Se há doença que consegue frustrar pais e pediatras na mesma medida é a bronquiolite aguda. Vejamos porquê: os miúdos, chegando ao seu segundo inverno de vida, já todos terão passado por isto. Sim, não me enganei. A broquiolite aguda é uma infeção das pequenas vias aéreas das crianças abaixo dos 2 anos de idade.

É frequentemente ser causada por um vírus, o Vírus Sincicial Respiratório (VSR), que afeta 100% das crianças nos primeiros 2 anos de vida. E, ao contrário de outros vírus, não dá imunidade para o resto da vida, por isso, sim, podem acontecer re-infeções. Para além do VRS, podem causar bronquiolite outros vírus, como a vírus da gripe (influenza), o parainfluenza, o rhinovirus, o adenovírus, o metapneumovírus… A lista é extensa. É possível ter infeções simultâneas por mais do que um vírus e isso tem algum impacto no desenrolar da doença.

Assim, se todas as crianças têm bronquiolite aguda, se é um problema comum, se enche os serviços de urgência pediátrica no inverno, porque é que não há um tratamento evoluído para tratar os miúdos? E não, não há! Justamente porque a bronquiolite pode ser causada por diferentes vírus, não existe uma proposta terapêutica dirigida.

O que temos é tratamento puramente sintomático, ou seja, que pretende apenas ajudar a controlar os sintomas.

Quais são os sintomas de uma bronquiolite aguda?

Inicialmente o bebé, ou a criança um pouco mais crescida, mas com menos de dois anos, começa com obstrução nasal, ranho, espirros e tosse. Assemelha-se muito a uma simples constipação na verdade. No entanto, cerca de 2-3 dias depois destes sintomas começa realmente o quadro de bronquiolite em todo o seu esplendor: há uma tosse com farfalheira, típica, podendo ou não ser acompanhada de pieira – um ruído cantado, prolongado no tempo da expiração que parece um gato a miar.

Neste contexto a criança pode apresentar febre e deixar de comer. É particularmente  importante vigiar se a redução da alimentação tem impacto na quantidade de xixi que o bebé ou criança faz. Se tiver uma fralda seca por mais de 12h00, então temos aqui um sinal de alarme.

Por fim, algumas crianças desenvolvem sinais de falta de ar: respiração rápida, parecendo que está a utilizar a barriga para respirar e fazendo uma espécie de “covinhas” entre a barriga e o tórax, entre as costelas e na base do pescoço.

Quando os miúdos estão mesmo muito aflitos, começam a abrir e fechar as asas do nariz – adejo nasal, balançam a cabeça e apresentam uma espécie de ruído monótono em todas as respirações, uma espécie de suspiro curto. Nós chamamos a este ruído de gemido respiratório, mas é consideravelmente diferente de uma lamúria ou de um choro. Quando a criança apresenta estes sinais, está na hora de rumar ao hospital.

No entanto, apenas 1 a 2% das crianças com bronquiolite aguda são internadas. E são-no porque têm evidente falta de ar ou precisam de oxigénio ou porque não conseguem alimentar-se.

E aqui é que percebemos porque é que os pais e pediatras se sentem tão frustrados: porque na verdade, à parte da lavagem nasal, dos aerossóis ou broncodilatadores em câmara expansora (um dispositivo que permite crianças pequenas fazerem sem dificuldade a “velhinha” bomba dos asmáticos...) temos muito pouco a oferecer. E mesmo estas sugestões terapêuticas estão longe de ser as ideais, porque cientificamente não se comprovou a utilidade de nenhuma delas na redução da duração ou gravidade da bronquiolite.

Ou seja, tratamos a febre porque a criança tem febre e isso gera mal-estar. Usamos anti-piréticos, lavamos o nariz, porque o nariz está efetivamente obstruído e não custa nada fazê-lo. Fazemos aerossóis com broncodilatadores ou aplicamos os broncodilatatadores em câmara expansora, porque a criança tem pieira. Na prática, nenhuma destas ações parece reduzir o tempo de evolução de uma bronquiolite.

Perguntas mais frequentes

1. Quanto dura uma bronquiolite?

Dura aproximadamente 10 a 12 dias. Mas a tosse mantém-se. E é exasperante. E leva pais a questionarem o diagnóstico de bronquiolite, já que por vezes a tosse consegue continuar por um período de 3 a 6 semanas.

2. Não há um antibiótico para isto?

Não, não há! Pode acontecer que no contexto de uma bronquiolite, o bebé/criança possa ter como complicação uma infeção secundária no pulmão ou no ouvido, mas essa não é a regra. E para a bronquiolite simples, a solução é mesmo esperar.

3. E vale a pena fazer corticóide?

Quando estamos na presença de bronquiolites severas ou em crianças que fazem múltiplos episódios de bronquiolite nos primeiros 2 anos de vida, faz algum sentido oferecer corticóides. No primeiro episódio de um bebé, nem por isso.

4. O miúdo tem que fazer ginástica respiratória?

Uma revisão de 2012 que avaliou a intervenção da ginástica respiratória (método de vibração ou percussão ou drenagem postural) concluiu que em nada parece favorecer a evolução clínica das bronquiolites graves que requerem internamento. No entanto é uma prática transversal. Confere algum alívio aos pais ver os miúdos a expelirem imensas secreções e transitoriamente, os miúdos melhoram… Só que a infeção está lá e rapidamente as vias respiratórias ficam novamente cheias de muco.

5. Mas o meu filho pode ter isto mais do que uma vez?

Sim, é verdade. Sabemos que quanto mais pequena for a criança à data do primeiro episódio, se tiver história familiar de patologia respiratória, se tiver sido prematura, maior é o risco de repetir os eventos. A determinado momento na evolução clínica da criança poderá ser necessário medicar para prevenir novas crises. Mas tudo isto com calma e sob orientação do médico assistente.

6. Como prevenir a bronquiolite aguda?

Sendo uma infeção respiratória, o vírus propaga-se com a tosse e espirros. Adicionalmente, como está presente em pequenas gotículas de água que libertamos com a respiração, mantém-se ativo nas superfícies, sobretudo nas nossas mãos. Por isso: espirrar e tossir para o braço ou para um lenço descartável e lavar as mãos com frequência são aspectos decisivos. Para saber a técnica correta de lavagem das mãos, consulte aqui.

Adicionalmente, os bebés prematuros poderão ter indicação para fazer um tratamento específico de proteção contra o VSR.

Por fim, se tem um bebé pequenino, evite sair para ambientes fechados e com muita gente (centros comerciais, por exemplo) e não receba visitas que estejam vagamente com o nariz entupido. Aquilo que num adulto é uma ligeiríssima constipação, para um bebé pode ser algo grave.

As explicações são da médica Joana Martins, especialista em Pediatria.