Em 2019, uma pig parade de arte animou Hong Kong, na Ásia. Nesse ano do porco chinês, dezenas de porquinhos em jeito de peças de arte, integraram um leilão de beneficência a favor de crianças carenciadas. Como promotor deste leilão esteve o empresário e colecionador de arte britânico, Howard Bilton, mentor da Sovereign Art Foundation. Em 2020, parte da vara de porcos sob a forma de estatuetas coloridas, reside num restaurante alentejano, um dos vértices de um projeto que, a três tempos, abriga vinhos, galeria de arte e cozinha de autor.

A muralhada cidade de Estremoz, com vista para a cordilheira da Serra de Ossa, acolhe um projeto de vinhos e enoturismo que cunha o nome no seu fundador e lhe dá uns retoques de extravagância: Howard's Folly. O edifício, a dois passos da praça central de Estremoz, é imponência alva. Casa onde em tempos funcionou um grémio, adquirida em finais de 2017 pelo atuais proprietários, afirma-se como produtora de vinhos em pequenos lotes, acolhendo castas portuguesas e vinhas velhas.

De Hong Kong para o Alto Alentejo, Howard Bilton ligou estas duas geografias distintas, urdindo-as com a sua paixão pelos vinhos da região, nomeadamente os do Esporão. Sabendo que na assinatura de um néctar está a mão do seu criador, Bilton quis conhecer David Baverstock, enólogo do Esporão, um luso-australiano há 25 anos a viver no nosso país.

Um encontro entre Ásia e Europa que foi génese para um empreendimento comum, nascido em 2002, na época assente em uvas adquiridas a agricultores locais. Quanto à adega era,  então, casa arrendada.

Alentejo à mesa

Volvidos perto de 18 anos, Howard's Folly é sinónimo de adega, centro de enoturismo e restaurante The Folly, inaugurado em fevereiro deste ano. Este, não relega para mãos alheias quer a carta assente no conceito “da terra para o prato”, quer a arquitetura e decoração do espaço (entregue à Arkstudio), onde não se esconde o balcão do bar, portento com 11 metros de comprimento, a emoldurar uma mostra com as referências vínicas do produtor, assim como bebidas sempre prontas para alimentar cocktails de autor. Na ementa, a arte que vive é outra, com a cozinha sob a batuta de Hugo Bernardo, obreiro de pratos tradicionais portugueses. Ao território, o chefe de cozinha e confesso apaixonado por Heavy Metal, vai buscar queijos, enchidos, carnes e vegetais.

Howard’s Folly
O imponente edifício que acolhe adega, restaurante e galeria de arte. Antes, espaço para um grémio. créditos: Howard' s Folly

Na carta que não esconde, a par de pratos encorpados, uma feição petisqueira, vivem sugestões como a Salsicharia Canense da Dona Octávia, croquetes de alheira com maionese de manjericão, o prego Alentejano, bife do lombo servido com lascas de batatas e legumes crocantes. A satisfazer palatos mais gulosos, como remate ao repasto, doces e suculentos figos a acompanhar a tarte de amêndoa e a mousse de chocolate coberta com pedaços de merengue de poejo.

Nunca abdicando da dimensão artística, a Howard's Folly, transporta-a para o espaço adega. Onde habitam cubas de aço inoxidável, barricas de carvalho francês e toda a infraestrutura de apoio à produção de vinho, também vive arte urbana. Ainda antes de instalada toda a bateria de cubas, já o artista português Le Funky, trabalhava nos muitos metros quadrados do seu mural.

Na apresentação do espaço e do portefólio de vinhos da Howard's Folly, David Baverstock, que por duas vezes recebeu o prémio Enólogo do Ano (2013 e 2015), atribuído pela revista “Wine”, sublinhou que a nova adega “permitiu aumentar a produção e trouxe-nos flexibilidade para experimentar e criar pequenos lotes. Trabalhamos com muitos agricultores locais, que nos fornecem uvas de vinhas velhas, com as quais estamos a fazer vinhos super premium. Graças a este espaço também nos foi possível desenvolver um plano de negócios para aumentar a nossa produção nos próximos cinco anos”.

