Existem dois tipos de AVC: o AVC isquémico provocado pela obstrução/oclusão de uma artéria e o AVC hemorrágico em que é a rutura de um vaso sanguíneo que provoca o evento.

A nível mundial, uma em cada seis pessoas sofrerá um AVC. Em Portugal, esta é a principal causa de morte. Por hora, três portugueses sofrem um AVC, sendo que um não sobreviverá. Dos sobreviventes, cerca de metade ficará com sequelas importantes. Existem, no entanto, alguns mitos que importa esclarecer.

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1. O AVC só acontece aos idosos

Não é verdade, cerca de um quarto dos AVC ocorre em pessoas com menos de 65 anos. Além disso, crianças e jovens também podem ter AVC. Nestes casos, a etiologia é outra, habitualmente associado a doenças genéticas, a infeção ou disseção das artérias (normalmente associada a traumatismo).

2. Os sintomas de AVC são difíceis de identificar

Os sintomas mais frequentes são habitualmente conhecidos pelos “3 F’s”. São eles: a Face descaída, dando uma sensação de assimetria do rosto; a diminuição da Força num braço (acompanhada ou não de diminuição de força na perna); e a dificuldade na Fala, dificuldade em ter qualquer tipo de discurso, fala arrastada ou existência de discurso pouco compreensível e sem sentido. No entanto, devemos considerar os 5 ”F’s”, acrescentando a Falta súbita de visão, a pessoa que deixou subitamente de ver de um ou de ambos os olhos, ou ficou subitamente a ver a dobrar; e a Forte cefaleia, dor de cabeça súbita e muito intensa, diferente do habitual e sem causa aparente. Na presença destes sintomas, deve ligar o 112. 

3. O sintoma mais frequente do AVC é a dor de cabeça

Não é verdade, só cerca de 30% dos doentes com AVC referem cefaleias (dor de cabeça).

4. A dor no peito é um sinal de AVC

O AVC acontece no cérebro, quando é interrompido o aporte de oxigénio e nutrientes às células cerebrais. Não acontece no coração, sendo que a dor no peito acontece no enfarte cardíaco. Contudo, existem doenças cardíacas que aumentam o risco de sofrer um AVC, entre elas a fibrilação auricular.

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5. Se descansar, os sintomas desaparecem

Sempre que surge algum sinal de alerta, deve telefonar, de imediato, para o INEM (112). Se ficar em casa, perde a possibilidade de receber tratamento eficaz, além de que, após um AVC, existe um risco mais elevado de sofrer um novo evento, mais grave, se não for tratado.

O tratamento imediato pode ser a diferença entre a vida ou a morte e a única maneira de conseguir uma recuperação completa ou evitar sequelas graves.

6. Se tiver sintomas, mas recuperar em pouco tempo não preciso tratamento

Quando apresenta sintomas, mesmo que transitórios (acidente isquémico transitório - AIT), continua a ser necessário ser observado pelo médico, pelo que deverá contactar o 112. Um em cada 3 doentes que sofrem um AIT terão um AVC grave.

7. Quando presenciar um AVC devo levar o doente diretamente ao hospital

Sempre que surge algum dos sinais de alerta, deve ser ativado o 112, que disponibilizará os meios de auxílio específicos ao acionar a Via Verde do AVC, promovendo o transporte do doente ao hospital mais adequado, que assegurará o tratamento correto e o mais precoce possível.

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8. Não existe tratamento para o AVC

Na verdade, existe a hipótese de tratamento eficaz em algumas situações. No caso do AVC isquémico, é possível, em condições específicas, realizar trombólise (administrar um fármaco que permite diluir o trombo que está a obstruir a artéria) ou trombectomia (retirar o trombo da artéria através de um procedimento específico - cateterismo). Em qualquer um destes tratamentos, o resultado depende muito da precocidade da intervenção. No caso dos AVC hemorrágicos poderá também, em situações muito específicas, ser necessário a correção endovascular do vaso que sangrou ou mesmo intervenção cirúrgica.

9. Posso tratar o AVC com ácido acetilsalicílico

Apesar de ser verdade que o ácido acetilsalicílico pode ser usado no tratamento dos doentes com AVC, não pode ser utilizado em todas as situações de AVC, podendo mesmo ser prejudicial nos doentes com AVC hemorrágico. Só após avaliação médica se pode decidir a necessidade de terapêutica com ácido acetilsalicílico. Sempre que suspeitar que está a sofrer um AVC deve ligar 112.

10. O AVC não se pode prevenir

Alguns fatores determinantes como a genética, a idade ou o género não são modificáveis, no entanto, existem alguns fatores de risco que devidamente controlados podem diminuir o risco de sofrer um AVC. Assim, controlar a pressão arterial, a glicemia (níveis de açúcar no sangue) e o colesterol, adotar uma alimentação saudável, pobre em gorduras e sal, praticar exercício físico regularmente, não fumar (fumar duplica o risco de ter um AVC), nem consumir bebidas alcoólicas em excesso, são pequenas ações que, certamente, farão a diferença e ajudarão na prevenção. Nas pessoas que têm fibrilação auricular (tipo de arritmia cardíaca) existe a possibilidade de uma terapêutica específica para prevenir AVC.

As explicações são da médica Luísa Fonseca, Assistente Hospitalar graduada de Medicina Interna, Coordenadora da Unidade AVC do Centro Hospitalar Universitário S. João e Coordenadora do núcleo de Estudos da Doença Vascular Cerebral da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna.

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