Há expressões que nos soam como música aos ouvidos, entre elas a revelação de um segredo. No caso vertente, a nutricionista Rita Rocha de Macedo propõe-nos desvendar um dos segredos, o do metabolismo e os porquês para este influenciar a dificuldade ou facilidade que cada pessoa tem para engordar ou emagrecer. Para a nutricionista, natural de Cascais, nascida em 1981, o segredo está em saber acelerar o metabolismo.

“Manter uma dieta saudável e equilibrada é o primeiro passo para começar a usar o metabolismo a nosso favor e perder peso”, lemos na introdução ao livro de Rita Rocha de Macedo O Segredo do Metabolismo (edição Planeta), título que surge a par com um compromisso: “emagreça até três quilos (mulheres), quatro quilos (homens), em duas semanas”. Sobre este propósito e meta, conversamos com a nutricionista.

Rita Rocha de Macedo, autora da página de Facebook Dieta da Crise/A Dieta Prática, explica-nos o que é o metabolismo e como pô-lo a trabalhar a nosso favor com o objetivo de perder peso e também mantê-lo. Um caminho que a nutricionista traduz num plano de 14 dias que não esquece as receitas e também um guião para a manutenção do peso, entretanto, atingido. Há que perder peso, mas também saber como mantê-lo. Uma prática que não destitui a “alimentação saudável e regular, mas também a atividade diária, boa qualidade de sono, bem como uma boa gestão do stress”, refere a especialista.

A nutricionista não separa a alimentação saudável do prazer à mesa: “para se perder peso não é preciso só comer à base de cozidos e grelhados”, como também nos ajuda a selecionar alimentos que para além de benéficos para a saúde, são financeiramente acessíveis.

Rita Rocha de Macedo é autora dos livros A Dieta Prática, Mais Receitas da Dieta Prática e A Cozinha das Primas.

“É possível perder peso rapidamente desde que de forma muito estruturada” – nutricionista Rita Rocha de Macedo
créditos: Trang Doan/Pexels

Como subtítulo do seu livro apresenta palavras “mágicas” para muitos leitores, “emagreça em duas semanas”. A Rita não teme que, numa leitura rápida destas palavras, possamos considerar estar perante uma dieta de emagrecimento menos ponderada?

Quero acreditar que o leitor considera o nutricionista um profissional qualificado que baseia o seu trabalho na evidência científica e que se rege pelos mais altos padrões de ética e profissionalismo, pelo que um plano alimentar de duas semanas com o objetivo de fazer emagrecer requer muito trabalho e um profissional não qualificado não o saberá fazer sem pôr em risco a saúde. De referir ainda que este plano foi elaborado para uma altura de pós excessos, pelo que é perfeitamente normal a perda de peso ser maior.

O metabolismo funciona como um sistema integrado entre todos os sistemas do nosso organismo.

No seguimento da pergunta anterior, é possível perder peso rapidamente e de forma irreversível mantendo uma dieta saudável e equilibrada?

É possível perder peso rapidamente desde que de forma muito estruturada e a sua manutenção vai sempre depender dos hábitos que conseguimos manter não só alimentares, mas também de estilo de vida.

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No pico da pandemia muito se falou no facto de estarmos a reencontrar o prazer de cozinhar e ser este um momento para uma mesa mais equilibrada e, com ela, mais saúde. Contudo, tal como lemos no livro, a realidade que a Rita Macedo acompanha, presentemente, em consulta é diferente. Pode descrevê-la?

Foi sem dúvida o reencontrar do prazer de cozinhar, porque na realidade poucos mais havia. Se essa cozinha era saudável, é muito discutível. Acredito que para uns essa tenha sido a realidade, mas para tantos outros, foi o oposto. Não nos podemos esquecer, principalmente para quem tem filhos, que o confinamento nos levou a passar mais tempo na cozinha, passaram-se a fazer mais refeições em casa. Acredito que inicialmente até possa ter dado algum prazer, mas a partir de certa altura este prazer passou. Eu própria me revi nesta realidade. A quantos de nós não nos faltou ideias do que cozinhar e de recorrer a refeições “menos saudáveis” por estarmos fartos?

É comum ouvirmos expressões associadas ao metabolismo como o facto deste ser acelerado ou lento. Seria interessante percebermos do que falamos quando nos referimos ao metabolismo. Pode explicá-lo?

O metabolismo baseia-se num conjunto de reações químicas que ocorrem no organismo, em parte para transformar e utilizar a energia que se obtém através dos alimentos, bem como eliminar os resíduos metabólicos. O metabolismo difere de pessoa para pessoa. Há realmente metabolismos mais lentos e outros um pouco mais acelerados. Essa característica depende fortemente da componente genética e hormonal de cada um, mas a taxa metabólica é influenciada por vários outros fatores, como a idade, a massa muscular, tipo de alimentação, nível de atividade física, entre outros.

Como podemos definir um bom desempenho metabólico?

O metabolismo funciona como um sistema integrado entre todos os sistemas do nosso organismo. Um bom desempenho metabólico acontece quando todos estes sistemas funcionam em harmonia e irá refletir-se num bom estado de saúde.

A perda ou ganho de peso influem no bom desempenho metabólico?

A perda e o ganho de peso podem contribuir positiva ou negativamente para o nosso desempenho metabólico. Uma pessoa que à partida mantenha um peso saudável deverá ter também o seu desempenho metabólico a funcionar em pleno.

