A investigação da Faculdade de Medicina do Porto (FMUP), do CINTESIS – Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde e do Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa (CHTS), a que a Lusa teve hoje acesso, avaliou, pela primeira vez, o uso de eletrochoques em pessoas com doença psiquiátrica internadas em hospitais públicos a nível nacional.

O trabalho concluiu que o tratamento com eletrochoques está a ser subutilizado no nosso país, apesar de ser comprovadamente “rápido, seguro e eficaz” numa série de doenças psiquiátricas.

Segundo o autor do estudo, Manuel Gonçalves-Pinho, médico, investigador e professor da FMUP, “graças à anestesia e aos dispositivos atuais, a eletroconvulsivoterapia sob anestesia é indolor para os doentes e é um dos tratamentos disponíveis mais seguros”.

Neste estudo “inédito”, publicado na revista internacional The Journal of Electroconvulsive Therapy (ECT), foram identificados 674 doentes tratados com eletrochoques, entre 2008 e 2015, nos hospitais públicos portugueses.

Ao todo, foram registadas 879 hospitalizações, a depressão grave (major) foi o diagnóstico principal (19,6%), seguido da doença bipolar.

Quanto à taxa de utilização desta terapêutica em doentes internados, este trabalho indica que foi de apenas 0,71% ao longo de oito anos.

“Esta taxa é relativamente baixa, quando comparamos com outros países europeus. É necessário desmistificar alguns preconceitos, não só na população em geral, mas também dentro da própria comunidade médica”, considera Pedro Mota, também autor do estudo.

Os investigadores referem que “existe um estigma e receio injustificado desta terapêutica motivado pelo desconhecimento em relação à técnica utilizada e pelos relatos históricos desatualizados de que a terapia seria dolorosa e com efeitos adversos significativos”.

O tratamento com eletrochoques consiste em alterações na atividade elétrica no cérebro, sendo realizado sob anestesia geral.

Atualmente está indicado na depressão resistente a antidepressivos, esquizofrenia, doença bipolar, epilepsia, entre outras doenças.

O procedimento requer entre seis a 12 sessões para produzir o efeito terapêutico desejado.

Inserido no projeto “1st.IndiQare”, este trabalho contou com a participação de Manuel Gonçalves-Pinho (FMUP/CINTESIS/CHTS), Pedro Mota, João Pedro Ribeiro e Silvério Macedo (CHTS), Jorge Mota (Sociedade Portuguesa de ECT) e Alberto Freitas (FMUP/CINTESIS).

O “1st.IndiQare” tem financiamento do FEDER – Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional, através do COMPETE 2020 e da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT).