No artigo anterior sobre escrita terapêutica, partilhei consigo os benefícios, cientificamente fundamentados, que esta prática pode ter nas nossas vidas: desde o processamento de emoções, à melhoria do sistema imunitário, ao aumento da flexibilidade cognitiva, entre outros.

O problema é que muitos de nós temos resistência em escrever sobre o que se passa dentro dos nossos cérebros, porque tememos abrir uma porta difícil de fechar e não sabemos o que vamos encontrar ou o que vamos fazer com essa informação a que vamos ter acesso. É por essa razão que acabamos por criar oposição a hábitos que nos podem fazer bem, mas que nos levam a recorrer à mesma desculpa desgastada da falta de tempo (exatamente como acontece, por exemplo, com a meditação, sobre a qual pode ler aqui.

Enquanto psicóloga, sou adepta da prescrição da escrita terapêutica, não só em contexto clínico, de acompanhamento e clientes e no tratamento de psicopatologias, como para qualquer pessoa que queira criar este hábito para ter uma maior clareza mental no seu dia a dia. A escrita terapêutica é útil para qualquer pessoa, não precisa de padecer de nada em concreto, basta que queira organizar a sua mente e, por consequência, a sua vida.

Partilho em seguida exercícios de escrita terapêutica que pode fazer no conforto da sua casa, ou em qualquer lugar que lhe possa trazer paz de espírito.

1. Escrita Livre

Defina um temporizador por um período específico (por exemplo, 10-15 minutos) e escreva continuamente sem se censurar. Deixe os seus pensamentos fluírem de forma livre para o papel, explorando quaisquer emoções, memórias ou ideias que venham à mente. Este exercício pode ajudar a libertar emoções reprimidas e a estimular a expressão criativa.

2. Perguntas específicas

Use perguntas específicas, feitas por si ou pesquisadas em sites de Psicologia, para orientar a sua escrita e explorar tópicos ou temas particulares. Essas perguntas podem cobrir uma ampla gama de assuntos, como gratidão, perdão, autodescoberta, resiliência, enfrentamento de desafios e até resolução de problemas. Reflita sobre a pergunta e escreva sobre os pensamentos, sentimentos e experiências que a mesma lhe evoca.

3. Escrita de Cartas

Escreva uma carta para si mesmo(a), para um ente querido ou para alguém por quem tenha sentimentos ou tenha questões não resolvidas. Expresse os seus pensamentos, emoções e desejos de forma honesta e aberta na carta, mesmo que não pretenda enviá-la. Este exercício pode facilitar o processamento emocional, o encerramento de pendências que existem na mente e a autocompreensão.

4. Diálogo Interno

Imagine ter uma conversa consigo mesmo(a) ou com diferentes partes de si, como o seu espírito crítico, a sua criança interior ou o seu “eu” sábio. Registe o diálogo entre essas partes, explorando as suas perspetivas, preocupações, dificuldades e necessidades. Este exercício pode ajudar a promover a autoconsciência, a autocompaixão e a harmonia interior.

5. Mudança de narrativa

Tente reescrever o problema ou situação que está a vivenciar de uma perspetiva diferente, propondo finais alternativos. Isso pode ajudá-lo(a) a reformular a sua narrativa, obter novos insights e a capacitar-se para criar mudanças positivas. Em contexto clínico, esta forma de terapia através da narrativa tem revelado resultados incríveis, mas só são intensificados se ajustados ao perfil e ao problema da pessoa.

6. Escrita baseada em Mindfulness

Pratique a atenção plena enquanto escreve, trazendo toda a sua atenção para o momento presente e para as suas experiências sensoriais. Descreva o ambiente ao seu redor, as sensações e emoções com curiosidade e consciência, sem julgamentos. Isso pode promover o relaxamento e aumentar o seu nível de consciência sobre as coisas.

7. Escrita Criativa

Use guias para escrita criativa, como frases inspiradoras, imagens e/ou paisagens para despertar sua imaginação e criatividade. Dê vida aos seus pensamentos usando os seus sentidos e permitindo-se explorar palavras, narrativas, desfechos diferentes, ideias novas. Esta prática estimula o seu cérebro e fá-lo trabalhar, desafiando os seus pensamentos mais repetitivos a não terem espaço.

Estes são apenas alguns exemplos de escrita terapêutica que pode colocar em prática no seu dia a dia. Experimente-os e veja quais aqueles que têm maiores benefícios para si. Lembre-se de abordar o processo com abertura e curiosidade, e permita-se explorar o seu mundo interior sem que julgue o processo ou o que pensa.

Contudo, devo reforçar que, ainda que possa beneficiar destes exercícios sem terapia, a escrita terapêutica por si só não vai tratar de patologias de forma isolada. Seria muito redutor e até perigoso acreditar em tal coisa. Se padece de alguma doença do foro mental, ou se quiser desenvolver determinadas competências, procure ajuda profissional. Estamos aqui para orientá-lo(a) e prescrever os melhores exercícios adequados para si.