Numa altura em que o seu saldo se aproxima, uma vez mais, do negativo e todas as contas parecem, infelizmente, seguir apenas as regras da subtração, apresentamos-lhe o português que pretende inverter a tendência e ajudá-la a multiplicar o seu dinheiro. Pedro Queiroga Carrilho, especialista na área das finanças pessoais e autor do livro "O seu primeiro milhão", publicado pela editora Lua de Papel, não tem dúvidas.
Este especialista acredita que o sucesso financeiro depende de cada um de nós, reunindo na sua obra estratégias para conseguirmos atingir o tão ambicionado milhão. Não deixe o seu futuro nas mãos da sorte e aprenda a tirar o máximo partido do seu dinheiro. Em entrevista à edição impressa da revista Saber Viver, Pedro Queiroga Carrilho explica o que deve fazer para o conseguir e aponta erros a evitar.
Afirma no livro "O seu primeiro milhão" que as pessoas aprendem a gerir o dinheiro por tentativa e erro. Quais são os principais erros que cometemos?
O primeiro é a falta de acesso à cultura financeira. Não temos cursos de finanças pessoais na escola, não temos uma cultura de gestão do dinheiro e tipicamente só falamos de dinheiro em alturas de mudança de vida ou se fazemos uma grande compra.
Convém conversar em família sobre este tema, criar uma disciplina pessoal para poder interpretar os sinais que as entidades financeiras dão e saber distinguir os produtos para não ser influenciado por manobras publicitárias.
De que tipo de manobras publicitárias podemos ser alvo?
Há um exemplo que me indigna muito: quando se divulga uma oferta pública de venda na televisão, como o que, por exemplo, sucedeu com as energias renováveis. Quando se anuncia em todo o lado que uma empresa vai para a bolsa o intuito é, claramente, aliciar o público em geral, quem menos conhece os produtos...
Face ao atual clima de incerteza, há quem considere a hipótese de evitar depósitos bancários. O que recomenda a quem opta pelo colchão?
Pôr o dinheiro debaixo do colchão nunca é uma boa opção porque ficamos reféns da inflação. Esta é uma altura em que, como não sabemos o que o futuro nos reserva, temos de poupar dinheiro, se calhar repensar alguns hábitos de consumo, alinhar as nossas despesas com o nosso estilo de vida.
Que cuidados devemos ter na escolha de um banco?
Neste momento, estão a ser tomadas medidas e regulações com os bancos centrais europeus que permitem garantir a solvência do sector bancário. Até 50.000 euros, o fundo de garantia de depósitos restitui o valor aos titulares e, como este fundo é accionado por pessoa e por conta, o que podemos fazer é dividir o dinheiro por vários bancos, respeitando esse plafond.
Qual a melhor forma de investir o nosso dinheiro?
O caminho de investimento para qualquer pessoa deve ser feito sempre em função do dinheiro, do tempo e do conhecimento que tem. Se uma pessoa não tiver muito dinheiro, tempo ou conhecimentos, o melhor é apostar em depósitos a prazo, fundos de acções com baixo nível de risco, contas poupança-reforma ou certificados de aforro.
Se, por outro lado, a pessoa quiser investir um pouco mais há acções conservadoras e alguns fundos de investimento interessantes. A longo prazo, as ações continuam a ser o tipo de investimentos que mais retorno tem, mas também o que oferece mais risco.
Qualquer pessoa pode ter sucesso na bolsa?
O problema dos pequenos investidores é que ninguém vai investir por eles, os pequenos investidores servem muito para alimentar outros tipos de investidores. Para entrar no mercado, deve saber o seu nível de risco, quanto está disposta a perder e, se não tiver uma cultura financeira, deve ter interesse em aprender.
Os investimentos são desmistificados quando começamos a ler sobre eles. Como podemos aprender a investir na bolsa?
Recomendo a compra de um livro de análise técnica e de outro de análise fundamental, para perceber como avaliamos um determinado tipo de investimento. Outra coisa que pode fazer é o chamado paper trading. Trata-se de um investimento online em que tudo é real excepto o dinheiro. As corretoras disponibilizam este tipo de plataformas gratuitas para jogar o jogo da bolsa, o que é extremamente útil quando queremos aprender.
