O ano de 2020 foi um ano conturbado para todos nós. Marcado por uma pandemia mundial, enfrentamos de perto não só o vírus da COVID-19, até então desconhecido, com todas as consequências para a saúde que dele advêm, como também uma crise sócioeconómica decorrente desta pandemia e que alterarou por completo a vida de muitos de nós.

E a nossa saúde? Será que cuidamos dela no último ano? Evitamos a ida ao nosso Médico de Família porque tínhamos medo? Então bem, está na hora de cuidar de si!

A Medicina Geral e Familiar é o pilar dos cuidados de saúde

É uma especialidade de proximidade e da continuidade de cuidados. Assume um papel privilegiado de provedoria do doente e da sua família, não só pela abordagem holística e a humanização dos cuidados que presta, como também pelo seu papel de coordenadora de recursos de saúde, trabalhando em sinergia com outras especialidades, no melhor interesse do doente.

É portanto, o seu Médico de Família o gestor da sua saúde, e, é com ele que pode contar para manter o seu bem-estar físico e psíquico, prevenindo e também tratando todos os problemas de saúde que possam surgir e deste modo viver na plenitude das suas faculdades.

Esta é a altura certa para voltar às rotinas de saúde

Pode fazê-lo em segurança, seja no hospital, clínica ou centro de Saúde. Há vários assuntos para os quais deve estar alerta e conversar com o seu Médico de Família.

  • Consulta Pós Covid

A recuperação após COVID-19 é variável, ocorrendo por norma até às seis semanas. É assim após esta data que deve ser agendada uma consulta de reavaliação, com o seu Médico de Família, onde será realizada uma avaliação global do seu estado de saúde. Os exames complementares a serem pedidos dependerão dos sintomas apresentados por cada doente.

  • Rastreios

Já antes da pandemia nos preocupávamos com a prevenção e os rastreios são por excelência a nossa melhor arma para evitar o desenvolvimento de várias doenças, onde se destacam as neoplasias, entre elas o cancro colo-rectal, o cancro da mama e o cancro do colo do útero.

Infelizmente são muitos os doentes, nesta fase, em que fazemos diagnósticos de novo de neoplasias; dou o exemplo de uma doente de 55 anos observada em consulta há um ano e meio. Deveria ter repetido o exame mamário passados 3 meses, mas com a pandemia não o fez... Procurou-me há dois meses e entretanto já iniciou quimioterapia por um cancro da mama.

É na prevenção que podemos fazer a diferença e é por isso tão importante fazer os rastreios preconizados pela Direcção Geral de Saúde!

  • Promoção do exercício físico e alimentação saudável

Durante a pandemia muitos de nós passaram a ter o teletrabalho nas suas rotinas diárias. Os ginásios também foram obrigados a fechar. Com tudo isto o sedentarismo aumentou e são vários os utentes que nos chegam à consulta a referir maior cansaço, diminuição da tolerância ao esforço e aumento do peso.

Portanto esta é a altura de voltar a cuidar de si! Mantenha os cuidados alimentares e acima de tudo procure exercitar o seu corpo. Para os que gostam menos de ginásio, a prática de exercício ao ar livre é também uma óptima alternativa, principalmente nesta altura do ano em que os dias  são mais longos e o sol começa a espreitar. Convença um familiar ou um amigo a iniciar caminhada. Vai com certeza sentir-se melhor e a sua saúde agradece.

  • Saúde Mental

Os resultados do estudo “Saúde Mental em Tempos de Pandemia (SM-COVID19)” indicam que cerca de 25% dos participantes apresentam sintomas moderados a graves de ansiedade, depressão e stress pós-traumático. Estes resultados estão em linha com outros estudos a nível mundial, confirmando que as alterações profundas provocadas pela COVID-19 no quotidiano das pessoas tiveram impactos na sua saúde mental e bem-estar.

Esta pandemia trouxe consigo não só uma crise sanitária mas também uma crise económica e social. Muitos de nós perderam o seu emprego ou viram os seus rendimentos diminuir. As rotinas foram também alteradas: o teletrabalho, as crianças em casa... e foi preciso uma enorme resiliência para superar todos estes desafios. Contudo as preocupações mantêm-se… a crise ainda não acabou e é, por isso, tão importante estar alerta para sintomas de ansiedade, depressão, stress pós-traumático e burnout.  Procure o seu Médico de Família, o seu psicólogo ou até mesmo um psiquiatra. Não se iniba de pedir ajuda.

Um artigo da médica Vanessa Mendes, especialista em Medicina Geral e Familiar na Unidade da Família da Clínica CUF Alvalade.