Wabi sabi é um conceito japonês simples assente nas ideias de ver beleza na imperfeição, apreciar as coisas simples e aceitar que a natureza do que nos rodeia é transitória. Em linha com estes princípios, a britânica Beth Kempton, formada em japonês e a trabalhar desde há muito no Japão, apresenta-nos O Pequeno Livro do Wabi Sabi (edição Presença). Com livros traduzidos em mais de 20 línguas, Kempton, tem ajudado milhares de pessoas em todo o mundo a mudarem a sua vida. No presente título, a autora introduz ao leitor o conceito de wabi sabi, enquanto o convida a um caminho de desaceleração, de ligação à Natureza. Um passo importante, de acordo com Beth Kempton, passa por simplificar e ver o que realmente importa, para lá dos bens materiais e do stresse do dia a dia.
A autora dá-nos pistas para começarmos. Como? Respirar fundo, sentir o ritmo das estações, tornar a nossa casa um lugar acolhedor, sentir que as nossas falhas são normais, aceitar a passagem do tempo.
Escreve Beth na introdução ao seu livro: “o wabi sabi é fundamental no sentido estético e na natureza delicada dos japoneses. É uma visão do mundo que orienta a forma como sentem a vida, embora raramente seja abordado em conversas. A sua influência manifesta-se em todo o lado, todavia, não está à vista em lugar algum”.
Nas perto de 250 páginas do presente título, a autora convida-nos a descobrir o wabi sabi, com raízes ligadas ao zen e à cerimónia do chá, em diferentes dimensões das nossas vidas e em capítulos com sugestivos desafios: “Aceitação e desapego”, “Reenquadrar o fracasso”, “Atar todas as pontas”, ou “Desfrutar do percurso profissional”.
Da obra, publicamos o excerto abaixo.
Dez princípios para uma casa inspirada em wabi sabi
Mais abaixo, está um resumo dos meus dez princípios basilares para uma casa inspirada em wabi sabi. Embora os objetos wabisabiescos tenham um papel a desempenhar, não são o quadro geral. A filosofia wabi sabi é o guia aqui. Não há nenhum problema em a sua casa ser um trabalho em curso. A vida real não é como nas revistas de design. Uma casa é para ser habitada, pelo que não é necessário esperar que tudo esteja terminado antes de convidar os amigos para passarem tempo juntos.
1. Tire o maior proveito da entrada da sua casa, denominada genkan no Japão. Guarde os casacos que não são da estação, coloque algumas flores, convide as visitas a deixar os sapatos à porta, ao estilo japonês (e tente encorajar quem vive consigo a fazer disto um hábito). Arrume os sapatos em prateleiras ou numa sapateira, ou talvez debaixo das escadas. Pode oferecer chinelos de andar por casa aos convidados se o soalho for frio. Isto mantém tudo mais limpo e proporciona um sentimento imediato de familiaridade e conforto.
2. A organização poupa-lhe tempo e dinheiro e abre espaço para apreciar as coisas de que realmente gosta. Todavia, o minimalismo austero é outro tipo de perfeição. Opte antes pela simplicidade de alma cheia. Pense em limpo, organizado e acolhedor.
3. Faça experiências na sua casa com materiais naturais mate, como madeira, argila e pedra, e tecidos naturais para a roupa de cama, mantas e utensílios de cozinha. Veja como trazem uma sensação de calma e carácter. O olhar e a imaginação adoram imperfeições, assimetrias e superfícies irregulares.
4. Pense de que forma pode trazer a Natureza para o seu espaço, com flores, ramos, vagens, penas, conchas, seixos, coroas artesanais, cestos e assim por diante. Descubra a alegria de encontrar e personalizar estes objetos, criando poesia visual com as dádivas da terra e do mar.
5. Lembre-se da luz e da sombra, prestando atenção ao modo como o contraste altera o seu espaço em diferentes horas do dia. Acolha a luz ambiente e a escuridão quando se adequam à estação e ao seu estado de espírito.
6. Tenha em consideração todos os cinco sentidos no seu espaço. Isto depende do local onde vive e do tipo de espaço que tem, mas pode incluir qualquer coisa, desde abrir uma janela para receber a brisa até utilizar tecidos texturados no mobiliário, difundir óleos essenciais e passar música tranquilizante. Pode inclusivamente considerar o sentido do paladar, utilizando, por exemplo, frutos e vegetais nos seus arranjos ou acrescentando detalhes paro tornar muito especial a mesa do pequeno-almoço.
7. Escolha coisas de que realmente gosta para decorar o seu espaço e nutra-o de memórias e história. Pense nos contrastes: passado versus presente, raízes versus inspiração, comum versus especial. Sempre que possível, seja criativo com o que tem ou reutilize objetos que tiveram uma vida prévia.
8. Pense na importância da relação e da harmonia visual. Qual é o aspeto e a sensação das coisas em relação a outras na divisão e ao espaço em si? O que é emoldurado pelas janelas e portas interiores? O que está completamente à vista e o que está parcialmente oculto, sugerindo algo mais? Que texturas diferentes estão a trazer carácter e calor ao espaço?
9. Crie pequenos recantos de beleza em lugares inesperados. Um pequeno jarro num parapeito, um recado manuscrito na casa de banho, uma fotografia emoldurada sob as escadas.
10. Observe de que modo precisa de utilizar o espaço em função da estação do ano e da estação da sua vida.
Imagem de abertura do artigo cedida por Freepik.
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