Fomos de véspera para esta terra mágica que é Chaves. Fomos de véspera, porque estávamos ansiosos por colocar o pé na estrada e porque temos muitos amigos nesta linda cidade que faz fronteira com Espanha e que possui um incrível legado histórico e cultural, muito marcado pelos vestígios do domínio romano, como podemos comprovar pelo nome original de Chaves, que era Aquae Flaviae, da altura em que Tito Favius passou por lá.

A História do nome atual - Chaves - vem de uma lenda em que o amor supera todas as faltas e que envolve as águas termais e duas chaves. É uma linda história de amor, que espero que investiguem e que fiquem tão encantados como eu fiquei. É de lendas e histórias que se revela a Alma de Portugal. Adoro histórias como esta, histórias das gentes, dos seus testemunhos… Como costumo dizer, é no contacto com o outro que aprendemos um pouco mais sobre nós mesmos, que crescemos. E esta viagem pela EN2, mal começou e eu já sinto que vale mesmo a pena.

Daniela e Luís estão a percorrer a “Nacional 2 com Alma”. Ao sabor do asfalto, um reencontro com gentes e paisagens
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Mal chegamos fomos muito bem recebidos. Chaves recebeu-nos de braços abertos, confirmando que a fama de serem gente hospitaleira é verdadeira e merecida.

A entrega dos “Passaportes Oficiais” para a EN2 foi efetuada pelas mãos do Sr. José Maria, um elemento da Junta Freguesia de Santa Maria Maior, com todo o carinho. Conhecemos o Pepe, o galego mais famoso em Portugal (pelo menos nesta parte do país) e fomos entrevistados por ele para a Chaves TV1. Várias foram as pessoas que nos vieram cumprimentar e agradecer por mostrar a cidade e nos lembrarmos de mostrar a EN2 ao nosso olhar.

As nossas "binas", ou bicicletas se preferirem, estão connosco nesta viagem e ainda bem, pois já colocamos o pé no pedal e conhecemos uma parte da incrível cidade de Chaves sobre duas rodas. Demos uma volta, ao pôr do sol, de bicicleta na ciclovia da cidade. Foram 12 quilómetros de pura magia, sempre acompanhados pelo youtuber Rui que foi o nosso guia e por duas lindas amigas do coração.

Terminamos este primeiro dia, a véspera da nossa aventura em beleza com um jantar maravilhoso, preparado pela família Soares, com inspiração no meu livro "Cozinhar com Amor". Eles estavam felizes e nós também por tanto carinho e dedicação.

Primeiro Dia - Chaves, Vidago

Agora, começa oficialmente a aventura. No primeiro dia de viagem, visitamos a cidade de Chaves, a sua rua direita que como é característico de todas as ruas com este nome nos leva aquele que outrora foi o coração da cidade. Neste caso, até à fortaleza e à sua linda Torre de Menagem, que se mantém como história viva de épocas conturbadas da reconquista cristã e serviu de “dote real” para a resolução dos vários problemas políticos entre lusos e espanhóis.

“Nacional 2 com Alma”, da transmontana Chaves à beirã Penacova
Cidade de chaves em Trás-os-Montes. créditos: Zen Family

Passamos na Ponte de Trajano, a mais emblemática ponte da cidade, agora pedonal e que nos dá uma visão sobre o rio Tâmega e da cidade muito particular. Esta é mais um dos vestígios romanos da cidade, que ainda hoje cumpre a sua função original - a de ligar os diferentes bairros, agora freguesias, de Santa Maria Maior e Madalena. Este é também um local cheio de histórias e lendas. E como eu gosto dessas histórias! Reza uma das lendas que uma Moura ficou para sempre encantada sob o terceiro arco da ponte.  Amaldiçoada por um cavaleiro que a amava, a Moura só poderia ser salva pelo amor dum cavaleiro cristão. Não o Amor daquele que a tinha levado, mas o que olhava para ela nesse momento. Mas tal nunca aconteceu e a moura continua encantada da ponte de Chaves, o cavaleiro cristão nunca mais apareceu, e o cavaleiro que a tinha levado, morreu numa profunda dor e saudade ao fim de alguns anos.

Bem perto da Ponte de Trajano, existe o primeiro percurso pedestre homologado acessível (PR11), inclusivo e sensorial de Portugal, intitulado de “Margem dos Sentidos”. Esta pequena rota tem um conjunto de informação em código Braille, segue um traçado quase sempre plano, sem obstáculos. Está marcado com pavimento táctil direccional e possui vários pontos que transmitem informações áudio directamente a telemóveis que tenham instalada a aplicação móvel Feel Chaves. É claro que experimentámos tudo e validámos que assim é.

O marco que sinaliza quilómetro zero da "Route 66" portuguesa está nesta lendária cidade, na freguesia da Madalena. Confesso que estava à espera de um aparato maior, visto esta rota já ser tão conhecida e o marco do quilómetro zero ser um ícone. O que encontramos, foi um marco discreto, no centro de uma rotunda, que com a quantidade de autocolantes que possui quase não distinguimos a informação que contém. É daqui que começa a nossa grande viagem por Portugal, de Chaves até ao Algarve.

nacional 2
Quilómetros de pura magia num passeio de bicicleta por Chaves. créditos: Zen Family

Toda esta é uma zona de montanhas rica em águas termais. Assim como Chaves, Vidago foi uma paragem obrigatória. Aqui reina um charme que nos faz viajar no tempo até à “Belle Époque”, como são exemplo as Termas de Vidago. Esta terra não foi paragem obrigatória só pela viagem no tempo. É daqui a nossa água gaseificada favorita, a água Campilho. Fomos visitar o local onde a água brota e é engarrafada. E também conhecer um pouco da história visitando o edifício original, que apesar de estar um pouco degradado, mostra bem o espírito da época e continua a marcar pela sua imponência.

Toda esta é uma zona de montanhas rica em águas termais. Assim como Chaves, Vidago foi uma paragem obrigatória. Aqui reina um charme que nos faz viajar no tempo até à 'Belle Époque'.

Em Vidago não temos apenas água, podemos visitar a Santa, conhecida como a Justa. O santuário do Alto do Côto, que toda a gente conhece como Santa Eugénia, fica na colina que domina toda a vila de Vidago e boa parte do vale da Ribeira de Oura. Aqui se encontra sepultada D. Eugénia Adelaide Morais Campilho Montalvão, benfeitora dos pobres, numa capelinha construída pelo povo nos anos de 1930, que acreditava e ainda hoje acredita tratar-se de uma santa.

“Nacional 2 com Alma”, da transmontana Chaves à beirã Penacova
Palácio de Mateus. créditos: Zen Family

Um pouco mais abaixo, está a Casa Museu João Vieira, um tributo a este pintor que brincava com as letras, com a sua sonoridade e que em todas as suas obras tentava passar uma mensagem. Adorei a visita. Se forem por estas bandas é, para mim, imperdível que façam a vista com a explicação do José Chaves, um jovem que respira cultura e que nos faz mergulhar neste mundo com mestria. Mergulhamos de tal forma que nem damos conta do tempo passar. Para mim foi um dos pontos mais marcantes deste dia.

Estivemos sempre muito bem acompanhados por amigos, por membros da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior e de Vidago, assim como do maravilhoso e autêntico Pepe (o Jornalista da TV1 Chaves), que agora também ficou no nosso coração.

Segundo Dia - Vila Pouca de Aguiar, Vila Real

Acordamos na natureza, ainda em Chaves, mas prontos para nos fazermos à Estrada. A EN2 espera por nós e nós ansiamos por ela. Esta é muito mais do que uma estrada, é uma representação viva dos costumes e tradições portugueses. São centenas quilómetros de património, de cultura, de paisagens arrebatadoras.

A primeira paragem foi Vila Pouca de Aguiar. As famosas Pedras Salgadas e o seu parque Natura aguardavam por nós. Vale a pena tirar um dia para explorar esta zona. Apenas estivemos aqui algumas horas, mas ficou gravado em nós a promessa de voltar.

Um dos pontos a carimbar no nosso “Passaporte Rota” da EN2 é Vila Real, muitas vezes, denominada princesa do Corgo, devido ao rio que a percorre. Nela há também um vasto património, histórico e natural, para ser explorado. É sem dúvida uma cidade muito bonita e que merece ser explorada. Foi o que fizemos, mas não sem antes explorar alguns pontos nos arredores. Fizemos alguns desvios da N2, mas regressamos sempre ao ponto em que desviamos.

Um dos pontos a carimbar no nosso 'Passaporte Rota' da EN2 é Vila Real, muitas vezes, denominada princesa do Corgo, devido ao rio que a percorre.

O primeiro desvio, foi ao Miradouro de São Leonardo de Galafura que na realidade já pertence a um dos destinos seguintes, o Peso da Régua, e tem uma das vistas mais privilegiadas do Douro. Miguel Torga era apaixonado por este local e as nossas amigas, que foram as anfitriãs de Vila Real também. Podemos dizer que valeu a pena fazer um desvio de 25 minutos para conhecer esta maravilha de Portugal. Miguel Torga gostava tanto deste local que até escreveu um poema em sua homenagem, intitulado “São Leonardo da Galafura”, que se pode ler no local, pois está gravado num pequeno mural em azulejo.

