Como será a humanidade dentro de 20... E daqui a 50? Que competências devemos cultivar numa era de incessantes progressos tecnológicos? O finlandês Perttu Pölönen, autor do livro Competências para o Futuro (Bertrand Editora) argumenta que a próxima revolução é uma revolução humana. Para contrabalançar o mundo cada vez mais digital em que vivemos, é necessário, por exemplo, desenvolver a criatividade, a perseverança, a compaixão e a curiosidade. No fundo, coisas que não conseguimos obter do Google. Quais são, então, as competências que devemos estimular e valorizar para sermos bem-sucedidos na era das máquinas, dos robôs e da inteligência artificial?
Para encontrar as respostas, Pölönen observa a paisagem tecnológica em constante mudança, enquanto analisa a nossa capacidade de nos adaptarmos e de evoluirmos como sociedade. E mostra que a criação de um currículo para o futuro nos torna aptos a usarmos competências humanas únicas para dominarmos um horizonte incerto.
Perttu Pölönen é um inventor, compositor, futurista. Estudou Tecnologias do Futuro na Singularity University, sediada no Ames Research Center da NASA, em Silicon Valley. Ganhou o 1.º prémio no Concurso de Jovens Cientistas da União Europeia e foi incluído entre os mais brilhantes inovadores com menos de 35 anos na Europa pela MIT Technology Review.
De Competências para o Futuro publicamos o excerto abaixo:
Ler é século XX; interpretação é século XXI
Antes da Internet, o valor do jornal era que transmitia informação. O mesmo era verdade em relação aos livros. Mas por causa da Internet isso já não é verdade, uma vez que qualquer pessoa pode transmitir informação. Assim, o valor de jornais e livros passou a ser a credibilidade. Um artigo de jornal foi escrito por uma jornalista com formação e passou por um processo editorial, por isso é mais fiável do que uma publicação num blogue online. Pela mesma razão, este livro está a chegar-lhe por canais tradicionais em vez de ser apenas um PDF no meu website ou autopublicado, porque o processo de publicação acrescenta-lhe valor. Mesmo que o resultado final pareça igual, as pessoas estão a pagar por algo diferente. Antes, as pessoas pagavam por informação, mas agora pagam pelo processo que acrescenta credibilidade.
O advento da Internet faz com que sejamos obrigados a tratar com visão crítica tudo o que lemos, porque nos é oferecida muita informação gratuita não verificada. Antes da Internet não havia a mesma necessidade de questionar cada fragmento de informação, tal como fazemos hoje, porque havia regra geral um editor por trás de cada artigo noticioso que era publicado. Assim, não admira que a pesquisa mostre que as pessoas com maior tendência para Acreditar em informações incorretas nas redes sociais sejam as que têm mais de 60 anos, a que têm mais dificuldade em identificar notícias falsas e trolls. Os jovens, mesmo quando acreditam em notícias falsas, partilham-nas menos do que os seus pais. Ainda assim, aceitar como correta informação incorreta encontrada online pode facilmente acontecer a qualquer um.
Além de termos de conseguir avaliar a fiabilidade da informação, precisamos de interiorizar o facto de que é possível receber informação de muitas maneiras diferentes. Aos jornais e livros juntaram-se agora os vídeos e podcasts, entre outras coisas. Apesar de a leitura estar a entrar em declínio, as pessoas recebem cada vez mais informação por canais visuais e auditivos. O conceito de literacia não deveria, assim, ser alargado? Não deveríamos começar a concentrar-nos num conceito mais vasto de interpretação crítica, uma vez que existem tantas maneiras de obter informação? No futuro, a interpretação incluirá muitos tipos diferentes de literacia, como a capacidade de ler a linguagem corporal de outra pessoa, ler um jogo como futebol ou xadrez, ou utilizar o pensamento de sistemas para compreender e resolver um problema. Para que consigamos compreender o nosso mundo complexo no futuro, é essencial sermos capazes de interpretar a informação, seja qual for o formato.
Imagem de abertura do artigo cedida por Freepik.
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