifestação deste problema em grupos de trabalho», alerta a psicóloga Ana Cristina Almeida.
«As empresas podem fazer ações de sensibilização para este problema junto dos seus funcionários e transmitirem a ideia (na própria cultura da empresa) que estes fenómenos não são tolerados. A identificação do agressor líder e chamadas de atenção junto dele de que este tipo de comportamento não é tolerado pode ser eficaz», refere.
«Deve-se também agir junto da vítima (ou vítima potencial) no sentido de o fortalecer e de lhe fornecer ferramentas de reforço da assertividade e melhorar as suas competências de gestão da agressividade», elucida ainda a especialista.
Texto: Sofia Cardoso com Ana Cristina Almeida (psicóloga clínica e diretora clínica da Clínica Psicronos em Lisboa), Cláudia Sousa (psicóloga clínica no Instituto Cuf) e Fernando Mesquita (psicólogo clínico e sexólogo)
Edição internet: Luis Batista Gonçalves
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