“Numa altura em que é bem claro para a classe médica, bem como para os cidadãos, a existência de enormes insuficiências na entrega de cuidados de urgência na nossa rede hospitalar, torna-se indispensável dar este passo real na prossecução da melhoria desses cuidados”, refere o documento a que a agência Lusa teve acesso.

Nesta tomada de posição, os signatários lembram que esta é uma especialidade com mais de 50 anos “presente na esmagadora maioria dos países da Europa, nos quais constitui um dos pilares fundamentais dos cuidados médicos”, mas que só agora os médicos portugueses “vão decidir da bondade da sua criação”.

O assunto vai estar em debate na Assembleia de Representantes da Ordem dos Médicos, agendada para 12 de dezembro.

O manifesto alerta ainda que os diretores de serviços e de departamentos de urgência são chamados a assumir a responsabilidade de coordenação, mas com “capacidade interventiva limitada por ausência de equipa própria, gerindo a atividade deste serviço na articulação de escalas e mediação de conflitos entre serviços e departamentos, o que se torna profundamente redutor”.

“São eles quem diariamente vivenciam de perto as dificuldades da organização de cuidados e que, como ninguém, conhecem este universo labiríntico de problemas”, adiantam os médicos subscritores, antigos e atuais diretores de urgências de vários hospitais públicos e privados do país.

Impulsionado pelo diretor da Unidade Autónoma de Gestão de Urgência e Medicina Intensiva do Centro Hospitalar de São João, Nelson Pereira, o manifesto refere que a Medicina de Urgência é uma especialidade primária que se estabelece com os conhecimentos e as competências necessárias para a prevenção, diagnóstico e gestão dos aspetos urgentes e emergentes das vítimas de doença ou acidente.

“A prática da Medicina de Urgência inclui os aspetos extra-hospitalares e hospitalares da triagem, reanimação, avaliação inicial e gestão de todos os doentes urgentes e emergentes até à alta hospitalar ou até à transferência de cuidados para outra especialidade. Engloba por isso a atividade pré-hospitalar e ainda a resposta a situações de acidente grave ou catástrofe”, indica o documento.

Numa reação à Lusa, o diretor executivo do Serviço Nacional de Saúde (SNS) salientou que a criação da especialidade de Medicina de Urgência constitui como “um eixo fundamental na estratégia delineada” para esta área.

“É significativo que tão grande número de diretores de urgência reconheça a necessidade de criação da especialidade de Medicina de Urgência. São eles quem, dia após dia, vivenciam as dificuldades de manutenção deste serviço vital da rede cuidados de saúde”, adiantou Fernando Araújo.

Segundo Fernando Araújo, a existência dessa especialidade permitirá a definição de uma carreira, melhorando a qualificação dos médicos, mas também criando condições para recrutar e fixar mais desses profissionais de saúde no SNS.

“Este caminho não coloca em causa a presença das outras especialidades nos serviços de urgência, bem como o seu relevantíssimo papel”, disse Fernando Araújo.