Quais são as principais razões que nos levam ao endividamento?
As nossas principais causas de endividamento são os três D, a doença, o desemprego e o divórcio. A maior parte das pessoas entra em espirais de endividamento por causa de um destes fatores e são coisas que não podemos prever muito. Como tal, devemos ter um fundo de maneio, uma poupança para enfrentar essas situações.
Quais são os tipos de crédito mais perigosos?
Aqueles que têm as taxas de juro mais elevadas, tipicamente os empréstimos ao consumo. Mas, na própria compra da casa, se tivermos uma taxa de esforço muito elevada, podemos pôr em risco a saúde financeira. Segundo estudos do Instituto Nacional de Estatística, as três maiores fatias de despesas familiares são a habitação, os transportes e a alimentação.
Se nos endividarmos numa casa, num carro e ainda contrairmos empréstimos para outras compras estamos a entrar numa espiral de endividamento extremamente perigosa. O melhor é prevenir. Quanto tempo podia estar sem trabalhar se fosse agora despedido? É muito importante que as pessoas saibam responder a esta questão...
Que cuidados devemos ter antes de contrairmos uma dívida?
Evitar os créditos pessoais e ter cuidado com os cartões de crédito que também têm taxas de juro elevadas. Antes de se endividar deve sempre prestar atenção às taxas, como a TAEG [taxa anual efetiva global], que realmente são praticadas nos créditos. Se precisar de um crédito para uma situação pontual, há créditos bancários que podem ser úteis.
E o que fazer quando já estamos numa situação de endividamento?
Aí a solução é começar a pagar as dívidas mais pequenas. Há um exercício simples que pode fazer, que é ordenar todos os endividamentos por valor mensal que paga e valor em dívida e começar a pagar o mais pequeno, poupando pelo menos o montante em dívida. Depois de ter pago o primeiro, manter o valor que poupou e tentar juntar ainda o montante que deve.
Ao longo do seu livro, usa o valor 1.000 € como referência para cálculos. Acredita que é mesmo possível ganhar dinheiro recebendo este montante por mês?
É possível, poupando. Estudos demonstram que as pessoas que mais dinheiro têm são, curiosamente, aquelas que mais poupam e não as que mais ganham. Usei 1.000 € porque representa um pouco o nosso PIB [produto interno bruto] per capita nacional.
É claramente um dos valores PIB mais baixos da Europa, mas se houver uma cultura de poupança, se tivermos estilos de vida alinhados com as reais necessidades consegue-se certamente poupar dinheiro.
Como devemos gerir o salário para tirar o máximo partido dele?
A primeira coisa a fazer é controlar as entradas e saídas de dinheiro, o chamado cashflow. Devemos fazer uma lista com o que gastamos todos os meses, dividida por categorias de despesa como alimentação, habitação, transportes ou telecomunicações. Este mapa de despesas, onde registamos tudo, permite-nos ter uma visão muito clara de como o dinheiro se está a movimentar.
Que outras estratégias nos ajudam a poupar?
O controlo do cashflow é essencial. Depois é importante definirmos orçamentos para tipos de despesas, mediante a nossa situação pessoal, e seguirmos esse orçamento. Outra coisa que recomendo é pagar primeiro a si próprio, ou seja, fazer a poupança no início do mês e não no final depois de pagar todas as despesas.
Quanto devemos poupar por mês?
Quando recebemos o salário na conta devemos retirar logo uma percentagem, no mínimo 10%, para uma conta-poupança e não lhe mexer. Essa poupança deve servir, em primeiro lugar, para garantir a segurança financeira, dinheiro para passar entre três a seis meses sem trabalhar mantendo as despesas. Depois, devemos poupar para os nossos investimentos e também para realizar os nosso sonhos.
O dinheiro traz mesmo felicidade ou essa ideia não passa de um mito?
O dinheiro é essencial para a nossa vida. Ajuda a realizarmos alguns dos nossos sonhos e objetivos mas as pessoas mais ricas nem sempre são as mais felizes. Se tivermos uma boa gestão das nossas expetativas, um alinhamento com aquilo que realmente gostamos podemos ser felizes. Acho que a única verdadeira riqueza é mesmo a vida!
Texto: Manuela Vasconcelos
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