Há quem lhe chame patchouli ou patchuli mas pachuli é a designação atual da conhecida planta lamiácia de cheiro aromático. O perfume dela extraído é muito usado na indústria da perfumaria. Foi o perfume de uma juventude irrequieta e idealista, que questionava os valores da sociedade procurando inspiração na Índia e no Oriente. Foi a época dos contestatários em Berkeley, do festival de Woodstock, do vestuário inspirado nos saris e das saias longas, leves e ondulantes.

Mas também das calças à boca de sino, das flores no cabelo e de todo o imaginário psicadélico, muitas vezes ligado a experiências psicotrópicas. Os anos das décadas de 1960 e 1970 não trouxeram certamente a melhor reputação ao pachuli, por melhores que sejam as memórias de juventude de muitos dos sexagenários de hoje. A culpa não é do pachuli, mas provavelmente da fraca qualidade dos óleos ou dos produtos de síntese com que era feito.

Origem do pachuli

Originário da Indonésia e das Filipinas, o pachuli (Pogostemon patchouli) é uma pequena folha verde ou acastanhada rica em óleo essencial. O nome vem do tâmil e significa verde (patch) folha (ilai). A planta possui um caule aveludado e firme com grandes folhas perfumadas e flores de tom violeta. O óleo essencial é obtido pela destilação com vapor das folhas secas após fermentação, sendo depois apurado ao longo de vários meses para perder o seu caráter amargo.

São necessários 330 quilos de folhas de pachuli para fabricar um litro de essência. Destaca-se pelas suas notas canforadas, amadeiradas ou terrosas e pela sua persistência. O pachuli combina muito bem com o vetiver, com o qual comunga algumas características terrosas, com o sândalo, o cedro, o cravinho, a lavanda, a rosa e muitas outras matérias-primas da perfumaria. Tudo indica que o pachuli surgiu na Europa por volta de 1830, em Inglaterra.

Foi então muito usado em pots-pourris e em perfumes da época vitoriana. Já em França, no tempo do segundo império, era conhecido por perfumar os xailes. Os xailes perfumados de caxemira foram uma grande moda em França em meados do século XVIII. Consta que os tecidos importados da Índia e da Indonésia nessa época, transportados em navios desde a sua origem, vinham envolvidos em folhas de pachuli, cujo odor os protegia das traças.

Aroma de mulheres menos recomendáveis

Vendidos depois nos grandes armazéns de Paris, constatava-se que alguns deles tinham muito mais sucesso do que outros. Durante muito tempo, tentava-se perceber o que é que mais atraía nesses tecidos, se eram as cores ou ainda os padrões… Finalmente, concluiu-se que o que atraía era o perfume do pachuli. A história que se seguiu nessa época não lhe foi muito favorável porque passou a ser o perfume de mulheres pouco recomendáveis!

Embora o pachuli tivesse sido usado por François Coty, em 1917, na criação do seu famoso Chypre, só em 1925 viria a adquirir letras de nobreza, com a criação, por Jacques Guerlain, do icónico Shalimar, considerado o primeiro perfume oriental da história da perfumaria. Quatro séculos antes, o imperador Shah Jahan apaixonara-se pela princesa Mumtaz Mahal. Para ela, construíra os Jardins de Shalimar, dedicando-lhe também o Taj Mahal.

Pachuli é um dos ingredientes mais exóticos da perfumaria atual

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Perfumes famosos com aroma a pachuli

Foi esta lenda que inspirou Jacques Guerlain e que esteve na base na designação da família olfativa oriental. Cerca de meio século mais tarde, num espírito completamente diferente, o pachuli reaparecia em Aromatics Elixir, da Clinique, em 1971. O perfume, totalmente inovador, foi considerado talvez o primeiro chypré moderno, combinando o pachuli e a rosa, conciliando-os com a civeta e o sândalo. Em 1992, é lançado Angel, de Thierry Mugler, que viria a ser um dos grandes sucessos da perfumaria moderna.

A sua característica oriental incorpora todo o poder do pachuli, arredondado pelos acordes adocicados do caramelo e da baunilha. A originalidade deste perfume está nesta associação inédita do pachuli com notas gulosas, conferindo-lhe uma sensualidade muito particular. Foi talvez Angel que reabilitou definitivamente a imagem do pachuli, tão afetada pelos excessos libertários dos anos da década de 1970.

A partir da década de 1990, o pachuli irá constituir a base de muitos perfumes designados por gulosos, sendo determinante da sua estabilidade e durabilidade. Na perfumaria contemporânea, será um elemento estruturante de muitos perfumes frutados ou florais. Em alguns casos, tem vindo a substituir o musgo de carvalho, até então considerado incontornável nos perfumes chyprés.

Aromas (muito) sedutores e apaixonados

O pachuli está presente em grandes sucessos da perfumaria moderna tanto em notas de coração, como em notas de fundo. Entre os perfumes mais recentes em que é protagonista nas notas de coração, podemos citar Sì de Giorgio Armani, Juliette Has a Gun, Vengeance Extrême ou ainda Le Parfum de Elie Saab, entre outros. Nos perfumes em que se afirma nas notas de fundo, referiremos Untold de Elizabeth Arden, La Petite Robe Noire de Guerlain ou L’Eau de Chloé.

A lista inclui ainda CH Eau de Parfum Sublime de Carolina Herrera, La Vie est Belle de Lancôme, Very Irrésistible Intense de Givenchy e Shalimar Parfum Initial de Guerlain. Poderíamos citar outros perfumes menos recentes, mas muito atuais. É o caso de Coco Mademoiselle da Chanel, Miss Dior Chérie, Idylle de Guerlain, For Her de Narciso Rodriguez, Uomo de Roberto Cavalli, The Red Uomo de Trussardi ou ainda J'Ose, de José Eisenberg, entre muitos outros.

A pirâmide olfativa:

- As notas de cabeça (de topo) contêm os elementos mais voláteis da composição, com uma duração muito curta, criada muitas vezes para produzir o primeiro impacto.

- As notas de coração (intermédias) sobrepõem-se rapidamente às notas de cabeça, revelando os principais elementos do perfume. São as notas que determinam o tema da composição. É aqui que se situam as notas.

- As notas de fundo (de base) contêm os elementos que se evaporam mais lentamente, sendo assim os que permanecem mais tempo. Estas notas constituem o alicerce do perfume, são as que se fixam e deixam rasto, podendo durar um dia ou mais.

Texto: Francisco Sá da Bandeira