“Do ponto de vista clínico, é um Encontro muito rico e em que procuramos estar sempre em diálogo com os nossos colegas que venham assistir e participar. Debater opções terapêuticas, referenciação, vigilância e tratamentos em cada uma dessas áreas e em patologias específicas é o nosso principal objetivo nestas sessões”, disse ao HealthNews o Presidente do Conselho Clínico Superior da Luz Saúde, José Roquette.

HealthNews (HN)- Como é que surgiu a ideia deste Encontro na Luz?
José Roquette (JR)- A ideia surgiu na sequência de um programa que nós desenvolvemos praticamente desde a abertura do hospital, dirigido aos médicos associados, aos colegas que não trabalham no Hospital, mas que referenciam para o Hospital da Luz, para diagnóstico ou terapêutica. Muitos deles são médicos de Medicina Geral e Familiar, com quem, durante muito tempo, fizemos reuniões mensais. Com a pandemia, tivemos de suspender as reuniões presenciais. Passámos aos encontros à distância, online e em streaming, e o sucesso não foi grande. Portanto, a certa altura, decidimos que, em vez de voltarmos às reuniões mensais, deveríamos recomeçar estes nossos encontros com uma grande reunião anual.

Organizamos agora este encontro com esse fim: juntar os colegas que são nossos médicos associados, chamar para o hospital os MGF da zona de Lisboa e da zona Sul, e debater com eles os problemas que normalmente lhes surgem, quais são as maneiras de resolver os problemas clínicos mais frequentes e em que medida é que o Hospital da Luz tem a possibilidade de interagir com eles, no sentido de os ajudar a resolver esses problemas. Em simultâneo, mostrar-lhes quais são as últimas inovações que o Hospital tem e que lhes podem permitir tratar com melhor qualidade os seus pacientes.

HN- Porque é que decidem dirigir-se essencialmente à Medicina Geral e Familiar?
JR- Porque a estrutura da Medicina Geral e Familiar, muitas vezes, precisa de apoios complementares além da área clínica. Esses apoios complementares, por vezes, são difíceis de obter em ambiente público, porque demoram, porque é difícil a relação, porque há muita burocracia. Os colegas da Medicina Geral e Familiar, assim, sabem que há um sítio onde podem solicitar o tratamento para os seus doentes e acompanhar de perto todo o percurso que eles fazem connosco, contactando com os seus colegas especialistas hospitalares com facilidade e acedendo aos resultados de exames e relatórios.

HN- O que vai acontecer exatamente neste Encontro de 12 de novembro próximo?
JR- Vamos ter sessões clínicas para discutir casos concretos de Neurologia, Gastrenterologia e Cardiologia, entre outros, com especialistas Hospital da Luz. Do ponto de vista clínico, é um Encontro muito rico e em que procuramos estar sempre em diálogo com os nossos colegas que venham assistir e participar. Debater opções terapêuticas, referenciação, vigilância e tratamentos em cada uma dessas áreas e em patologias específicas é o nosso principal objetivo nestas sessões.

Por outro lado, teremos ainda oportunidade de oferecer aos nossos participantes sessões de formação em ambiente de simulação, no Centro de Simulação do Hospital da Luz Learning Health. Temos um centro de formação altamente equipado, que permite o treino de aptidões e procedimentos clínicos, bem como o desenvolvimento de formação em áreas muito concretas. Têm de vir conhecer o nosso Centro de Simulação. É muito disruptivo e estimulante na prática médica.

HN- Pode ser mais concreto? O que tem, de facto, de mais inovador este centro de formação e simulação do Hospital da Luz?
JP- São 1200 m² de um hospital (de simulação) dentro do Hospital da Luz, que nos dão uma visão global do que é a formação e como é que ela deve ser feita. Já não se pode martirizar os doentes, como acontecia quando eu estava em formação, em que entravam 30 alunos numa sala e todos iam palpar a barriga de um doente. Sempre que possível, temos de substituir tudo o que é a formação clínica, a observação do doente, o exame objetivo e determinados procedimentos que já referi por processos de simulação, que criam um ambiente muito realista e permitem uma imersão completa no ambiente da prestação de cuidados, tal como se ela estivesse a acontecer com doentes reais.

No nosso Hospital, esses processos de simulação estão complemente padronizados. Temos equipas que fazem essa formação, que estruturam todo o processo previamente, para se definir o que é necessário, em que áreas é que devemos investir mais, etc. Depois, estabelecemos uma articulação muito forte com a Academia.

HN- As possibilidades de formação e treino dos médicos aumentam e tornam-se mais interessantes. Mas será que aqueles que estão todos os dias nos centros de saúde e nos hospitais, a trabalhar noite e dia, têm mesmo tempo para se atualizarem? E que ganhos podem daí resultar para os doentes?
JR- Impedir os médicos de fazerem uma formação adequada e terem conhecimentos mais atuais, para nós, é uma coisa que desvirtua o conceito hipocrático da formação dos médicos. Os médicos devem estar atualizados com o maior número de conhecimentos possível, porque há circunstâncias em que essa atualização lhes permite ter uma perspetiva mais adequada.

Vou-lhe dar um exemplo. Nós temos um grupo muito significativo de doentes em ensaios clínicos. Desde o início, já participámos em mais de 500 ensaios clínicos. Estes são particularmente relevantes porque estamos a pôr em prática, sem custo – porque quem suporta os custos é a indústria farmacêutica –, a utilização de novos produtos, nomeadamente na área da oncologia, onde quase todos os dias estão a aparecer novidades que fazem uma diferença substancial em termos de sobrevida e qualidade de vida.

Por isso, facultarmos este conhecimento aos médicos, sem custos para os doentes, facilita e pode ser muito útil à sociedade, em geral, e ao doente, em particular.

HN- Que meios de diagnóstico essenciais deveriam estar sempre à disposição dos médicos de família?
JR- Não se pode generalizar tudo, mas, provavelmente, alguns exames complementares como o electrocardiograma ou a radiografia simples do tórax poderiam estar disponíveis nos cuidados de saúde primários.

De qualquer modo, a ponderação sobre essa questão deve ter em conta várias variáveis, como a distância ao hospital central mais próximo, a possibilidade da telemedicina, etc.

HN- Espera que o novo estatuto e o diretor executivo do SNS tragam mudanças positivas?
JP- Eu desejo que corra bem, sinceramente. O conceito ainda me parece confuso, sobretudo pela aparente duplicação de funções.

Conheço o ministro e o diretor executivo e reconheço-lhes as condições e as qualidades para o exercício destes cargos. Só não sei se a interação vai ser profícua como desejado, porque vejo com alguma dificuldade a separação das águas.

Mas espero que corra tudo bem, porque só temos a ganhar com isto. São duas escolhas muito válidas, têm feito um trabalho notável. Não são colegas ‘virgens’ neste campo, têm experiência de administração. Logo, não há razão nenhuma para que isto não corra bem, a não ser, às vezes, esta fricção que pode existir entre situações que estão muito próximas.

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Entrevista de RA