Em declarações à Lusa, Marta Gabriel, investigadora do instituto sediado no Porto, explicou hoje que o estudo visava “traçar as condições do ambiente interior” destas infraestruturas públicas de lazer e bem-estar.

“Queríamos recolher uma amostra que fosse representativa dessas condições para realizar trabalho de caracterização ambiental de forma a identificar alguns problemas, mas também oportunidades de melhorias das piscinas”, frisou.

Integrado no projeto ‘HEBE – Health, Comfort and Energy in the Built Environment’, o estudo, publicado em algumas revistas científicas, entre elas a 'Environment International', contou com a colaboração de 17 municípios do Norte do país e duas entidades desportivas.

Segundo Marta Gabriel, depois de analisadas as condições de segurança, qualidade da água e do ar ambiente de acordo com os critérios Organização Mundial de Saúde (OMS) e da legislação portuguesa, as 21 piscinas apresentaram "boas condições".

No entanto, alguns casos revelaram que "as piores condições de ventilação, induzem a maiores concentrações de subprodutos de desinfeção", especialmente em períodos de elevada afluência.

"Em períodos de elevada afluência, existe uma maior transferência dos subprodutos de desinfeção da água para o ar, o que indica que a exposição poderá ser potencialmente aumentada nesses períodos", afirmou Marta Gabriel.

Segundo a investigadora, uma maior exposição a estes produtos de desinfeção pode vir a representar “riscos para a saúde”, nomeadamente, desconfortos e irritação ocular e respiratória, apesar dos valores obtidos nas 21 instalações "não serem alarmantes".

“Desconfortos e irritação a nível ocular e respiratória são os efeitos mais imediatos que a química que se verifica na piscina pode espoletar nos utilizadores. No entanto, já estão descritos dados de que uma ‘família’ de produtos de desinfeção da água (…) pode também levar ao desenvolvimento de cancro”, disse.

À Lusa, a investigadora adiantou que, atualmente, a regulamentação "não estabelece valores limites para a qualidade do ar" destes estabelecimentos cobertos.

"Ainda não há dados ambientais suficientes que suportem a criação de valores limites para estes produtos [de desinfeção]. Este trabalho vem nesse sentido, de gerar mais informação para suportar a criação de medidas de prevenção e de estabelecimento de valores limites para estes compostos das piscinas interiores", referiu.

Marta Gabriel defendeu por isso a necessidade de ser desenvolvida "mais informação", por forma a evitar “perigos colaterais” e garantir que as piscinas continuam a ser “espaços promotores de saúde”.

O projeto ‘HEBE', desenvolvido ao longo dos últimos três anos e financiado pelo Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER), contou também com a colaboração da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) e do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP), tendo sido coordenado por Eduardo de Oliveira Fernandes, professor emérito da UP.