O que é a insuficiência cardíaca?

A insuficiência cardíaca é uma doença do coração em que, por vários motivos, este órgão não consegue bombear sangue em quantidade suficiente para fornecer ao resto do organismo o oxigénio e nutrientes que este necessita. Esta situação leva a que um doente com insuficiência cardíaca se sinta cansado, com falta de ar e com inchaço nas pernas.

Qual é a prevalência da doença em Portugal? Existem grupos de risco?

Em Portugal, pensa-se que cerca de quatro em cada 100 adultos sofram de insuficiência cardíaca. No entanto, estes dados têm mais de 20 anos, e com o envelhecimento da população portuguesa, é provável que tenhamos atualmente muito mais doentes, pois a idade é um fator muito importante para o surgimento desta doença. Existem determinados fatores que aumentam a probabilidade de se vir a desenvolver insuficiência cardíaca. Entre eles, saliento os doentes que tiveram um enfarte agudo do miocárdio, ou que têm doença das artérias do coração (doença coronária), doentes com hipertensão arterial ou diabetes, e aqueles que tomaram determinados fármacos oncológicos. O consumo excessivo de álcool pode também causar insuficiência cardíaca. Existem igualmente algumas doenças do músculo cardíaco que são hereditárias, isto é, passam de pais para filhos.

Quais são os sintomas mais comuns?

Os sintomas mais comuns associados à insuficiência cardíaca são o cansaço, particularmente quando se realizam esforços; a falta de ar quer em repouso, quer em esforço; a falta de ar que é pior quando se está deitado, ou que acorda o doente de noite de repente; os desmaios súbitos e o inchaço nas pernas.

Como é feito o diagnóstico? Geralmente, os casos são detetados atempadamente ou o diagnóstico acaba por ser feito mais tarde, quando surgem situações de urgência?

Habitualmente, o diagnóstico é feito associando os dados das queixas do doente a algumas análises e exames ao coração, nomeadamente o eletrocardiograma, o ecocardiograma e o raio X de tórax. Quando a suspeita de insuficiência cardíaca é forte podem ser realizados outros exames mais complexos, geralmente, realizados a nível hospitalar. Infelizmente, tendo em consideração que as queixas dos doentes muitas vezes não são muito típicas, o que acontece é que a maioria dos casos acaba por ser apenas diagnosticado no hospital, quando o doente tem uma descompensação de insuficiência cardíaca e tem de ir ao Serviço de Urgência.

médico cardiologista Rui Baptista.
Prof. Rui Baptista, médico cardiologista

Como é feito o tratamento da insuficiência cardíaca?

A insuficiência cardíaca trata-se utilizando várias ferramentas ao nosso dispor. Em primeiro lugar, há que seguir várias indicações relativas ao estilo de vida. É importante seguir um estilo de vida saudável, reduzindo particularmente o consumo de sal. A vacinação contra a gripe e a pneumonia são particularmente importantes, bem como o controlo do peso, pois o agravamento da insuficiência cardíaca manifesta-se, muitas vezes, por retenção de líquidos que aumentam rapidamente o peso do doente em 3-5 dias. O consumo de álcool e de tabaco devem ser igualmente eliminados.

Do ponto de vista de tratamento medicamentoso, existem fármacos muito eficazes para tratar os sintomas e melhorar, não só a qualidade de vida, mas também a esperança de vida dos doentes. Além disso, pode haver ainda lugar para a cirurgia cardíaca e/ou implantação de dispositivos cardíacos semelhantes a pacemakers. Finalmente, e dependendo da causa da insuficiência cardíaca, o doente poderá ser submetido a procedimentos específicos, de forma a tratar ou curar a causa da insuficiência. Casos muito graves, poderão ser candidatos a transplante cardíaco, ou implantação de dispositivos que substituem a função cardíaca.

Os doentes com insuficiência cardíaca têm hospitalizações frequentes. O que pode ser feito em termos de prevenção?

A insuficiência cardíaca é marcada por internamentos devidos a descompensações que podem ser mais ou menos frequentes, conforme os doentes e a gravidade da insuficiência cardíaca subjacente. Para evitar estes reinternamentos é importante que a nível hospitalar sejam introduzidos os medicamentos que podem evitar estas situações, bem como serem abordadas todas as outras doenças que, associadas à insuficiência cardíaca, podem promover estes reinternamentos. Por outro lado, a existência de clínicas de insuficiência cardíaca, dedicadas ao seguimento e tratamento destes doentes,  podem ajudar a mitigar o risco de internamento. Por fim, a educação dos doentes e das suas famílias relativamente aos sinais e sintomas de insuficiência cardíaca e cuidados a ter pós-alta é fundamental. O controlo do peso regularmente, a toma correta da medicação e alguns cuidados com a ingestão de sal e água podem, entre outras medidas, ter um papel muito importante para evitar os reinternamentos.

Que mensagem gostaria de deixar para os doentes e respetivos familiares?

A mensagem principal que gostaria de deixar aos doentes e às suas famílias é que, hoje em dia, um diagnóstico de insuficiência cardíaca não significa que estamos perante uma situação irremediável e sem solução. Na realidade, a evolução tecnológica tem sido extraordinária nos últimos anos, levando ao desenvolvimento de múltiplas estratégias terapêuticas que podem ajudar os doentes a viver uma vida quase normal.