Numa altura em que o Serviço Nacional de Saúde passa por um dos maiores desafios desde a sua criação há mais de quatro décadas, face à pandemia viral de COVID-19 que tem confinado o mundo, Ricardo Baptista Leite, médico infeciologista, coordenador científico de saúde pública no Instituto de Ciências de Saúde da Universidade Católica e deputado na Assembleia da República tem refletido muito sobre as mais-valias, os problemas e os desafios de um sistema que, segundo acredita, "precisa de se reinventar".

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Em entrevista à edição de fevereiro da revista Prevenir, já nas bancas, o médico, que também é assistente convidado na faculdade de ciências médicas Nova Medical School e autor do livro "Um caminho para a cura", publicado pela editora D. Quixote, põe o dedo na ferida, criticando "a incapacidade de manter a qualidade [do Serviço Nacional de Saúde]". "Não temos um serviço nacional de saúde mas, sim, de doença. Perante isso, temos de mudar toda a sua filosofia, acabando com uma visão industrializada da saúde, em que as unidades se transformam em fábricas focadas no número de consultas, cirurgias ou exames", condena Ricardo Baptista Leite.

"Porém, esse volume de atendimentos não significa melhor saúde dos cidadãos e isso tem-se refletido no crescimento da carga da doença, particularmente dos casos crónicos", afirma. "A humanização da saúde é prioritária e vai solidificar a relação entre médico e doente. Isso pode ser feito por um gestor do doente, garantido assistência médica para todos e também a equiparação da dignidade na vida e morte", defende ainda o infeciologista. O surto viral global de COVID-19 foi mais uma acha na fogueira.

"A pandemia apenas colocou uma lupa sobre os problemas, agudizando o que já estava mal", considera o deputado. "Segundo estudos do Instituto Nacional de Estatística sobre o excesso de mortalidade em Portugal, percebemos que, por cada morte por COVID-19, face aos últimos cinco anos, somam-se uma ou duas mortes por outras causas", reitera Ricardo Baptista Leite, que defende novas políticas públicas de saúde. "Sem as reformas necessárias, o Serviço Nacional de Saúde vai tornar-se insustentável", avisa.