O almoço foi na EN2, no típico restaurante Chaxoila, que tem opções vegetarianas. Comi vegetais grelhados, entre outras coisas e posso dizer que estavam divinos. Existe cada vez mais diversidade e opções gastronómicas para todos os gostos em todo o Portugal.

“Nacional 2 com Alma”, da transmontana Chaves à beirã Penacova
Prova de vinho do Porto. créditos: Zen Family

Já com a barriguinha aconchegada seguimos para um local com mais de um século de história e tradição, a Quinta do Beijo, que nasceu dos antigos “Armazéns do Calvário”.  A Quinta do Beijo é muito familiar, onde encontramos sorrisos rasgados e fáceis e onde toda a família contribui para que a Quinta continue a manter o estatuto de quinta familiar em pleno coração do Douro, Património Mundial da Humanidade. Foi uma visita super esclarecedora e saborosa. Provamos pela primeira vez um Vinho do Porto com 78 anos e ficamos todos com a sensação que foi a primeira vez que provamos um verdadeiro Porto! Quem a quiser visitar a quinta fica em Celeirós do Douro, uma aldeia vinhateira a 25 quilómetros de Vila Real.

No caminho de regresso a Vila Real (cidade) paramos em São Martinho de Anta, a terra de Miguel Torga e fomos conhecer o espaço criado e dedicado a este grande escritor transmontano. O foco deste espaço é a divulgação da obra deste grande escritor. O edifício é moderno, bem ao estilo do Eduardo Souto Moura, o seu autor. Aqui realizam-se também actividades culturais diversificadas, como concertos musicais, representações teatrais, exposições de artes plásticas e visuais, apresentações de livros, festivais literários, recitais de poesia, e o que mais puderem imaginar.

O Palácio de Mateus é uma paragem obrigatória. Esta obra da primeira metade do séc. XVIII, de Nicolau Nasoni, é considerado um dos expoentes máximos da arquitectura civil do barroco em Portugal. E vale mesmo a pena visitar! Nós que adoramos estar em contacto com a natureza, ficamos deslumbrados por tão belo edifício estar rodeado de um lindo jardim, com direito a horta e tudo.

O dia terminou da melhor forma, à mesa com um grupo de amigos que se empenharam na arte de receber. O empenho foi tal que até as alheiras estiveram presentes. Eram vegan, caseiras, bio e a receita era a minha. As meninas, nossas amigas, fizeram mais receitas do meu livro "Sabores do Viajante" e se estivessem a ser avaliadas, posso dizer que, passavam com distinção.

O Palácio de Mateus é uma paragem obrigatória. Esta obra da primeira metade do séc. XVIII, de Nicolau Nasoni, é considerado um dos expoentes máximos da arquitectura civil do barroco em Portugal.

Terceiro Dia - Vila Real, Lamego, Peso da Régua, Viseu

Ainda acordamos em Vila Real. Pernoitamos junto ao Parque Corgo situado nas margens do rio que lhe dá nome. Este parque tem uma área de cerca de 33 hectares e está ligado ao Parque Florestal. É um verdadeiro pulmão da cidade.

Foi maravilhoso despertar e poder usufruir desta paisagem tão natural, em pleno coração da cidade, e fazer uma caminhada matinal. Descobrimos coisas que desconhecíamos nesta caminhada, como os moinhos antigos movidos pela água, mas cujas pás que moviam as mós se encontram debaixo das casas, em cursos de água.

Vila Real é muito rica em tradições, nomeadamente gastronómicas. Depois de um passeio a pé pela zona histórica, pela Vila Velha fomos provar os famosos Pitos, Ganchas e Cristas. Reza a tradição, em Vila Real, que no dia 3 de dezembro, dia de Santa Luzia, as mulheres desta terra oferecem “o pito” aos homens da sua vida. Oferecem a todos, aos maridos, aos colegas, aos filhos, a todas as figuras masculinas. Como o bolo tem um nome tão sugestivo é sempre um fartote de rir.  A retribuição chega no dia de São Brás, dia 3 de fevereiro, altura em que os homens oferecem a gancha, um doce tipo rebuçado, com uma forma bem sugestiva. Das Cristas não sei a história, posso dizer que são um doce tradicional com forma de crista de galo.

A estrada estava à nossa espera. Tínhamos encontro marcado para o final do dia em Viseu. Estava na hora de continuar a Nacional 2. Lamego foi a primeira paragem deste dia. Encontramos outra cidade cheia de história.

