Todos nós sentimos na pele as alterações climáticas dos últimos anos. Verões cada vez mais quentes, invernos que chegam cada vez mais tarde, meses sem chuva, todas estas mudanças são observadas e lamentadas numa esfera internacional.
A consciência de que o nosso clima está a sofrer alterações abruptas e que, em consequência, devemos tomar medidas para combatê-las é, em grande parte, partilhada pela sociedade portuguesa. Por esta razão, um inquérito recente sobre o clima, levado a cabo pelo Banco Europeu de Investimento, revelou que dois terços dos portugueses apoiam medidas para combater estas alterações.
A preocupação que advém das alterações climáticas surge, frequentemente, da noção de que estas trazem consequências nocivas à vida de todos os organismos, entre os quais os seres humanos se encontram. Como tal, é amplamente reconhecido que as alterações climáticas podem ter consequências negativas no nosso bem-estar físico: pessoas que residem em zonas particularmente afetadas por estas alterações podem sofrer de problemas cardiorrespiratórios ou outras condições médicas diretamente relacionadas com o calor em excesso. No entanto, falamos menos das consequências que estas alterações podem ter na nossa saúde mental.
Com efeito, a crise climática pode precipitar o desenvolvimento de perturbações do foro psicológico ou agravar condições pré-existentes. A título de exemplo, a ansiedade climática, também conhecida como eco-ansiedade, tem sido crescentemente reconhecida como um fenómeno de relevo, pela Associação Americana de Psicologia (APA), sendo definida como um “medo crónico de catástrofes ambientais” que pode despoletar reações clínicas como stress, depressão, ansiedade, perturbação de stress pós-traumático (PSPT) e ideação suicida.
Este fenómeno pode ser frequentemente acompanhado por avaliações cognitivas disfuncionais (por exemplo, avaliações do quão perigosas essas alterações são) e pensamentos e preocupações persistentes sobre este tema. Outros autores definem esta condição como uma crise na esperança em relação ao futuro que pode incluir receios e dúvidas existenciais e que pode levar a uma redução na qualidade de vida do sujeito, em diversos contextos.
O grau com que se pode sentir esta ansiedade climática pode variar de ligeira, com sintomas ocasionais, com pouca intensidade e mínimo impacto no funcionamento diário do sujeito, a intensa, com a presença de efeitos emocionais mais extremos, designadamente pensamentos intrusivos, catastrofização da realidade (sobrestimação das consequências negativas) e episódios de tristeza e terror assolador.
Importante será ressalvar, contudo, que a existência de ansiedade climática nem sempre é negativa, do ponto de vista comportamental. Esta preocupação e ansiedade podem ajudar a pessoa a adaptar os seus comportamentos no sentido de diminuir o tamanho da sua pegada ambiental (ou seja, o impacto que a pessoa tem no meio ambiente). Também está relacionada, em alguns casos, com a redução de comportamentos de risco em jovens (por exemplo, fumar). O modo como este fenómeno vai impactuar o nosso estado mental e o nosso comportamento irá depender, como tal, de um conjunto de fatores, entre os quais poderemos sublinhar:
- A distância da pessoa em relação aos efeitos das alterações climáticas e, pelo contrário, a experiência direta do seu impacto: se uma pessoa percebe que as alterações climáticas têm um efeito direto no seu bem-estar, nos seus bens e na sua propriedade, há uma probabilidade acrescida de sentir ansiedade climática, com sintomas negativos intensos.
- O comportamento pró-ambiental da pessoa. Este comportamento é perspetivado como uma poderosa ferramenta de adaptação à ansiedade climática, ajudando a pessoa a manter o foco e a lidar com sentimentos de culpa e ansiedade, levando a uma sensação de eficácia, esperança e a uma melhor autoestima.
Vemos, então, que a ansiedade climática pode ter consequências diversas, nem todas elas negativas, mas que devem ser cuidadosamente consideradas. Na eventualidade de estarmos perante ansiedade e mal-estar acentuados em relação às alterações climáticas, será sempre importante recorrer à ajuda de profissionais de saúde mental competentes.
Num próximo texto iremos abordar estratégias para gerir esta ansiedade, assim como quais as intervenções psicológicas mais eficazes para lidar com este fenómeno. No entanto, se sentir dificuldade em gerir a sua ansiedade em relação a alterações climáticas, é fundamental que procure ajuda. Não está sozinho/a.
Um artigo dos psicólogos Mariana Moniz e Mauro Paulino, da MIND | Instituto de Psicologia Clínica e Forense.
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