No entanto, nem sempre somos capazes de valorizar todos os tipos de violência. Sendo que a violência psicológica é um dos tipos de violência que mais facilmente é desvalorizada e desculpada. Isto acontece porque, se repararmos bem, num cenário de violência física, por exemplo, ficam sinais, não há dúvidas quanto à sua existência. Já num cenário de violência psicológica, há, por vezes, dúvidas e as linhas parecem ser mais ténues. Sendo muitas vezes este tipo de violência, sentida como passível de interpretação e, por isso mesmo, duvidosa. Fazendo assim com que vítima, a rede de apoio próxima da vítima e até o próprio agressor relativizem essa violência e a assumam como menos impactante ou relevante.
Sempre que alguém procura deliberadamente fazer o outro sentir-se inferior, torná-lo dependente ou manipular os seus pensamentos e ações, por exemplo, estamos perante gestos de violência psicológica. A violência psicológica está presente muitas vezes de forma encoberta nas relações, sejam elas profissionais, familiares ou outras. E, regra geral, assume alto impacto para a dinâmica emocional da vítima, nomeadamente, gera fragilidades significativas na sua autoestima e a emergência de um traço mais depressivo ou mais ansiógeno.
Perante o impacto da violência psicológica é essencial que todos tenhamos consciência que há palavras e formas de manipulação emocional que podem assumir uma função de bloqueio à saúde da vítima tão ou mais forte que a própria violência física. E que, por isso mesmo, precisamos urgentemente de deixar de a desvalorizar e de deixar de utilizar argumentos como “talvez não tenha sido isso que queria dizer”, “talvez tenhas percebido mal as suas palavras” ou “isso foi só da boca para fora”. É a perpetuação destas crenças que faz com que a violência psicológica seja relativizada, se perpetue e, até por vezes, seja considerada normal.
No fundo, aquilo que temos de manter consciente é que se reagimos perante uma chapada e consideraríamos inadmissível esse ato direcionado a nós ou aos outros, porque haveremos de compactuar com palavras que levam à manipulação e à dependência emocional?
É muito claro o impacto da violência psicológica a curto e a longo prazo e combatê-la exige que cada um de nós passe a valorizá-la e a estar alerta aos sinais que, naturalmente, surgem na sequência da violência psicológica.
Um artigo das psicólogas clínicas Cátia Lopo e Sara Almeida, da Escola do Sentir.
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