A psoríase é doença crónica da pele, não contagiosa e auto-imune que pode surgir em qualquer idade.

Em Portugal, afeta cerca de 2 a 3% da população. Mais de 250 mil portugueses têm psoríase

É ainda pouco conhecida do público em geral, que frequentemente lhe atribui conotações negativas e a confunde com doenças contagiosas.

A psoríase não é entendida como sendo uma doença de pele porque atinge o organismo como um todo, com inflamação generalizada, envolvendo os equilíbrios metabólicos e oxidativos do organismo e repercutindo-se em vários órgãos e aparelhos, nomeadamente a pele, que é o maior órgão humano, as articulações, o sistema cardiovascular e/ou o fígado, entre outros.

É nesta perspetiva, de doença sistémica, que se fala em comorbidades associadas, nomeadamente diabetes, obesidade, aumento dos níveis sanguíneos de colesterol e triglicerídeos, hipertensão arterial, angina de peito e enfarte agudo do miocárdio, acidentes vasculares cerebrais, fígado gordo, artrite, depressão e determinados tipos de tumores. O atingimento das unhas (picotado, espessamento, alteração da tonalidade e/ou descolamento) é, normalmente, preditor de doença articular-psoríase artropática.

Daqui resulta que a estratégia terapêutica tenha que ser definida de acordo com a gravidade da doença, o impacto na qualidade de vida e as especificidades de cada individuo. As lesões no couro cabeludo, na face, nas mãos, nas unhas e/ou nos genitais, por exemplo, apesar de não ocuparem áreas muito extensas da superfície corporal, são muito estigmatizantes e fonte de angústia na maioria dos doentes, condicionando sobremaneira a imagem, a auto-estima e o bem-estar social, relacional e, nalguns casos, profissional, dos doentes.

O estigma e a vergonha

«Sentimos muito mas não contagiamos. Contagioso é o preconceito» é o lema da PSOPortugal, Associação Portuguesa da Psoríase e é nesta perspetiva que aconselhamos os doentes a terem uma atitude pró-ativa, falando sobre a sua doença e mostrando auto-confiança. A doença pode afetar homens e mulheres e em qualquer idade, embora a medicina já tenha identificado duas fases especialmente críticas, sobretudo o início da fase adulta e após os 40 anos de idade.

Além disso, surge com mais frequência nos países de clima frio que nos quentes. A falta da luz do sol e o aumento da secura da pele por causa do frio e dos aquecimentos são considerados factores de risco. Contudo, estamos a falar de uma doença crónica, recorrente, inestética e estigmatizante, com forte impacto psicológico e social, que tende a condicionar relações familiares, sociais e profissionais.

É preciso ter presente que não tratamos apenas a psoríase mas, sim, doentes com a doença, seres complexos e multisistémicos.

Na mulher, todos estes factores parecem assumir maior relevo, nomeadamente se ocorrer envolvimento da face, do couro cabeludo, das mãos, das unhas e/ou dos órgãos genitais.

As doentes têm ainda de lutar contra o custo elevado dos produtos de higiene e hidratação da pele, bem como dos champôs recomendados pelo seu dermatologista.

Inovações terapêuticas

Cerca de um terço, pelo menos, dos doentes de psoríase tem envolvimento sistémico, nomeadamente a nível articular, com quadro cutâneo moderado a grave. Nestes casos os tratamentos tópicos, além de ineficazes, são insuficientes. Devemos ter em conta que estes doentes, sub-tratados, se revelam insatisfeitos com a abordagem médica, com prejuízos decorrentes na adesão às terapêuticas e nos índices de qualidade de vida.

Impõe-se uma mudança na estratégia, necessariamente concordante com a nova perspectiva e o novo paradigma conceptual da doença e comorbidades associadas. Quanto mais precoce e selectiva for a abordagem terapêutica, melhor a resposta dos doentes. Existem contudo algumas dificuldades a transpor.

A variabilidade individual nas respostas a um mesmo agente terapêutico, decorrente dos diferentes perfis
fármaco-genéticos, a par da necessidade de aferição da evolução silenciosa da própria doença nos períodos assintomáticos (importância dos bio-marcadores, no futuro próximo), são exemplos a reter. Deverão ser definidas metas de tratamento ou objectivos mínimos a alcançar, de forma a melhor manejarmos o arsenal terapêutico disponível.

Por vezes é imperioso começar logo com terapêuticas sistémicas padrão e eventualmente recorrer aos biotecnológicos, visando um melhor controlo das co-morbilidades a médio e longo prazo. Não esqueçamos que estamos perante uma doença crónica, auto-imune, sistémica.

Vários estudos de fármaco-economia parecem comprovar a efectividade e os benefícios deste novo paradigma interventivo. O êxito resultará da melhor e mais adequada simbiose entre os dados da evidência acumulada, da experiência médica, e da relação médico-doente, assegurando a especificidade individual (medicina personalizada).

Controlar a psoríase

Em pleno verão, é importante saber que o sol induz melhoria das lesões e até mesmo a regressão da doença, por acção imunomoduladora, pelo que faz bem ir à praia, sem esquecer os horários adequados e restantes medidas de proteção solar.

Aconselha-se um estilo de vida saudável, procurando evitar o stress, alternando períodos de repouso e lazer, dormir bem e usar roupa confortável.

Devem ser evitadas as gorduras saturadas e as bebidas alcoólicas.

As dietas devem ser enriquecidas e reforçadas com óleos de peixe, vitaminas e antioxidantes, nomeadamente frutas e vegetais. Sugerimos atitude determinada e interventiva aquando da consulta de dermatologia. Os doentes devem questionar sobre o regime dietético, o tipo de vestuário adequado, a frequência de piscinas/ginásios, o tipo de produtos cosméticos recomendados, eventual tratamento hormonal (de compensação), visando um estilo de vida saudável e procurando aumentar a autoestima e combater a insegurança e o preconceito.

Nesta perspetiva saliento a importância de ações de formação levadas a cabo pela PSOPortugal em escolas secundárias, pois em cerca de 20 por cento dos casos a doença aparece antes dos 16 anos de idade, daí a importância da vigilância e da prevenção desde essa idade. Em caso de dúvida, informe-se com o seu dermatologista ou em visite o site www.psoportugal.com.

Texto: Paulo Ferreira (dermatologista do Hospitalcuf Descobertas e colaborador da PSOPortugal)