A perda e o ganho de peso podem contribuir positiva ou negativamente para o nosso desempenho metabólico.

Há hábitos diários que concorrem para um bom desempenho metabólico?

Claro, não só uma alimentação saudável e regular, mas também a atividade diária, boa qualidade de sono, bem como uma boa gestão do stress, todos contribuem para um bom desempenho metabólico.

Há alimentos que aceleram o metabolismo?

Enquanto nutricionistas não gostamos de nos focar nos alimentos que aceleram o metabolismo pois isto leva a que o consumidor prefira uns alimentos em detrimento de outros e é a alimentação como um todo que vai contribuir para um metabolismo mais eficiente. Existem alguns alimentos que são conhecidos pelas suas propriedades mais estimulantes como o chá verde ou a canela por exemplo, mas atenção, estes alimentos não são milagrosos, se não existirem alterações dos hábitos alimentares e de exercício, de pouco ou nada servem.

A Rita Rocha de Macedo estabeleceu no seu livro um “Plano SOS pós-excessos”. É o mesmo que dizer que se trata de um “plano de choque”? Pode explicá-lo?

O plano foi criado com esse objetivo. Baseia-se em duas semanas de baixo valor calórico, reduzido teor em hidratos de carbono e rico em proteína de alto valor biológico. Segue-se uma terceira semana com maior teor calórico e maior ingestão de hidratos de carbono que serve de transição para a criação de um dia alimentar saudável tendo como base a Dieta Mediterrânica.

Olhando para as muitas receitas que inclui no livro, percebemos que não estamos perante um regime alimentar vegetariano ou vegan. Há carnes, peixes, queijos, inclusivamente métodos de confeção. Quer com isto transmitir a ideia de que perder peso não implica sacrifício à mesa?

Sou apologista de todos os métodos de confeção, exceto a fritura, a não ser que seja pontual e esporádica, lá está, tem de existir um equilíbrio, sempre. No entanto, no livro não existe nenhuma receita que inclua o método da fritura. Não faz qualquer sentido pensar que para perder peso tenha de haver sacrifico à mesa, muito pelo contrário, o objetivo é que a pessoa siga o plano e que não seja um ‘sacrifício’, daí a utilizar vários métodos de confeção no livro. Para se perder peso não é preciso só comer à base de cozidos e grelhados, essa ideia já está mais que ultrapassada. Faz ainda menos sentido pensar que para perder peso tenha de se seguir um regime vegetariano ou vegan. Essa é uma opção do leitor, e nesse caso existem as opções vegetarianas para quem o é.

Sou apologista de todos os métodos de confeção, exceto a fritura, a não ser que seja pontual e esporádica.

Quais são os alimentos que têm de desaparecer da nossa despensa e frigorífico?

Na realidade, se seguirmos o plano como ele está definido não haverá necessidade de evitar nada em concreto, pois o plano define todas as refeições desde o pequeno-almoço ao jantar. Mas de um modo geral ao longo das três semanas recomendamos seguir o plano e não recorrer a outros alimentos como os alimentos e bebidas ricas em açúcar, produtos de pastelaria e alguns de charcutaria e bebidas alcoólicas. O plano está definido de modo a não haver erros e isso inclui uma lista de compras para cada semana com exatamente tudo o que é necessário.

Crendo que o leitor quer continuar a perder peso após as quatro semanas como pode fazê-lo?

O leitor pode sempre optar por repetir o plano, a duração do mesmo dependerá do peso total para perder. Pode também optar por repetir apenas a terceira semana que inclui maior variedade de alimentos se não desejar repetir as primeiras semanas do plano.

Iniciar um plano exige motivação e disciplina, uma dupla nem sempre fácil de alcançar. A Rita deixa-nos alguns conselhos no livro para motivar e, mais tarde, não desistir. Quer enunciar-nos alguns?

Nos meus dois primeiros livros publicados [A Dieta Prática e Mais Receitas da Dieta Prática] refiro o seguinte: o planeamento e a organização são dois conceitos chave para o sucesso da perda de peso, aconselho sempre a que exista uma preparação para a semana, quer seja no planeamento das refeições que se vão fazer, quer seja em termos de compras ou até na preparação de algumas refeições. Planear e identificar obstáculos que possam surgir para os conseguir contornar, perante isto escolher o dia para iniciar a dieta, evitar períodos festivos ou de grande stress laboral para iniciar a dieta, arranjar um parceiro de dieta estão entre os mais importantes para conseguir seguir as três semanas sem falhas. Avisar a família e os amigos para que não haja insistências para determinados consumos também é importante para que não existam deslizes.


Como complemento à entrevista a Rita Rocha de Macedo, quisemos saber o que acontece ao metabolismo após 14 dias.

Ao fim de 14 dias, com a perda de peso e a perda de massa gorda, a par com a reintrodução de outros alimentos e a prática de exercício, o nosso metabolismo deverá atingir o seu pleno e isso significa que será muito mais fácil manter uma taxa metabólica basal mais elevada e consequentemente o peso. O nosso organismo torna-se assim mais eficiente na utilização e gasto de energia. Mas estas transformações só serão possíveis de se manterem a longo prazo se mantivermos os bons hábitos que criámos, como a alimentação regular e saudável, incluindo a ocasional refeição livre e a prática de exercício regular, pois não há bons resultados sem algum esforço e dedicação.