“Nacional 2 com Alma”, da transmontana Chaves à beirã Penacova
Paisagem arrebatadora sobre o Douro. créditos: Zen Family

Situada a cerca de 12 quilómetros do rio Douro, Lamego foi palco, no séc. XVIII, de grande prosperidade quando aqui se produziu um "vinho fino", que esteve na origem do afamado vinho do Porto. É uma cidade muito antiga. Os Visigodos no séc. VII elevaram Lamecum (o antigo nome da cidade) a sede de bispado. Aqui nota-se bem a influência da Igreja ao longo de muitos séculos, pela predominância de numerosos templos e edifícios religiosos, que revelam a influência clássica do tempo da sua construção nos Séc. XVI e XVII. Exemplo essa influência é o monumental santuário barroco dedicado a Nossa Senhora dos Remédios.

Bem lá no alto, a 600 metros de altitude, responde ao apelo dos crentes aflitos, concedendo remédio para os seus males.  Confesso que não subimos a famosa escadaria, estávamos aflitos, mas não era algo que a Senhora dos Remédios nos pudesse ajudar. A causa da nossa aflição foi o calor que se fazia sentir, que nos empurrava para locais com a sombra das árvores e a beber uma água fresca. Voltaremos no inverno ou primavera, num dia fresco, para usufruir do privilégio de subir tão imponente escadaria e apreciar a magnifica vista que só deste ponto da cidade se consegue. A cidade presta à Senhora os merecidos agradecimentos dedicando-lhe todos os anos (entre os dias 6 e 8 de setembro) a grande Romaria de Nossa Senhora dos Remédios.

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Peso da Régua, foi uma paragem muito breve.  Muito graças a ser um ponto que conhecemos bem. Aqui vale a pena parar e visitar a Estação de Comboio, o Museu do Douro e o famoso miradouro de São Leonardo da Galafura. Como o trabalho de casa já estava feito, aproveitamos para fazer um desvio e percorrer (mais uma vez) uma das estradas mais bonitas do mundo. A estrada que vai da Régua ao Pinhão. Não faz parte do roteiro da EN2, mas vale a pena fazer o desvio, pois é de cortar a respiração. A estrada está sempre paralela ao rio e brinda-nos com o majestoso vale, com este curso de água serpenteante rodeado de vinhedo. Aproveitamos para almoçar, nas margens deste belo rio, num ambiente tranquilo, um belo Risoto de Shiitake, confecionado por mim, na nossa “Zeninha”. Vantagens de viajar com a “casinha” às costas.

Com tantas paragens, chegamos a Viseu, já no final da tarde. Os nossos amigos estavam à nossa espera e com uma linda surpresa. Os meus sogros, os pais do Luís, sabendo que este seria o nosso ponto de paragem, fizeram a surpresa de ir ao nosso encontro. E foi mesmo uma surpresa.

Jantamos todos juntos, curiosamente algo semelhante ao nosso almoço (um belo arroz de míscaros) e demos boas gargalhadas juntos.

Peso da Régua, foi uma paragem muito breve.  Muito graças a ser um ponto que conhecemos bem. Aqui vale a pena parar e visitar a Estação de Comboio, o Museu do Douro e o famoso miradouro de São Leonardo da Galafura.

Quarto Dia – Viseu, Tondela, Santa Comba Dão, Penacova

Os nossos despertares são sempre mágicos! Não fazem, nem ideia onde pernoitamos. Ficamos na Cava do Viriato, uma zona histórica, tranquila e que segundo os viseenses é das zonas mais caras da cidade, por ser zona protegida. A Cava de Viriato é uma fortaleza construída em terra batida, rodeada por um fosso, no Norte da cidade de Viseu. É considerado monumento nacional desde 1910. Apesar do nome que a designa, é hoje sabido que a cava nada tem a ver com Viriato, o guerreiro lusitano e cuja estátua adorna este lugar. Não é consensual a autoria desta fortaleza, sabemos que não foram os lusitanos, como a sabedoria popular nos faz crer. Alguns autores atribuem a construção aos romanos de cerca do século I a.C., outros aos muçulmanos que ergueram aqui uma cidade-acampamento. Mesmo sem confirmação histórica da verdadeira fundação deste mítico local, vale a pena apreciar e sentir este pedaço de história.

Passeamos pela cidade visitamos a zona histórica. A Sé ou Catedral de Viseu, o Jardim das mães e a Casa da Ribeira são pontos de paragem muito interessantes. Este último é um espaço evocativo de memórias de Viseu. Os antigos moinhos do rio Pavia e o lagar de azeite permite-nos recordar o lida das lavadeiras que coravam e secavam as roupas junto da represa do moinho. A casa evoca, também, a presença das barcas na Ribeira, que marcaram a vida do rio e da comunidade. Para além disso, é um espaço dedicado ao artesanato regional e possui exposições temporárias dedicadas ao património etnográfico.

