Porque é que as taxas de juro sobem e descem?
É sempre difícil prever o futuro quando falamos de economia. Aliás, os economistas costumam ser especialistas em justificar porque é que as suas previsões do passado não se concretizaram. Sendo difícil prever o futuro, não deixa de ser importante que perceba porque é que as taxas de juro sobem e porque é que descem. Vamos explicar estes movimentos de forma muito simples, não se preocupe.
Custo do dinheiro e inflação
Como sabemos, a taxa de juro é o custo do dinheiro. Quem pede dinheiro emprestado vai ter de pagar um juro. E quem investe, por exemplo em depósitos a prazo, vai pedir que lhe paguem. Por outro lado, o custo do dinheiro varia ao longo do tempo e costuma ser “manipulado” pelos Bancos Centrais para controlar a subida de preços (mais conhecida como inflação):
- Momentos de dificuldade financeira tendem a ser acompanhados por queda das taxas de juro, para incentivar o investimento e o consumo e desincentivar a poupança;
- Momentos de crescimento económico tendem a ser acompanhados por subidas de taxas de juro, que tornam os investimentos mais caros e a poupança mais interessante.
Atualmente, depois de subidas repentinas das taxas de juro, como resposta à subida da inflação (tudo ficou muito mais caros, não foi?), estamos numa fase em que a inflação aparenta estar controlada. Por outro lado, temos a principal economia da Zona Euro, a Alemanha, perto da recessão. Logo, estão criadas as condições para se reduzirem ainda mais as taxas de juro.
Para onde vão as taxas de juro afinal?
As taxas EURIBOR têm vindo a cair. Tendo atingido valores superiores a 4% (na EURIBOR a 12 meses), estamos já próximos de 2,70%. Os bancos já estão a antecipar mais cortes de juros por parte do BCE e as perspetivas apontam para que esta taxa possa cair para perto de 2% dentro de 3 anos.
Esta queda de taxas é uma notícia má para quem tem depósitos a prazo, porque vai receber menos pelas suas poupanças. No entanto, é muito boa para todas as famílias que têm crédito habitação. Como regra de bolso, considere que 1 ponto percentual de descida da taxa de juro implica uma poupança de 50€ por cada 100.000€ de crédito.
É claro que não sabemos a rapidez desta queda. Pode demorar 6 meses ou pode demorar 12 meses ou 18 meses, e nada garante que se venha a materializar (imagine que a guerra provoca mais inflação, por exemplo). Assim, tem de tomar 3 uma de três decisões:
- Manter a taxa variável, esperando por uma queda rápida da taxa de juro. Nesta situação, a sua prestação irá variar, pelo que está a assumir mais risco. É certo que a tendência é de queda, mas nunca se sabe;
- Procurar uma taxa fixa, embora as ofertas de taxa fixa com prazos longos estejam muito pouco competitivas. Claro que ao escolher uma taxa fixa está a reduzir o risco, uma vez que vai garantir que a prestação nunca se irá alterar;
- Mudar para uma taxa mista, que significa que irá ter uma taxa fixa durante 2 a 3 anos, passando depois a uma taxa variável no final desse prazo.
Qual a melhor alternativa para si?
Não podemos generalizar. Não existe uma alternativa que seja a melhor para todas as pessoas. No entanto, uma conta simples pode ajudar.
- Taxa Variável (EURIBOR + SPREAD) – 3.00% + 0.75% = 3.75%
- Taxa Mista – 2.75%
(estas são as taxas em vigor em Outubro de 2024, pelo que poderá ter de atualizar as suas contas se ler o artigo mais tarde).
Percebemos que existe uma diferença de perto de 1 ponto percentual entre as duas soluções. Logo, a contratação da taxa mista permite-lhe desde logo uma redução da sua prestação. Para que esta taxa deixe de ser interessante, terá de esperar que a taxa EURIBOR caia 1 ponto percentual, embora durante este tempo de espera já estará a poupar pela escolha da taxa mista.
Cautelas a ter com a escolha da taxa mista
A escolha da taxa mista permite-lhe ter uma poupança imediata na contratação do seu crédito habitação, face à alternativa da taxa variável. No entanto, algumas cautelas:
- Existem taxas mistas com prazos de 2, 3 e 5 anos. A escolha do prazo pode depender do seu desejo de previsibilidade ou de uma tentativa de adivinhação do futuro;
- Se pensar vir a mudar de casa durante o prazo da taxa fixa, saiba que a liquidação antecipada nesse prazo pagará uma comissão de 2%, ao invés dos 0.50%. Mesmo transferindo o crédito, o banco que receberá o seu crédito só paga a comissão nos contratos a taxa variável;
- Negoceie bem o spread a ser praticado após o período de taxa fixa. Este spread é contratado desde já, embora possa renegociar no futuro;
- Escolha não só o crédito mas também o banco. Procure um banco sólido, com uma boa oferta de serviços e com uma estrutura de comissões mais amiga do seu bolso.
É impossível prever a evolução das taxas de juro, mas podemos ter alguns indicadores que nos ajudem a tomar a melhor decisão. Em caso de dúvida, opte pela previsibilidade, mesmo que isso lhe possa custar um pouco mais. Já viu o impacto que a subida das taxas teve na vida de muitas famílias, que viram as suas prestações duplicar em menos de 12 meses?
Comentários