Svante Pääbo vence Nobel da Medicina. Especialista em genética evolutiva ajudou a explicar o que nos torna únicos

Este artigo tem mais de um ano
O Prémio Nobel da Medicina de 2022 em Fisiologia ou Medicina foi concedido ao sueco Svante Pääbo “pelas suas descobertas sobre os genomas de hominídeos extintos e a evolução humana”.
Svante Pääbo vence Nobel da Medicina. Especialista em genética evolutiva ajudou a explicar o que nos torna únicos
MIGUEL RIOPA / AFP

O Prémio Nobel de Fisiologia ou Medicina deste ano foi concedido ao cientista sueco Svante Pääbo pelas suas descobertas sobre a evolução humana. Thomas Perlmann, secretário do Comité do Nobel, anunciou o vencedor na segunda-feira no Instituto Karolinska em Estocolmo, Suécia.

"Ao revelar as diferenças genéticas que distinguem todos os seres humanos vivos dos hominídeos extintos, as suas descobertas fornecem a base para explorar o que faz de nós, humanos, seres únicos", afirmou o Comité Nobel.

O paleogeneticista descobriu que uma transferência genética ocorreu entre estes hominíneos agora extintos e Homo Sapiens. Este fluxo antigo de genes para os humanos de hoje tem um impacto fisiológico, por exemplo, afetando a forma como o nosso sistema imunológico reage a infeções.

Pai já tinha ganho Nobel

O seu pai, o bioquímico Sune Karl Bergström, também foi agraciado com o Nobel da Medicina em 1982.

O especialista em genética agora galardoado centrou a sua investigação no genoma do homem de Neandertal. As suas principais realizações enquanto investigador incluem o sequenciamento total do genoma neandertal para revelar a ligação entre pessoas extintas e humanos modernos.

Ele também trouxe à luz a existência de uma espécie humana anteriormente desconhecida chamada denisovanos, a partir de um fragmento de 40.000 anos de um osso de dedo descoberto na Sibéria.

Pääbo liderou ainda investigações que compararam o genoma dos humanos modernos e dos nossos parentes extintos mais próximos, os neandertais e os denisovanos, mostrando que havia uma mistura entre as espécies.

O biólogo sueco é diretor do Departamento de Genética do Max Planck Institute, na Alemanha.

O prémio, indiscutivelmente um dos mais prestigiosos do mundo científico, vale 10 milhões de coroas suecas (cerca de 900 mil euros).

Em 2021, foram distinguidos David Julius e Ardem Patapoutian pela investigação de recetores sensoriais de temperatura e toque no corpo humano.

Thomas Perlmann, secretário do Comité do Nobel
Thomas Perlmann, secretário do Comité do Nobel créditos: EPA/Henrik Montgomery
A temporada de 2022 de anúncio dos prémios Nobel iniciou-se esta segunda-feira, com o de Medicina, e culmina a 07 de outubro com o da Paz, categoria este ano muito aguardada, em tempo de guerra na Europa.

Pelo meio, serão atribuídos os galardões de Física (04 outubro), Química (05 outubro) e Literatura (06 setembro) e, a 10 de outubro, será ainda conhecido o vencedor do prémio Sveriges Riksbank (o banco central sueco) em Ciências Económicas, em memória de Alfred Nobel, o patrono dos prémios, segundo o respetivo ‘site’ da internet.

Todas as categorias serão anunciadas em Estocolmo, exceto o Nobel da Paz que, como habitualmente, será atribuído pelo Comité Nobel Norueguês e terá como cenário o Instituto Nobel Norueguês, em Oslo, na próxima sexta-feira, 07 de outubro.

De acordo com a organização dos galardões, este ano, são 343 os candidatos ao prémio Nobel da Paz, 251 dos quais são pessoas e 92 organizações – um número superior aos 329 candidatos do ano passado e o segundo mais elevado de sempre, pertencendo o recorde aos 376 candidatos nomeados em 2016.

Nos termos do regulamento, uma nomeação ao prémio Nobel da Paz pode ser enviada por qualquer pessoa que cumpra os critérios para o fazer, não sendo necessária uma carta de convite formal para se apresentar uma nomeação.

Além disso, como acontece também nas outras categorias, as identidades de quem nomeia e dos nomeados ao prémio Nobel da Paz só podem ser divulgadas 50 anos após a nomeação, assim como investigações e pareceres relacionados com a atribuição de um prémio.

Os últimos 10 vencedores do Prémio Nobel de Medicina
Os últimos 10 vencedores do Prémio Nobel de Medicina
Ver artigo

De acordo com os estatutos da Fundação Nobel, uma nomeação é considerada válida se for apresentada por uma pessoa que pertença a categorias como membros de assembleias nacionais e Governos nacionais de Estados soberanos, bem como chefes de Estado em exercício.

