Durante o envelhecimento ocorrem dois processos evolutivos e independentes na nossa coluna vertebral: redução da densidade mineral óssea e alterações degenerativas ao nível dos discos intervertebrais, ligamentos e articulações que se tornam mais rígidas. Estas alterações originam um quadro de instabilidade, deformidade e diminuição do diâmetro dos buracos por onde passam e saem os nervos da coluna. Estes processos podem originar dor ou um defeito funcional com implicações no nosso quotidiano.

Importância da avaliação médica

Quando pensamos no tipo de intervenção a realizar nestes casos deve ser feita uma avaliação clínica completa. Os exames de imagem são essenciais para excluir eventuais fraturas, infeções ou mesmo malignidade como causa da dor. Esta avaliação é importante no planeamento do tratamento, assim como na gestão das expetativas do doente, principalmente no efeito terapêutico a longo prazo e no resultado esperado no imediato.

A dor, a maior parte das vezes, é multifatorial

Qualquer estrutura anatómica que possua uma inervação por fibras com capacidade de transmissão álgica pode ser o foco da dor. São exemplos os discos intervertebrais, facetas articulares, nervos raquidianos, ligamentos e músculos. Por isto, mesmo com um exame físico exaustivo, pode não ser fácil indicar a localização exata do foco da dor.

Tratamento

Uma abordagem conservadora com medicação dirigida e fisioterapia resolve uma grande percentagem das situações clínicas. Quando os sintomas se agudizam pode ser necessário uma reavaliação e ser considerada uma cirurgia.

Há uns anos atrás, este tipo de intervenção suscitava fortes receios por parte do doente, mas, hoje em dia, as técnicas cirúrgicas para este tipo de patologia são cada vez menos invasivas e, assim, os procedimentos são realizados em regime de ambulatório, pois os pós-operatórios são cada vez melhor tolerados. A realidade é que atualmente é possível tratar uma hérnia discal lombar através de uma incisão de 2 cm, ou até menos, se tivermos em conta que existem técnicas endoscópicas cujo acesso tem menos de 1 cm.

Portanto, a cirurgia quando indicada é um método seguro, com baixo risco de complicações e com efeito terapêutico altamente eficaz. O receio, a maior parte das vezes injustificado, de riscos cirúrgicos elevados que podem incorrer em défices neurológicos graves, se algum dia existiu, já faz parte de um passado distante.

Mas além da cirurgia, nos últimos anos têm surgido uma série de avanços na abordagem ao doente com dor crónica, incluindo terapêuticas de intervenção percutânea, com respostas duradouras e fundamentais no controlo de uma situação que pode ser extremamente incapacitante.

Estes avanços tecnológicos incluem dispositivos de perfusão implantáveis, radiofrequência e outras técnicas neuroablativas, neuroestimuladores medulares e nucleoplastia percutânea.

Apesar destas técnicas serem “tentadoras” devido ao baixo grau de agressividade, nem todos os doentes podem/devem ser submetidos a elas. Os doentes que poderão beneficiar destas técnicas para o tratamento da dor são aqueles que não apresentam uma indicação cirúrgica evidente, têm comorbilidades que impedem a realização de uma cirurgia ou estão polimedicados, com diversos tipos de analgésicos e anti-inflamatórios em doses elevadas, e que persistem com sintomas álgicos incapacitantes.

Para serem seguros e eficazes, estes procedimentos percutâneos para o tratamento da dor necessitam de uma imagem em tempo real, devendo utilizar-se um aparelho de Raio-X/TAC ou ecógrafo e devem ser feitos num ambiente de bloco operatório com medidas antissépticas.

Mas ao tratar estes doentes temos de ter sempre em conta duas componentes: a física mas também psicológica, que tem de ser sempre avaliada. A necessidade de acautelar a saúde mental do doente é fundamental para o sucesso terapêutica, não devendo ser descurada tanto pelo médico como pelo doente.

O dor crónica pode ser subjetiva mas o objetivo do seu tratamento é concreto: abordar de uma forma multidisciplinar para preservar a função e prevenir a incapacidade.

Um artigo do médico Edson Santos Oliveira, neurocirurgião no Hospital CUF Descobertas, na Clínica CUF Mafra, no Hospital CUF Santarém e no Hospital CUF Torres Vedras.