Howard’s Folly
O empresário Howard Bilton e o enólogo David Baverstock. créditos: Howard' s Folly

Saliente-se que o portefólio de vinhos da Howard's Folly casa duas regiões vinícolas portuguesas: Portalegre, no Alto Alentejo, e a sub-região de Monção e Melgaço, território de Vinhos Verdes, no Alto Minho.

Ainda antes de descerrada a garrafa de vinho, uma atenção aos rótulos que não escondem a feição criativa e apostada na arte do projeto. Rótulos desenhados pelos vencedores do concurso de arte da Sovereign Art Foundation, no ano em que o vinho foi engarrafado; outros expondo obras de artistas mundialmente famosos, como por exemplo o pintor britânico Howard Hodgkin.

Néctares sonhadores

No que toca ao portefólio da Howard’s Folly, este espraia-se por tintos, brancos, rosé e, em breve, um vinho de talha, tradição alentejana que conhece um novo ímpeto, nomeadamente em concelhos como a Vidigueira.

Nos brancos, refira-se o Sonhador (12 euros) é um field blend, produzido em Portalegre, no sopé de granito da Serra de São Mamede, onde temperaturas mais baixas, juntamente com vinhas velhas, conferem complexidade e frescura ao vinho.

Da soalheira paisagem alentejana para o atlântico território minhoto, o Alvarinho (12 euros) é produzido a partir de uvas de clima frio, cultivadas na região montanhosa de Melgaço. Revela mineralidade típica e acidez reduzida derivadas dos solos de granito.

Howard's Folly
Sonhador Tinto, uma das referências do produtos sediado em Estremoz. créditos: Howard's Folly

Por seu turno, o Sonhador Tinto (12 euros) - 2011, 2012, 2015 e 2016 - é um blend de Syrah, Aragonés, Touriga Nacional e Alicante Bouschet, vinificados separadamente para aumentar a complexidade do vinho, enquanto que o Reserva (2008 e 2015) é feito com Syrah e Alicante Bouschet, e produzido em Portalegre, onde a combinação de uvas frescas, altas altitudes e solos de granito combinam para dar vinhos de grande requinte com estrutura, aromas intensos e frescura.

O monocasta Touriga Nacional apenas está disponível para membros do Wine Club da Howard’s Folly, em caixas de dois magnums (120 euros) ou numa edição de colecionador de seis garrafas (208 euros), cujas etiquetas foram desenhadas pelo artista irlandês Sir Michael Craig Martin.

Howard's Folly
As vinhas, próximas a Portalegre. créditos: Howard's Folly

O Wine Maker’s Choice 2013 (19 euros) é um blend de Syrah, Alicante Bouschet, Aragonez e Touriga Nacional. Apresenta aromas complexos de amora e ameixa, com um paladar firme e bem estruturado, fruta vibrante e boa acidez final, com bom potencial de envelhecimento em garrafa.

A Edição Limitada NV em Magnum (200 euros), também apenas para membros do Wine Club, é um blend de colheitas de 2010, 2011 e 2012, a base de Aragonéz, Syrah e Alicante Bouschet. Na boca é rico em camadas de frutos aveludados, densos e compactos, com um final longo. Este é um vinho complexo, que resulta de uma mistura de três colheitas diferentes e variedades diferentes.

Lançado no verão de 2020, o primeiro rosé de Howard's Folly, o Sonhador 2019 (12 euros), acolhe Aragonês e Castelão. O paladar deste vinho rosa salmão revela frutos vermelhos maduros e intensos, com bom corpo e textura, acidez vibrante com um final longo e profundo.

Howard’s Folly

Rua General Norton de Matos, Estremoz

Contactos: tel. 268 332 172; e-mail. bernardo@howardsfollywine.com

Visitas e provas

De acordo com o produtor, “as visitas à adega e as provas de vinho podem ser marcadas através do restaurante e podem incluir um tour da adega, uma degustação de vinhos Howard’s Folly à escolha, acompanhadas de petiscos. Os preços das visitas começam a partir de 15 euros por pessoa”.