É do conhecimento geral que não devemos estar expostos ao sol entre as 11h00 e as 17h00. Mas as praias continuam a estar cheias às 12h00, 13h00 ou 14h00. E se a desculpa é que é só durante uma hora, a médica Helena Toda Brito, especialista em Dermatologia, deixa o alerta. "A exposição da pele à radiação ultravioleta de elevada intensidade, como a emitida pelo sol no horário entre as 11h00 e as 16h00, pode provocar uma queimadura solar mesmo que a exposição seja de curta duração. Este risco é maior nos fotótipos baixos (peles claras) e nas primeiras exposições ao sol", afirma a dermatologista.

Um único episódio de queimadura solar pode aumentar o risco de cancro de pele, sobretudo se ocorrer na infância. "As queimaduras solares na infância são particularmente graves, porque existe um período temporal mais longo para as alterações celulares resultantes da radiação solar poderem provocar cancro de pele", adverte a médica. "Sabe-se que a ocorrência de cinco ou mais queimaduras solares - os escaldões - entre os 15 e 20 anos aumenta o risco de melanoma, o tipo de cancro de pele mais grave, em 80%", indica.

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Em 2018, foram diagnosticados em Portugal cerca de 1.000 novos casos deste tipo de cancro maligno, segundo dados da Associação Portuguesa de Cancro Cutâneo (APCC). Nos países ocidentais, a incidência do melanoma tem aumentado de ano para ano e em Portugal não é diferente, complementam as informações disponibilizadas na página da Liga Portuguesa Contra o Cancro (LPCC).

Segundo a APCC, 90% das mortes por cancro de pele são evitáveis. "Se pensarmos no número de mortes, nós temos mais de uma pessoa a morrer por dia por cancro de pele. Diria que 90% dos cancros de pele ou 90% das mortes por cancro de pele seriam potencialmente evitáveis", diz o médico Ricardo Vieira, dermatologista e secretário-geral da APCC.

Mudar de protetor quando já estamos bronzeados?

Embora algumas pessoas usem um filtro solar com um índice de proteção mais elevado nos primeiros dias de exposição solar, há quem depois opte por diminuir o SPF quando a pele já está bronzeada. A especialista Helena Toda Brito desaconselha essa prática. "Embora o risco de queimadura solar seja maior nas primeiras exposições solares, diminuindo ligeiramente com a proteção conferida pela melanina, o meu conselho é optar sempre pelo índice de proteção solar (SPF) mais elevado", adianta.

"É importante não esquecer que em condições reais de utilização, a proteção conferida pelo protetor solar é muito inferior à indicada no rótulo do produto, porque a maioria das pessoas não aplica protetor solar em quantidade suficiente, não o espalha adequadamente (deixando áreas da pele por cobrir), não o reaplica com a frequência aconselhada, e acaba por ocorrer remoção acidental pela água, transpiração e contacto com superfícies", acrescenta.

"Além disso, a aplicação de protetor solar é importante não só para evitar a queimadura solar, como também para evitar os danos provocados pela exposição crónica à radiação solar como o aumento do risco de cancro de pele, envelhecimento acelerado da pele e manchas", adverte.

Para a dermatologista Helena Toda Brito, é possível usar o mesmo SPF durante todo o ano, sendo aconselhável que este seja igual ou superior a 30. "Deve aplicar-se cerca de 30 minutos antes da exposição solar uma camada espessa e homogénea de protetor solar em todas as áreas expostas. Deve prestar-se atenção a áreas frequentemente esquecidas, como as orelhas, dorso do nariz, couro cabeludo e dorso dos pés", explica.

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Dra. Helena Toda Brito, médica dermatologista créditos: Luis de Barros

"Durante a exposição solar, deve estar-se à sombra e reaplicar o protetor solar de duas em duas horas e sempre que transpirar, mergulhar ou ocorrer remoção acidental, mesmo que ainda não tenham passado duas horas. A utilização de chapéu, óculos de sol e roupa protetora também são medidas importantes de proteção solar", alerta a especialista.

E se a questão for que protetor solar usar, a médica Helena Toda Brito não tem dúvidas. "Um bom protetor solar tem um índice de proteção solar elevado igual ou superior a 30, tem um amplo espectro de proteção (protegendo não só das radiações ultravioleta A e B, como também da luz visível e radiação infravermelha), é resistente à água e tem uma cosmeticidade agradável", descreve.

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Embora nenhum protetor solar seja totalmente resistente à água, a tecnologia tem evoluído bastante nesse sentido, existindo atualmente protetores solares que conseguem resistir melhor à remoção acidental. "É o caso da tecnologia netlock, que prende os filtros solares em microcristais para formar uma rede forte, flexível e homogénea na superfície da pele, que resiste mais eficazmente à remoção acidental pela água, suor e areia", refere a médica.

No caso das crianças, os protetores solares devem ser hipoalergénicos, ter um índice de proteção solar elevado e ser mais resistentes à água e areia. "É importante adaptar o protetor solar ao tipo de pele, que tem características e necessidades diferentes conforme a idade. As peles maduras são habitualmente mais secas, beneficiando de um protetor solar com uma textura mais rica como creme ao invés de gel", sugere.

"Após a exposição solar, é importante hidratar bem a pele, sendo úteis os cremes after-sun, que são especificamente formulados para ajudar a pele a hidratar, acalmar e reparar após a exposição solar", diz.

Protetor solar dentro de casa?

Mesmo dentro de casa, os raios de luz ultravioleta e de luz visível podem afetar-nos, seja através das janelas ou varandas, seja pela utilização de smarphones, tablets, computadores e luzes led.

"É aconselhável usar protetor solar dentro de casa, porque mesmo nos interiores acaba por ocorrer exposição a radiação solar nas varandas e junto a janelas, e a outras fontes de radiação - a luz visível proveniente de dispositivos eletrónicos - que podem ser prejudiciais à pele", recorda a especialista.

"Este cuidado é particularmente importante quando o objetivo é evitar o fotoenvelhecimento - o envelhecimento acelerado provocado pela exposição solar - e o aparecimento ou agravamento de manchas, e nas situações em que a pele está mais sensibilizada pela realização de tratamentos dermatológicos, como laserterapia ou peeling químico", exemplifica a médica.

Mas serão as luzes interiores e a luz dos computadores e telemóveis mesmo nocivas para a pele? A dermatologista Helena Toda Brito frisa: "Sim, as evidências recentes demonstraram que a luz visível emitida pelas fontes artificiais de luz são nocivas para a pele, contribuindo para o envelhecimento precoce e o aparecimento de manchas e rugas".

"A aplicação diária de protetor solar, mesmo nos interiores, é um aliado para proteger a pele deste tipo de radiação", reitera a dermatologista.

Vídeo: Dicas para escolher o protetor solar ideal

Edição e produção de imagem: LSM Audiovisuais.