Entre feminilidade e feminismo

Procurando um equilíbrio "entre a feminilidade do passado e o feminismo de hoje", o estilista sul-coreano Yoon Choon Ho apresentou esta terça-feira uma coleção primavera-verão 2020 inspirada na franco-atiradora americana do fim do século XIX Annie Oakley.

Como ela, as mulheres de YCH usam gorros de couro com viseira ou chapéus de cowgirl com coletes de franjas e tops com efeito espartilho ou bustier. Mas longe de serem justas e limitantes, as saias são plissadas para permitir o movimento e os casacos oversize são usados sobre camisas de mangas muito compridas.

Nas calças de cintura alta e nas gabardinas sobrepostas, cores escuras como o chocolate contrastam com verdes fluorescentes ou azuis pálidos. E tudo se combina com bolsas de três peças que imitam capas de proteção para  armas de fogo.

A irlandesa Sharon Wauchob optou por criações que podem ser usadas por homens e mulheres. "Sempre gostei da imagem andrógena", afirmou após o seu desfile do fim de semana, onde apresentou fatos amplos e vestidos sedosos com plumas.

Também a dupla de estilistas Fyodor Podgorny e Golan Frydman realizou uma audaz mistura de géneros, inspirando-se nos filmes "Farinelli" de Gérard Corbiau e "Amadeus" de Milos Forman, assim como na personagem da rainha francesa Maria Antonieta.

Jogando com os contrastes, misturaram renda e camisas heavy metal e combinaram jeans com tecidos delicados como o cetim e o tule.

"Exploramos a ideia da pansexualidade, a atração por uma pessoa independentemente de qual for a sua identidade de género", explicaram.

Moda ética sustentável

Impulsados pela iniciativa "Positive Fashion" lançada pela semana da moda londrina, e em sintonia com o movimento ecologista Extinction Rebellion que organizou vários protestos que coincidiram com os desfiles, cada vez mais estilistas integram nas suas peças a preocupação com o meio ambiente e a ética na produção.

As estilistas guatemaltecas Gabriela Luna e Corina del Pinal, instaladas em Londres com a sua marca Luna Del Pinal, procuram fazer uma "moda lenta e responsável", criativa e sustentável. Fascinadas pelas antigas técnicas de tecelagem, recorrem a artesãos indígenas para fazer as suas criações amplas e confortáveis com um certo estilo oriental.

Outros jovens estilistas buscam dar uma segunda vida a peças de roupa ou acessórios. A romena Ancuta Sarca cria calçados híbridos, mistura do desportivo e sapatos de salto comprados em lojas de roupa usada. E Mariah Esa, recém-formada, utiliza etiquetas de peças descartadas para confeccionar as suas criações: até 2.000 etiquetas para fabricar um casaco.

Volume e geometria

Entre os estilos imprescindíveis da temporada primavera-verão 2020 apresentada em Londres estão as criações volumosas mas etéreas da britânica Molly Goddard e os vestidos geométricos e móveis da sérvia Roksanda, que deixa nas suas criações uma amostra da sua formação como arquiteta.

Nos seus desenhos, a criadora sérvia destaca-se pela sua escolha das cores. Combinações de rosa e tangerina que no desfile de segunda-feira contrastaram com o céu cinza de Londres.

Estrela ascendente da moda britânica, Goddard apresentou no fim de semana criações que lembram o seu famoso vestido de tule rosa, que foi usado por Villanelle, uma excêntrica assassina na série de televisão "Killing Eve".

Os seus volumosos vestidos e saias, em amarelo e vermelho, são usados com botas de couro.

Após o desfile, a inglesa reconheceu não ter tido um tema específico em mente mas disse interessar-se por "estilos individuais". "Olhei para as coisas que fiz nos últimos cinco anos, as que mais gosto, e fui fazê-las de novo, mas maiores e melhoradas".