Esteve num exílio espiritual e artístico autoimposto no estrangeiro durante mais de uma década mas, entretanto, regressou a Portugal para retomar um percurso musical que ainda está longe de estar concluído. Paulo Bragança, o fadista punk, como já lhe chamaram, atua no Grande Auditório do Centro Cultural de Belém (CCB), em Lisboa, esta sexta-feira, a partir das 21h00. É um dos artistas convidados do ciclo musical Há Fado no Cais.

22 anos depois do seu primeiro e único concerto naquela sala, realizado precisamente a 25 de outubro de 1997, o intérprete de "O espírito da carne" e "Cansaço" regressa ao mesmo espaço, no âmbito da parceria entre o CCB e o Museu do Fado, para um concerto que se prevê inesquecível. Apesar de ter sido um dos fadistas mais populares da década de 1990, acabaria, no entanto, por abandonar a carreira artística na década seguinte.

A morte do produtor do disco que tinha gravado nos EUA a convite do cantor e compositor David Byrne no dia do seu aniversário foi um marco determinante na trajetória de Paulo Bragança. "Eu mudei naquele dia. Se houve uma cisão na minha vida, foi naquele dia de 1997", assumiu em entrevista ao Diário de Notícias no início deste ano. "Aí, começa o declínio da minha pessoa", desabafa o fadista, atualmente com 48 anos.

A descoberta da sua conta bancária a descoberto foi outro golpe rude. "Como estava em Nova Iorque, havia o dinheiro da empresa e havia o meu dinheiro, só que pus as duas pessoas que trabalhavam comigo a aceder à conta. Só uma assinatura valia para levantar o que fosse preciso", recorda. Falido, decidiu emigrar para a Inglaterra, para a Irlanda e, mais tarde, para a Roménia. Em Londres e em Dublin, chegou a dormir na rua.

Em 2012, regressou a Portugal para cantar, a convite de José Cid, mas acabaria por voltar novamente para a Irlanda. Licenciou-se em filosofia e trabalhou como ator na curta-metragem "Henry and Sunny" de Fergal Rock. Em 2018, depois de ter colaborado com a banda de metal gótico Moonspell no tema "In tremor dei" do disco "1755", lançou o EP "Cativo", que inclui algumas das canções que vai agora interpretar ao vivo no CCB.