O AVC é uma doença que ocorre porque o oxigénio deixa de chegar a uma parte do cérebro, o que pode causar a morte das células cerebrais em poucos minutos. Há dois tipos principais de AVC, o isquémico, o mais comum (cerca de 85% dos casos) e que acontece quando um coágulo bloqueia um vaso sanguíneo no cérebro. Já o hemorrágico ocorre quando há o rompimento de um vaso, causando sangramento no cérebro.

Os principais sintomas de AVC são as dores de cabeça, uma fala enrolada e um lado do corpo que não responde. Estes dependem da região cerebral onde ocorre a isquemia ou a hemorragia.

Reconhecer os sinais podem salvar uma vida porque o tempo conta para as opções de tratamento e eficácia do mesmo. Então como identificar uma situação de AVC? Recomenda-se que toda a população saiba aplicar a escala deAvaliação Rápida dos Sintomas (Escala FAST). Este teste conta de uma observação simples da pessoa considerando: F) Face pedir à pessoa para sorrir ou assobiar, a manifestação é um lado do rosto ficar caído ou um sorriso desviado; A) Arms (braços), pedir à pessoa para levantar os dois braços, o sinal é que a pessoa consegue levantá-los, mas com uma diferença grande de elevação ou não consegue mesmo levantar um deles; S) Speech(fala), pedir para dizer ou repetir uma frase simples comum e a pessoa apresenta uma fala arrastada ou confusa ou não consegue articular as palavras; T) Time (tempo) se notar algum destes sinais, deve de ligar de imediato para o 112. Reconhecer os sinais pode salvar vidas.

A vida depois do AVC traz consequências para a pessoa, para a família, mas também para a sociedade. A intensidade e o tipo de alterações dependem da parte do cérebro afetada e da rapidez com que a pessoa recebeu tratamento. Nestes casos, podem ocorrer sequelas físicas, cognitivas, emocionais e sociais.

Das alterações físicas salienta-se a paralisia ou falta de força em um lado do corpo (hemiparesia ou hemiplegia), dificuldades de coordenação e equilíbrio, problemas na fala ou na deglutição (disfagia) e fadiga constante. Simples gestos como segurar um copo ou subir um degrau podem tornar-se desafios diários.

A nível cognitivo pode surgir perda de memória ou dificuldade de concentração, confusão, dificuldade em resolver problemas, alterações no raciocínio e na perceção do espaço ou do tempo, bem como alterações na comunicação, podendo ter afasia (dificuldade em falar, compreender, ler ou escrever). A pessoa pode saber o que quer dizer, mas não consegue expressar-se como antes.

A nível emocional e psicológico realça-se depressão, ansiedade, mudanças de humor, frustração, irritabilidade ou apatia, sentimento de perda de identidade ou independência. Muitos doentes dizem que a recuperação não é só do corpo, mas também da autoestima e da confiança.

A família também é influenciada por esta ocorrência, na maior parte das vezes torna-se cuidadora devido à dependência. Frequentemente, há necessidade de se reorganizar face aos papeis familiares tendo em conta a situação do doente. Em causa não está apenas os papeis exercidos pelo doente, que terão de ser redistribuídos, mas também o surgir de novas necessidades, particularmente de apoio, ajuda e acompanhamento. No ambiente habitacional torna-se necessário rever as acessibilidades, pois frequentemente, depois da alta, o doente necessita de cadeira de rodas ou outros dispositivos de apoio.

Socialmente a vida pode ficar afetada pela dependência. É frequente ficar com dificuldade de manter o emprego, ocorrendo também um afastamento de atividades sociais. Depois do hospital, começa a outra batalha, o recuperar capacidades e reaprender gestos simples e a reabilitação focada na estratégia de lidar com uma nova versão de si mesmo, ou seja, reconstruir uma estratégia para viver bem.

Para um aprofundamento desta visão geral da situação da pessoa com AVC, pode consultar o livro “Cuidados de Enfermagem à Pessoa com AVC – Viver o Mundo pela Metade”, organizado por três Enfermeiras de Reabilitação que reuniram uma equipa multidisciplinar para partilharem saberes e investigações relevantes para pessoas, cuidadores e profissionais de saúde.

É importante relembrar que, embora esta situação seja complexa, o importante é prevenir dando atenção aos fatores de risco como: hipertensão, colesterol, diabetes, tabagismo e sedentarismo, sendo essencial controlá-los. Para este efeito é necessário investir numa alimentação saudável e equilibrada acompanhada de exercício físico regular e de vigilância médica.

O Dia Nacional do Doente com AVC, que se assinala no dia 31 de março, é um momento de mudar de vida para prevenir, mas também de dar voz a quem já passou pela experiência, diz a D. Maria: “Os primeiros dias foram assustadores. Chorava em silêncio, com medo do futuro. A verdade é que nunca mais fui a mesma. Mas aprendi que isso não é necessariamente mau. Descobri uma força em mim que nunca soube que existia. Descobri paciência, coragem, e um novo olhar sobre a vida. Aprendi a desacelerar, a ouvir o meu corpo e a valorizar o que realmente importa. Voltei a trabalhar, a sair com os amigos, a rir com gosto. Não sou perfeita, mas estou viva, estou aqui. Grata aos enfermeiros de reabilitação que olharam para mim como única, reconheceram a minha diferença e com afeto me acompanharam no hospital e depois no centro de saúde. Aos outros profissionais agradeço a contribuição para a minha recuperação. É com gratidão a todos, que posso dizer, obrigada por não desistirem de mim”. Vamos prevenir para não remediar.

Maria Manuela Martins

Professora Coordenadora na Escola Superior de Enfermagem do Porto (ESEP); Membro do Doutoramento em Ciências de Enfermagem do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS) da Universidade do Porto; Coautora do livro Cuidados de Enfermagem na Pessoa com AVC - Viver o Mundo pela Metade (LIDEL).