“Nacional 2 com Alma”, da transmontana Chaves à beirã Penacova
Viseu. créditos: Zen Family

Como os nossos queridos “hobbits” (os meus sogros) nos fizeram uma surpresa, estava na hora de retribuir. Reservamos parte do dia para passear com eles. Aproveitamos para visitar São Pedro do Sul, um ponto que faz parte da rota da EN2, embora não fique mesmo na Estrada. Tivemos de fazer um desvio de cerca de 30 minutos para a conhecer. Eu não conhecia e confesso que a zona termal foi para mim uma agradável surpresa. No caminho ainda tivemos o privilégio de parar na Quinta da Comenda, uma quinta biológica e de alojamento local de um querido amigo, o Ângelo, que possui também o supermercado biológico em Viseu Beira-Bio (fica em plena EN2) e aproveitamos para abastecer.

Esta não era a surpresa reservada para os “hobbits”, apesar de ter sido muito agradável. A surpresa foi fazer mais um desvio e visitar a terra natal da Vitália, a minha querida sogra. Visitamos uma aldeia chamada Cabo de Vila, em Alcofra, e esta foi uma viagem ao passado, para nós e para ela. A aldeia está muito bem conservada, com as suas típicas casas em granito, alberga a Torre de Alcofra, uma Torre Medieval construída entre os séculos XII e XIV, sobre um primitivo castro e em perfeito estado de conservação. Aquando a sua construção, supõe-se que seria uma Torre de vigia, provavelmente pertença de um domínio senhorial.

Depois desta visita e de coração cheio voltamos ao nosso propósito. A EN2 chamava por nós.

De novo na estrada, passamos em Tondela. Aqui vale a pena ficar algum tempo e explorar a Ecopista do Dão, que na realidade é o percurso da Linha do Dão, antiga linha ferroviária entre Santa Comba Dão e Viseu, desactivada em 1988, foi transformada em 2011 na lindíssima Ecopista do Dão. Tondela está lá, bem no meio. Tem 49 quilómetros, pelo que provavelmente é a Ecopista mais comprida de Portugal e talvez a mais bonita. É fácil fazer este percurso a pé ou de bicicleta sempre com uma paisagem natural soberba. A parte inicial desta ciclovia é nas margens do rio Dão e do seu afluente, o rio Pavia, onde cada curva no rio significa uma curva na Ecopista. Mais à frente a Ecopista afasta-se do rio, mas a paisagem continua a ser muito bonita, com muitas arvores como sobreiros, castanheiros e carvalhos.

A antiga linha ferroviária entre Santa Comba Dão e Viseu, desactivada em 1988, foi transformada em 2011 na lindíssima Ecopista do Dão. Tondela está lá, bem no meio.

O Museu de Tondela estava fechado, não o conseguimos visitar e carimbar o nosso passaporte, mas bem no largo do museu está o café “O Soldado” que faz parte dos agentes oficiais da EN2, onde podemos beber um café, uma água fresca e obter o respectivo carimbo.

Seguimos viagem e Santa Comba Dão foi o destino seguinte. É impossível ficar indiferente à graciosidade de Santa Comba Dão. O seu centro histórico é a materialização perfeita das típicas cidades rurais da Beira Alta. Casario branco, usualmente de dois pisos, dominado pelo granito, exibe portadas coloridas, escadarias floridas, varandas decoradas. Os vários solares senhoriais atestam a prosperidade duma cidade de solos férteis onde predominava a actividade agrícola. No bairro histórico, o traçado das ruas é notoriamente medieval: vielas estreitas e sinuosas, com escadinhas e travessas simpáticas, sempre desembocando em largos ou praças airosas. Apetece encontrar um banco e sentar só para apreciar a vida passar.

O rio Dão entrega-se ao Mondego na Barragem da Aguieira cuja albufeira é linda e palco de momentos de lazer, convívio e de desportos náuticos. Aqui emerge a maravilhosa Praia Fluvial da Senhora da Ribeira. É apenas um pequeno desvio e ficamos a conhecer mais um cantinho de Portugal.

Terminamos o dia em Penacova. Para nós foi chegar a um lindo presépio, pois já era de noite. Decidimos parar num miradouro, junto a uma pequena capela com vista para o vale com a sensação que ao amanhecer vamos ter uma visão soberba e majestosa sobre esta linda Vila.

Atreve-te a ser diferente!

Vive consciente!

Daniela Ricardo