O fenómeno do “bullying” tem sido alvo de crescente atenção ao longo dos anos por parte de pais, professores e pela sociedade em geral, mas tal não impede que os seus casos continuem a crescer de frequência e intensidade, em Portugal. Aliás, em 2017, a Unicef colocou Portugal no 15.º lugar de países com mais relatos de bullying na Europa e América no Norte e a prática de bullying tem registado um contínuo aumento ao longo dos anos: em 2022, os casos de bullying aumentaram 37%. 

Perante estes dados, será importante analisar as potenciais causas destes comportamentos agressivos nas crianças e jovens e procurar possíveis soluções, dando especial atenção ao impacto que a empatia nesta população mais jovem tem na prática do bullying. 

Os estudos têm demonstrado que o elo entre a empatia e o envolvimento em comportamentos de bullying é forte e significativo, pelo que o treino e desenvolvimento da empatia podem ser uma chave na prevenção e intervenção sob comportamentos antissociais e de bullying em crianças e jovens.

Consideremos empatia como uma característica humana, composta por uma componente cognitiva, afetiva e comportamental, que deve ser desenvolvida desde cedo na nossa vida. A componente cognitiva diz respeito à nossa capacidade de imaginar as experiências dos outros, compreender as suas emoções e refletir sobre o que deve ser feito para os reconfortar. A componente afetiva é a capacidade de, face a essa informação, experienciarmos, em parte, as emoções dos outros, o que, por sua vez, nos motiva a ajudar os outros, através dos nossos comportamentos, isto é, a componente comportamental. 

O desenvolvimento da capacidade empática é auxiliado, sobretudo, por fatores ambientais e calcula-se que, por volta dos 4-5 anos, a maior parte das crianças é já capaz de considerar a perspetiva de terceiros e de envolver-se eficazmente em estratégias de ajuda. 

No entanto, para crianças que ainda não desenvolveram estas competências, alguns passos podem ser adotados, por pais ou cuidadores, para as auxiliar a compreender melhor os sentimentos dos outros, como:

  1. Discutir os próprios sentimentos e os sentimentos de terceiros: nomear emoções ajuda a criança a reconhecer diferentes sentimentos em si mesma e a desenvolver a consciência necessária para identificar estes sentimentos nos outros. Como tal, pode ser útil verbalizar o que sente em diferentes situações – se está frustrado com algo, dizer à criança que está frustrado e explicar o porquê. 
  2. Validar os sentimentos da criança: ao reconhecer as emoções que a criança manifesta, o adulto não só está a proporcionar um espaço seguro, onde ela pode expressar-se livremente, como a ajuda a reconhecer os sentimentos dos outros e a identificar-se com estes, numa atitude livre de julgamentos. Por exemplo, se a criança sorri depois de receber uma prenda, o adulto pode dizer que “o teu sorriso diz-me que estás feliz e entusiasmado”.
  3. Recorrer a histórias: se está a ver um filme ou a ler uma história com a criança, poderá ser útil pausar e perguntar à criança o que ela acha que a personagem está a sentir. Isto pode ajudá-la, também, a identificar esses sentimentos na vida real. 
  4. Reconhecer e elogiar a criança quando ela age de forma empática: estes elogios irão reforçar o comportamento pró-social da criança e aumentar a probabilidade de este voltar a acontecer.
  5. Manter a paciência: o desenvolvimento de empatia é um processo demorado e as crianças mais novas (por exemplo, do ciclo pré-escolar) podem ter algumas dificuldades em compreender experiências diferentes das suas. Sendo um processo complexo, que se irá desenvolver ao longo de anos, é fundamental manter a calma e paciência ao longo deste desenvolvimento.

As estratégias que apresentámos são mais úteis em crianças mais novas, pelo que outras estratégias poderão ser adotadas quando estamos a falar de adolescentes. 

Por outro lado, o recurso a ajuda especializada poderá ser justificado quando, no ensino primário:

  1. A criança mantém uma incompreensão ou preocupação pelas necessidades e sentimentos dos outros.
  2. A criança revela dificuldades em partilhar ou brincar com os colegas.
  3. A criança mantém comportamentos de bullying ou outros comportamentos agressivos.

Neste caso, não hesite em procurar ajuda. Não está sozinho/a.

Um artigo dos psicólogos clínicos Mariana Moniz e Mauro Paulino, da MIND | Instituto de Psicologia Clínica e Forense.