Segundo os dados da 6.ª ronda do COSI Portugal (2022), sistema de vigilância nutricional infantil integrado no estudo Childhood Obesity Surveillance Initiative da Organização Mundial da Saúde/Europa, coordenado pelo Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA), na sua qualidade de Centro Colaborativo da OMS para a Nutrição e Obesidade Infantil, em 2021/2022, 31,9% das crianças tinham excesso de peso, das quais 13,5% apresentavam obesidade.

Entre 2008 (1ª ronda) e 2019 (5ª ronda), Portugal apresentou consistentemente uma tendência invertida da prevalência de excesso de peso e obesidade infantil, mas em 2022 (6ª ronda) esta tendência parece não se confirmar, registando-se um aumento de 1,6 pontos percentuais (11,9% para 13,5%) na prevalência de obesidade infantil e de 2,2 pontos percentuais (29,7% para 31,9%) na prevalência de excesso de peso infantil. De acordo com estes resultados, Portugal situa-se a par da média europeia (29%), com uma em cada três crianças a apresentar excesso de peso.

A região dos Açores foi a que apresentou maior prevalência de excesso de peso, tanto em 2019 (35,9%) como em 2022 (43,0%), e o Algarve foi a região com menor prevalência de excesso de peso nas duas rondas (21,8% em 2019 e 27,7% em 2022). À semelhança das rondas anteriores, em 2021/2022 verificou-se que a prevalência de excesso de peso (incluindo obesidade) aumenta com a idade, com 35,3% das crianças de 8 anos a apresentar excesso de peso, comparativamente com as crianças de 6 anos (29,8%).

Consumo diário de fruta aumentou

O estudo COSI Portugal 2022 analisou também fatores relacionados com o primeiro ano de vida, que se relacionam com o aumento de peso na infância, tais como o estado nutricional da mãe, o peso à nascença e o aleitamento materno. Em 2022, a taxa de aleitamento materno (90,1%) foi semelhante a 2019 (90,3%) e superior comparativamente a 2008 (84,9%). A região dos Açores foi a que apresentou menor taxa de aleitamento materno (73,8%) e o Algarve a que reportou maior taxa (92,7%).

Em relação aos hábitos alimentares das crianças, entre 2019 e 2022, verificou-se que o consumo diário de fruta aumentou de 63,1% para 71,2% e o consumo de até 3 vezes por semana de refrigerantes açucarados diminuiu de 71,3% para 69,1%. Na mesma frequência, o consumo de cereais de pequeno-almoço aumentou de 41,5% para 45,8%, tendo igualmente aumentado o consumo diário destes cereais, de 19,3% (2019) para 23,7% (2022).

Já em relação à atividade física e comportamentos sedentários, de 2019 para 2022, todos os parâmetros estudados relativamente às atividades sedentárias registaram um aumento na ordem dos 2,2 pontos percentuais a 9,3 pontos percentuais%, com o maior aumento verificado no uso de computadores para jogos eletrónicos (dias da semana), pelo menos 2h/dia, de 18,1% para 27,4% entre os dois períodos. Em 2021/2022, os pais/encarregados de educação reportaram ainda que a maioria das crianças (69,2%) ia de automóvel para a escola e 20,3% deslocava-se a pé.

Menos alimentos nocivos nas escolas

Quando analisado o ambiente escolar, em comparação com a ronda anterior (2019), verificou-se uma diminuição da disponibilidade de alimentos como snacks doces e salgados (de 11,1% para 5,7%), refrigerantes açucarados, sumos de fruta e bebidas com gás açucaradas dentro do recinto escolar (de 4% para 1%). Pelo contrário, verificou-se um aumento da disponibilidade de legumes (de 32,4% para 43,9%) e fruta fresca (de 62,2% para 72,2%).

Para além da monitorização da prevalência de excesso de peso e de obesidade infantil, a 6ª ronda do estudo COSI incluiu, excecionalmente, um estudo (COSI/COVID19) de avaliação do impacto da pandemia por SARS-CoV2/COVID-19 no estado nutricional e nos comportamentos associados ao estilo de vida de crianças em idade escolar. Este estudo, realizado em 43000 famílias de 13 países da Europa, sob a liderança científica do INSA em colaboração com o Gabinete Europeu da OMS para a Prevenção e Controlo de Doenças Crónicas Não-Transmissíveis, teve como objetivo conhecer e compreender o impacto da pandemia nas rotinas diárias, bem-estar, hábitos alimentares, de atividade física, comportamentos sedentários, saúde mental, estatuto socioeconómico das famílias e perceção do estado nutricional das crianças.

O COSI Portugal 2022, no qual participaram 226 escolas e foram avaliadas 6205 crianças, foi implementado a nível regional, em articulação com as Administrações Regionais de Saúde (Norte, Centro, Lisboa e Vale do Tejo, Alentejo, Algarve) e Direções Regionais de Saúde dos Açores e da Madeira, constituindo-se como uma rede sistemática de recolha, análise, interpretação e divulgação de informação descritiva sobre o estado nutricional infantil de crianças portuguesas em idade escolar do 1º Ciclo EB, dos 6 aos 8 anos.

O relatório Childhood Obesity Surveillance Initiative: COSI Portugal – Relatório 2022 pode ser consultado, em acesso aberto, no repositório científico do INSA em http://repositorio.insa.pt/handle/10400.18/8630.