Podem igualmente enviar nomeações membros do Tribunal Internacional de Justiça e do Tribunal Permanente de Arbitragem, ambos com sede em Haia, nos Países Baixos, além de membros do Instituto de Direito Internacional, uma organização privada belga dedicada ao estudo e desenvolvimento do Direito Internacional, e membros do conselho internacional da Liga Internacional das Mulheres para a Paz e a Liberdade.

“Professores universitários, professores eméritos e professores associados de História, Ciências Sociais, Direito, Filosofia, Teologia e Religião, reitores e diretores de universidades (ou seus equivalentes), diretores de institutos de investigação sobre a paz e sobre a política internacional” e “pessoas que tenham recebido o prémio Nobel da Paz” são outros dos potenciais apresentadores de candidaturas, segundo o regulamento.

Por fim, este estipula ainda que “membros de conselhos de direção ou seus equivalentes de organizações que tenham sido distinguidas” com o galardão poderão também nomear candidatos, bem como atuais e antigos membros do Comité Nobel Norueguês e seus ex-conselheiros.

Depois, cabe ao Comité Nobel Norueguês - constituído por cinco membros nomeados pelo Storting (parlamento norueguês) - fazer a seleção, em várias fases, das candidaturas recebidas em Oslo até à meia-noite de 31 de janeiro, sendo que nomeações enviadas e recebidas após essa data serão consideradas no ano seguinte.

200 nomeações

Nos últimos anos, o Comité recebeu perto de 200 nomeações para diversos candidatos ao Nobel da Paz. O número de cartas contendo nomeações é muito mais elevado do que o número de candidatos, já que muitas são para os mesmos.

Entre fevereiro e março é elaborada uma lista de finalistas, depois de o Comité analisar o trabalho dos candidatos, e entre março e agosto, os conselheiros analisam essa ‘short list’.

Este ano, um dos protagonistas internacionais mais apontados como potencial vencedor do galardão foi o Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, cujo país foi invadido e se encontra em guerra com a Rússia desde 24 de fevereiro. Dado o prazo para o envio de candidaturas terminar a 31 de janeiro, Zelensky não pode ser este ano candidato, apesar de travar há mais de sete meses uma guerra de defesa da integridade territorial do seu país e da sua população civil que o tornou uma figura icónica em matéria de defesa da paz.

O Papa Francisco, o documentarista de História Natural britânico David Attenborough, a Organização Mundial da Saúde (OMS) e a dissidente bielorrussa Svetlana Tsikhanouskaya estarão entre os nomeados para o Nobel da Paz deste ano.

Igualmente entre os candidatos ao galardão apontados pelos ‘media’ internacionais estão a ambientalista Greta Thunberg, o Governo de Unidade Nacional de Myanmar, formado por opositores ao golpe de Estado ocorrido no ano passado, e o ministro dos Negócios Estrangeiros de Tuvalu, Simon Kofe.

Além destes, outra potencial candidata é a organização sem fins lucrativos Campaign for Uyghurs (Campanha pelos Uigures), fundada e dirigida por Rushan Abbas, uma ativista uigur que acusa de genocídio as autoridades da República Popular da China, que desde 2017 capturaram e levaram milhões de membros da minoria muçulmana uigur, que habita a região chinesa de Xinjiang, para campos de concentração situados no deserto, onde são torturados até à morte, porque Pequim quer que o país tenha uma identidade nacional única.

Em outubro, o Comité Nobel Norueguês escolhe o ou os vencedores do Nobel da Paz numa votação por maioria, sendo a decisão final e não passível de recurso. Os nomes dos laureados com o Nobel da Paz são então anunciados. Finalmente, em dezembro, os distinguidos nas várias categorias recebem o galardão.

Cerimónia em Oslo

A cerimónia de entrega do Nobel da Paz realiza-se a 10 de dezembro em Oslo, na Noruega, onde os laureados recebem o prémio, que consiste numa medalha e num diploma, juntamente com um documento que confirma o montante monetário do galardão, que este ano é de 10 milhões de coroas suecas (cerca de 919 mil euros, no câmbio atual) a dividir pelas várias categorias.

Na Noruega, entre 1901 e 1914, a decisão relativa ao prémio da Paz foi anunciada numa reunião do parlamento a 10 de dezembro, após a qual os distinguidos eram informados por escrito.

Entre 1905 e 1946, as cerimónias do prémio Nobel da Paz decorreram no edifício do Instituto Nobel, entre 1947 e 1989, no auditório da Universidade de Oslo e, desde 1990, na Câmara Municipal de Oslo. O Rei da Noruega está presente, mas é o presidente do Comité Nobel que entrega o prémio aos laureados.

Desde 1901, foram atribuídos 102 prémios Nobel da Paz, a 137 laureados, entre os quais 18 mulheres, a mais nova delas a ativista paquistanesa pelos direitos das mulheres Malala Yousafzai, com 17 anos. Com Lusa

Veja ainda: 10 partes do corpo sem as quais podemos viver

Veja também

 

Comentários

Entre com a sua conta do Facebook ou registe-se para ver e comentar